domingo, 27 de fevereiro de 2011

Líbia: EUA estão preparados para fornecer "qualquer tipo de ajuda" à oposição

Os Estados Unidos afirmaram neste domingo que estão preparados para fornecer "qualquer tipo de ajuda" à oposição ao regime do líder líbio, Muammar Kadhafi, após o Conselho de Segurança da ONU aprovar uma série de sanções contra Trípoli.



Está mais do que na cara que, se Kadafi cair, o regime seguinte não será mais progressista que o anterior, para não falar outra coisa.

"qualquer tipo de ajuda" pode ser desde dinheiro, passando por armas químicas e biológicas até intervenção militar.
Quem é o estado genocida?

sábado, 26 de fevereiro de 2011

EUA já iniciam intervenção velada na Líbia

Alguém viu tanta fúria na diplomacia do governo dos EUA ou na imprensa corporativa em relação ao governo pró-americano do Egito quando este massacrava o seu povo?
Tudo pode acontecer na Líbia.
O certo é que, em caso de queda de Kadafi, os EUA farão de tudo para impedir a ascenção de um governo anti-imperialista ou pró-palestino.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Venezuela critica 'dupla moral' da comunidade internacional na crise da Líbia

Em discurso na Assembleia Nacional nesta quinta-feira (24/02), o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, alertou para a "dupla moral" com a qual países da comunidade internacional vêm tratando o conflito em curso na Líbia, dizendo haver o risco de uma "guerra civil" entre os líbios. Por sua vez, o presidente Hugo Chávez, por meio de sua conta no Twitter, corroborou as palavras de Maduro, também chamando atenção para o risco de um conflito interno no país africano. 

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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Embaixador líbio no Brasil se mantém fiel ao seu governo



A Embaixada da Líbia no Brasil funciona normalmente, sem alterações de rotina nem orientações. Em Brasília há quase quatro anos, o embaixador líbio, Salem Ezubedi, manteve inalteradas suas atividades sinalizando fidelidade ao governo do presidente Muammar Khadafi, apesar da pressão internacional.


Com informações de JB

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fidel alerta que EUA ordenarão a invasão da Líbia pela Otan

O líder cubano Fidel Castro advertiu nesta terça-feira que os Estados Unidos não hesitarão em ordenar que a Otan invada a Líbia para controlar o petróleo e colocou em dúvida a veracidade das informações que descrevem uma sangrenta repressão ordenada pelo governo de Muamar Kadhafi.
"Para mim é claramente evidente que o governo dos Estados Unidos não se preocupa em absoluto com a paz na Líbia, e não vacilará em dar à Otan a ordem de invadir este rico país, talvez em questão de horas ou em alguns dias", escreveu o líder cubano em mais um artigo de opinião.
Fidel diz ainda que é preciso esperar para saber "o quanto há de verdade ou mentira" nas informações sobre os acontecimentos na Líbia, onde, segundo as ONGs, entre 200 e 400 pessoas teriam morrido nos últimos dias nas repressão do regime Kadhafi.
"Pode-se estar ou não de acordo com Gaddafi (Kadhafi). O mundo foi invadido por todo tipo de notícias, empregando especialmente meios de informação em massa. Mas é preciso esperar o tempo necessário para conhecer com rigor quanto há de verdade ou mentira, ou uma mistura de fatos de todos os tipos que, em meio ao caos, são produzidos na Líbia".
Fidel classificou ainda de "mentira com pérfidas intenções" a versão que circulou sobre uma possível fuga de Kadhafi para a Venezuela, cujo presidente, Hugo Chávez, mantém relações com a Líbia.

Retirado de France Presse

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

“Os Estados Unidos nos devem resposta", exige governo argentino

“Os Estados Unidos nos devem uma resposta”. Com essas palavras, o chanceler Héctor Timerman anunciou o envio a Washington de uma nota de protesto formal pelo material bélico que militares desse país tentaram ingressar sem autorização na Argentina, como antecipou o jornal Página 12. Assim levantou-se a bandeira na disputa bilateral que se desatou por meio do seqüestro do “material sensível” não declarado no vôo da Força Aérea que chegou quinta-feira passada a Buenos Aires com elementos para um curso que seria dado aos membros da Polícia Federal: “Queremos que Estados Unidos cumpram as leis argentinas”, completou

“Quase um terço da carga não figurava na lista de boa fé” que havia sido entregue à embaixada, detalhou Timerman, que também esclareceu que “tudo o que estava na lista tinha sido autorizado” a ingressar no país, no entanto foram retidas drogas, psicotrópicos, elementos para interceptar comunicações, equipamentos de GPS e manuais de operação em distintos idiomas, que não figuravam no manifesto. Apesar dos reiterados pedidos do Departamento de Estado este material não será devolvido até que “as autoridades argentinas que investigam este caso não necessitem mais”, sustentou o chanceler, que voltou a pedir aos estadunidenses “colaboração” para esclarecer o episódio o mais breve possível.

“O Governo da República Argentina expressa seu mais enérgico protesto frente à situação que se colocou com a verificação da carga”, sustentou a carta formal que a Chancelaria enviou na segunda-feira à noite. “Até o momento – continua -, nem a embaixada nem o governo dos Estado Unidos da América pronunciaram explicações satisfatórias que esclareçam a presença do material não declarado no carregamento que chegou ao Aeroporto de Ezeiza (internacional de Buenos Aires), assim como tão pouco o uso que se pretendia dar uma vez ingressado no país”. O comunicado também “lamenta” as “imprecisões e omissões" na informação proporcionada pelas autoridades estadunidenses sobre o tema, que foi repetida sem correções por vários meios locais durante o dia de ontem e reitera o convite à embaixada a que colabore com a investigação “a fim de esclarecer” o episódio.

“Temos toda a disposição de poder seguir colaborando em forma respeitosa em um tema que é tão importante para todos como é a insegurança cidadã", havia assegurado algumas horas antes o subscretário de Estado Adjunto para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela. Ainda - segundo Timerman - Washington "em nenhum momento" pediu desculpas nem aceitou formar parte da investigação. "Não nos deram nenhuma explicação - acrescentou -, nos devem uma resposta". Também que a Argentina não está acusando o governo dos Estados Unidos pelo epsódio: "Quiçá não sabiam", sugeriu o ministro das Relações Exteriores, que sustentou a melhor forma que tem de corroborar sua inocência proporcionando sua ajuda na investigação.

Por outra parte, Valenzuela acrescentou que o governo dos Estado Unidos "espera a devolução imediata" do material sequestrado, e o chanceler argentino descartou esta possibilidade, fundamentando que "o mais correto é que esse material seja retido pela Justiça e pela Alfândega, que é o que faria qualquer país normal preocupado com a sua segurança". O chanceler insistiu que "as leis estão para que todos cumpram" e que os Estados Unidos não estão excluídos dessa norma por serem "um país maior ou poderoso" que outros. "Quando as autoridades argentinas que têm competência não os necessitarem mais para investigação, se o solicitam serão devolvidos" os materiais.

Segundo detalhou a Chancelaria, na quinta-feira passada, depois da chegada da aeronave estadunidense "ocorreram controles que, tanto na Argentina como nos Estados Unidos da América, são normais e de rotina para um carregamento com estas características" no qual descobriram o equivalente a uma habitação de três metros quadrados) de material que não constava na lista. "Estamos muito preocupados com a segurança na Argentina", assegurou o ministro, que lembrou os dois atentados sofridos por este país na década de 90 como justificativa para intensificar medidas em relação ao ingresso de elementos "sensíveis" que podem ser utilizados para atacar a população civil.

Entre o material apreendido há "armamentos, drogas psicotrópicas, assim como vários elementos de armazenamento de dados rotulados como secretos, instrumentos para o controle de comunicações e emissões de sinais e manuais operativos", além de "um baú com medicamentos vencidos". Timerman declarou que "tudo que estava incluído na lista foi autorizado" a entrar no país, incluindo uma quantidade importante de munições de chumbo para armas de guerra e "o que não entrou" - concluiu - "é porque não estava na lista".

Em Washington reclamaram que, diante de um episódio semelhante que ocorreu em agosto do ano passado, foi permitido o regresso do avião com todo o material que continha. "Da outra vez não passou pela intervenção da embaixada", que pediu que o avião regressasse sem descarregar seu conteúdo que, segundo explicou o ministro, "não coincidia em nada com o documento previamente declarado".

Questionados, funcionários do governo argentino concordaram que não há uma intenção política nem militar por trás deste episódio. Na Casa Rosada, sustentam, mais do que a tentativa de entrar com estes elementos o que incomodou foi Washington ter respondido com mentiras que deixam o país mal "para justificar sua gafe". De todas as formas, tanto Valenzuela como Timerman declararam várias vezes que "a relação bilateral é boa" e que não está em risco por causa deste fato.


Original em Brasil de Fato

Argentina intercepta avião militar dos EUA com armas e drogas

Avião militar estadunidense tentou entrar com carregamento não declarado


Horacio Verbitsky


O governo da Argentina impediu a entrada de uma "carga sensível" secreta que chegou ao aeroporto internacional de Buenos Aires, em um voo da Força Aérea dos Estados Unidos e sobre cujo emprego não foram oferecidas explicações satisfatórias. A expressão "carga sensível" foi utilizada na segunda-feira passada pela Conselheira de Assuntos Administrativos Dorothy Sarro ao solicitar autorização para que um caminhão com reboque pudesse ingressar na plataforma de operações. O enorme C17, um cargueiro Boeing Globmaster III, maior do que os conhecidos Hércules, chegou na tarde de quinta-feira com um arsenal de armas poderosas para um curso sobre manejo de crise e tomada de reféns oferecido pelo governo dos Estados Unidos ao Grupo Especial de Operações da Polícia Federal (GEOF), que deveria acontecer durante fevereiro e março.
O governo estima que o custo total do transporte e do curso giram em torno de dois milhões de dólares. O curso estava autorizado pelo governo argentino, mas quando a equipe verificou o conteúdo da carga com a lista entregue de antemão, apareceram canhões de metralhadoras, uma carabina e uma estranha mala que não haviam sido incluídas nas declarações. Embora o curso seja destinado às forças policiais argentinas, a carga chegou em um transporte militar e, no aeroporto, foi recebida por funcionários militares e de defesa, os coroneis estadunidenses Edwin Passmore e Mark Alcott. Todas as caixas tinham o selo da 7ª Brigada de Paraquedistas do Exército com sede na Carolina do Norte. Tentaram passar de forma clandestina mil pés cúbicos, equivalentes a um terço da carga que chegou no avião, depois de fazer escalas no Panamá e em Lima.

Doze especialistas militares
A nota que a embaixadora Vilma Martínez enviou em novembro ao ministro de Justiça Julio Alak, que até então também era responsável pela segurança, recordava que a primeira fase do treinamento ao GEOF para o resgate de reféns havia sido realizado em abril, "por meio do qual nos foi solicitado realizar outro mais avançado". Em outra nota, enviada em 21 de dezembro à ministra de Segurança Nilda Goré, que havia assumido o cargo cinco dias antes, Vilma Martínez informou que Alak havia aprovado a realização do curso e que, para ministrá-lo, chegariam doze "especialistas militares estadunidenses". Cursos semelhantes foram realizados entre 1997 e 1999, na presidência de Carlos Menem, e 2002, durante os meses em que o ex-senador Eduardo Duhalde cumpriu um período interino no Poder Executivo. O curso não aconteceu durante o governo de Néstor Kirchner e foram retomados em 2009, com o atual governo. O novo curso, de cinco semanas, estava programado para agosto de 2010, mas teve que ser adiado por um episódio semelhante. Naquele momento foi a embaixadora Vilma Martínez que se negou a receber a carga porque a numeração das armas não coincidia com a da lista prévia, o que mostra os conflitos que essa prática produz dentro do próprio governo estadunidense. "Isso é uma vergonha", disse então Martínez, antes de devolver a carga à Carolina do Norte. Por ordem da presidente Cristina Kirchner, funcionários da Chancelaria e dos Ministérios de Planejamento Geral e da Segurança, da AFIP e da Aduana supervisionaram o procedimento. Logo se uniram técnicos dos ministérios de Saúde e do Interior.

Os meninos da maleta
Em seu livro já clássico "A missão. Promovendo a guerra e Mantendo a Paz com os Militares da América" (The Mission. Waging War and Keeping Peace with America’s Military), publicado em 2003, a jornalista do jornal The Washington Post Dana Priest descreveu a dramática primazia do Pentágono na formulação e execução da política externa estadunidense. Com mais de mil pessoas, o Comando Sul supera a quantidade de especialistas na América Latina das secretarias de Estado, Defesa, Agricultura, Comércio e do Tesouro juntas. Esse desequilíbrio não parou de crescer, e os Estados Unidos tentam exportá-lo a países sob sua influência, que são quase todos. Quando anoiteceu na quinta-feira, Cristina Kichner ordenou selar a mala e retomar a tarefa no dia seguinte, para o qual determinou que a Chancelaria e o Ministério do Interior enviassem uma equipe técnica capacitada para entender do que se tratava. Durante seis horas na sexta-feira, vários marinheiros dos Estados Unidos se sentaram em círculo sobre a maleta, o que sugere a importância que atribuíam a seu conteúdo. Segundo os estadunidenses, trata-se de um software e de material sensível para segurança. Um coronel disse que o conteúdo da mala não poderia ser revelado a céu aberto porque poderia revelar segredos aos satélites que sobrevoavam naquele momento. O avião também continha uma carga com propaganda para ser entregue aos policiais argentinos, que incluía chapéus, coletes e outros presentes. O chanceler Héctor Timermam permaneceu quase todo o dia no aeroporto, junto com o secretário de Transporte Juan Pablo Schiavi, em cumprimento às instruções presidenciais, junto com a equipe de Polícia de Segurança Aeroportuária, da Aduana, da AFIP e com os principais diretores dos setores de Informática, Tecnologia, Segurança e Sistemas do Ministério do Interior. Também intervieram duas inspetoras do Instituto Nacional de Medicamentos (Iname) e da Administração Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica (Anmat).
O juiz penal econômico Ezequiel Berón de Estrada interveio. A embaixada retirou do aeroporto sua equipe hierárquica e se negou a consentir a abertura da mala. Depois de um dia completo de puxões e empurrões, Timerman informou que usaria sua autoridade legal para abri-la. Ele estava acompanhado da gestora principal Patricia Adrianma Rodríguez Muiños, da seção de Importações da Polícia Federal, a quem estava dirigida a carga. Ao comprovar a decisão oficial de prosseguir, e vencido o prazo final de uma hora fixado por Timerman, a embaixada pediu dez minutos de prorrogação até a chegada da chefe de imprensa, Shannon Bell Farrell, ao aeroporto. Tanto ela como o funcionário Stephen Knute Kleppe disseram que não tinham a chave do cadeado. Timerman decidiu que a Aduana abriria o cadeado com um alicate. Quando isso aconteceu, na tarde de sexta-feira, apareceram equipamentos de trasmissão, mochilas militares, medicamentos que, segundo os funcionários, estavam vencidos, pendrives, cujo conteúdo será analisado por especialistas, entorpecentes e drogas estimulantes do sistema nervoso. Entre o material havia três aparelhos para interceptar comunicações. Dentro da maleta também apareceu um envelope supersecreto de pano verde. Como a equipe da embaixada disse que não tinha sua chave, também foi aberto por meios investigativos.
Em seu interior havia dois pendrives rotulados como "secretos", uma chave I2 de software para informação; um disco rígido também marcado como "secreto". Códigos de comunicações encriptados e um folheto traduzido em quinze idiomas, com o texto: "Sou um soldado dos Estados Unidos. Por favor, informe a minha embaixada que fui preso pelo país". Nenhum desses materiais coincide com as especificações que a embaixada enviou à Chancelaria sobre a índole do curso que devia ser ministrado para o resgate de reféns. Depois de presenciar essas descobertas, os funcionários da embaixada decidiram se retirar, apesar do pedido oficial para que continuassem ali, e não assinaram a ata. Na quinta-feira o coronel Alcott disse que não sabia que algo assim houvesse acontecido em nenhum lugar do mundo. As armas e a mala não declarada foram recolhidas e a verificação de seu conteúdo continuou. Por exemplo, os antibióticos, anti-histamínicos, complexos vitamínicos, protetores solares e hormônios encontrados estariam vencidos, segundo suas embalagens. No entanto, o governo quer verificar se tratam-se dos medicamentos identificados nas embalagens e se estão mesmo vencidos. O restante do material, que coincidia com a declaração prévia, foi transportada em um frete da embaixada até a sede da Polícia Montada na rua Cavia. Fontes da embaixada informaram que, em Washington, estava sendo preparado um documento com a posição oficial e que acreditavam que o treinamento seria suspenso. O Departamento de Estado citou o embaixador argentino Alfredo Chiaradía e expressou sua "surpresa" pelo procedimento já que "os Estados Unidos desejam manter relações amistosas com a Argentina". Curiosa forma de conseguir isso. Qualquer argentino, civil ou militar, que tentar entrar com armas ou drogas não declaradas nos Estados Unidos iria preso imediatamente.

Original em Brasil de Fato

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pombo: um guerrilheiro revolucionário que lutou com Che na Bolívia


Harry Villegas Tamayo conheceu Che aos 16 anos, na Sierra Maestra, em 1957. Com o triunfo da revolução cubana, em 1959, tornou-se um dos guarda-costas mais constantes do comandante. Em 1963, quando Che convocou ex-combatentes para uma guerrilha na Argentina, Villegas se ofereceu, mas foi recusado - por ser negro, sua presença levantaria suspeitas na Argentina.

Em 1965, quando estava no Congo Belga (ex-Zaire e, depois de 1997, República Democrática do Congo), Che pediu a Fidel que mandasse Villegas ao continente africano. Nessa época Che escolheu para ele o codinome Pombo. Depois de sete meses, os cubanos se retiraram sem conseguir massificar o movimento guerrilheiro. Che (agora sob o codinome Tatu) foi à Tanzânia e Pombo o acompanhou a Praga, antes de voltarem a Cuba. No dia 4 de novembro de 1966, Che chegou à Bolívia, na região de Ñancahuazú. Pombo tinha chegado antes, tendo passado pelo Brasil para entrar no país, com o intuito de levantar as características do local. Onze meses depois, no dia 8 de outubro, Che caiu prisioneiro do Exército boliviano, com a ajuda dos Estados Unidos. Foi assassinado no dia seguinte.



Pombo e mais cinco guerrilheiros (Ñato, Inti, Dario, Urbano e Benigno) conseguiram fugir e, durante seis meses - menos Ñato, que morreu no meio do caminho - percorrem mais de 600 quilômetros clandestinamente até cruzar a fronteira com o Chile. Desses sobreviventes, além de Pombo, outros dois combatentes ainda estão vivos: Urbano, que mora em Havana, e Benigno, que está em Paris, desde 1995. Dario morreu em 1968, mesmo ano em que Inti foi assassinado, numa tentativa de reorganizar a guerrilha na Bolívia.

A partir de 1976, Pombo ainda esteve à frente das tropas cubanas enviadas a Angola para lutar ao lado do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), contra a Unita e a FNLA, sustentadas pelo regime de apartheid da África do Sul, e pelos Estados Unidos, respectivamente.

Pombo hoje é general de Brigada das Forças Armadas Revolucionárias, vice-presidente da Associação de Combatentes da Revolução Cubana, membro do Comitê Central do Partido Comunista Cubano, deputado na Assembléia Nacional e um dos raros condecorados com a honra de "Herói da República de Cuba".



Aos 65 anos, Pombo é o único guerrilheiro vivo que lutou com Che Guevara nas montanhas da Sierra Maestra, no Congo e na Bolívia. Foram dez anos de convivência com o comandante, até a sua morte, em 1967.

Na semana passada, ele esteve no Brasil para participar da conferência internacional "Pensamento e Movimentos Sociais na América Latina e Caribe: Imperialismo e Resistências", promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Via Campesina. Não foi a primeira vez que ele pisou em solo brasileiro. Em 1966, quando a guerrilha de Che se instalou na Bolívia, Pombo passou por São Paulo e por Campo Grande (MS) como estratégia para sua entrada no país vizinho sem chamar atenção.

Em entrevista ao jornal Brasil de Fato, Pombo explica que o desfecho trágico da guerrilha na Bolívia, quando Che foi assassinado, teve origem na "traição" do Partido Comunista Boliviano e na decisão de Che de não abandonar uma coluna de guerrilheiros que havia se perdido do seu grupo. Ao comentar a situação da América Latina, Pombo diz que a Venezuela é a esperança do povo do continente e do Terceiro Mundo.

De onde vem o codinome Pombo? Sabe-se que, no Congo, Che usou números na língua local para renomear os guerrilheiros. Em Swahili - uma das línguas mais faladas na África - , Che passou a se chamar Tatu (que significa três), José Maria Tamayo tornou-se Mbili (dois) e Victor Dreke, Moja (um).

Harry Villegas Tamayo "Pombo" - Eu não estava entre os primeiros que foram para o Congo, e que receberam codinomes de números. Eu estava no Exército Ocidental quando o presidente Fidel Castro me disse que Che havia mandado me chamar na África. Só que, com o aumento do número de guerrilheiros, era complicado continuar dando nomes referentes a números porque ficavam muitos compridos. Che decidiu, então, procurar nomes em um dicionário. Escolheu para mim o nome Pombo Poljo, que significa néctar verde. Da mesma forma, escolheu Tumaini Tuma para nomear Carlos Coelho.

Antes do Congo, o senhor havia se oferecido para ir junto com um grupo de guerrilheiros à Argentina, mas Che não quis. Como foi a sua reação?

Pombo - No momento da saída do grupo, eu não entendi. Só depois percebi que, por ser negro, seria muito difícil me camuflar entre os argentinos. Então Che disse que eu não iria enquanto a guerrilha não adquirisse uma determinada força e até que ele próprio também já tivesse ido. Hermes Peña e Alberto Castellano foram se juntar a Jorge Massetti (jornalista argentino que entrevistou Che e Fidel, em 1958, na Sierra Maestra, e comandou a primeira guerrilha guevarista na Argentina, em 1963).

Como foi o seu primeiro contato com Che?

Pombo - Era 1957, eu tinha 16 anos e já participava de uma célula no meu povoado, ao pé da Sierra Maestra. Pichávamos paredes com propaganda do Movimento Revolucionário 26 de Julho, fazíamos ações contra as redes de eletricidade e a todo instante íamos presos. Como estávamos coladinhos à Sierra, resolvemos subi-la. Foi quando entramos em contato com um pelotão da coluna de Che. Pediram para que esperássemos porque Che estava percorrendo outros pelotões. Quando ele chegou, sua figura me impressionou: era esbelto, mas usava uma boina esfarrapada e desengonçada. Ele perguntou o que fazíamos ali. Respondemos que tínhamos ido lutar contra a tirania batistiana (de Fulgêncio Batista, ditador apoiado pelos Estados Unidos). Ele retrucou: "Com o quê?" Mostrei um pequeno fuzil 22 e ele começou a rir e disse: "Você acha que com isso vai derrubar Batista? Desce a montanha, se esconde atrás de um arbusto, dá uma gravata num dos soldados que estão aos montes por aí e lhe tire o fuzil". Eu pensei que fosse fácil. Voltei para o meu povoado, onde havia muitos chivatos (informantes do Exército), mas me denunciaram. Consegui escapar do cerco e troquei minha arma por uma escopeta calibre 12. Não era o que Che havia pedido, os soldados nem usavam escopetas. Mas, ao voltar, Che me disse que o importante não era a arma, mas a minha decisão de lutar contra a tirania.

A certeza de vencer era muito forte na Sierra Maestra?

Pombo - A certeza sempre nos acompanhou. Uma coisa que tem Fidel, tinha Che, e é própria de todo revolucionário, é a confiança na vitória, nas massas. Por isso Fidel disse que com cinco fuzis e sete pessoas a revolução estava feita (ao sobreviver com poucos homens após o desastroso desembarque do Granma, onde sobraram, ao todo, 12 homens dos 82 iniciais). Porém, quando seria a vitória, ninguém sabia. Che pensava que fosse demorar mais.

Existiam outros estrangeiros na Sierra, além de Che?

Pombo - Sim. Um mexicano, um francês e, entre os vários estadunidenses, até um sargento veterano da Guerra da Córeia (1950-1953), que foi instrutor e chefe da vanguarda no deslocamento da coluna de Che para o centro da ilha.

O que Che acharia de ver o seu rosto estampado em camisetas, a serviço da máquina capitalista?

Pombo - Penso que ele não gostaria. Eu nunca vi o Che usando uma camiseta de Marx ou de Lênin. Mas eu acho que, se uma pessoa traz o Che no peito, com orgulho, para se sentir motivada, para divulgar quem foi Che, para que se vinculem a ele, essa camiseta é útil. A camiseta ajuda a lembrar. Se você não vê o Che nas camisetas, não pensa nele.

Para a revolução, Che acabou sendo mais importante morto? Como seria se ele estivesse vivo, hoje, com 77 anos? [Nota do Blog Na Práxis - Essa entrevista é de 2005]

Pombo - Penso que ele seria mais importante vivo. Não tanto em relação a sua importância, mas ao que poderia fazer de útil. Ele era um homem com um pensamento em desenvolvimento, com uma capacidade extraordinária de autodidática, com espírito de investigação. Estava escrevendo um livro sobre a economia política do socialismo. Pensava em escrever sobre sua concepção, do ponto de vista filosófico, de como construir uma sociedade socialista para a América, que não fosse a mesma da Europa ou da Ásia. Tinha em mente que, no continente, somos muito parecidos, mas não somos todos cubanos. Hoje, em Cuba, Che representaria uma grande ajuda a Fidel.

Como Che conciliava a vida familiar com a vida revolucionária?

Pombo - O mais importante, para ele, era formar uma sociedade mais justa. Quando prenderam um filho de um dos nossos líderes da independência, Carlos Manoel Céspedes (primeiro fazendeiro a libertar seus escravos para lutarem contra os espanhóis), lhe impuseram a condição de que abandonasse a luta para o rapaz ser libertado. E Céspedes disse: "Não, eu sou o pai de todos os cubanos" - razão pela qual nós o chamamos de Pai da Pátria. Da mesma forma, se Che tivesse que decidir entre a sua família e a construção do socialismo, ou os interesses da pátria, ele decidiria pelos interesses da pátria. Mas isso não quer dizer que Che renegasse a família. Porque ele queria muito bem à sua família. Mas não no sentido estreito, de sua mulher, de seus filhos. Num sentido mais amplo, com uma confiança absoluta na sociedade. Ele sabia que, por sua luta, seus filhos teriam direito à educação, assim como todos os cubanos. Che não se desprende do elemento familiar. Não é como os inimigos do marxismo dizem, que o marxismo destrói a família. Mas o contrário, a família é a base, é a célula da sociedade.

Como Che tratava as crises de asma em meio à guerrilha?

Pombo - Com um tipo de inalador. Quando isso não era possível, Che usava o que os médicos chamam de "motivações primárias". Isto é, na crise, fazia seu corpo reagir a algo maior. Provocava um pequeno corte, para que a infecção gerasse uma febre e assim saía do ataque de asma.

Por que Kabila (líder da resistência anticolonialista congolesa, que em 1997 viria a se tornar presidente da República Democrática do Congo, ex-Zaire) recusava um encontro com Che?

Pombo - Na época, nós não entendíamos como a África funcionava. Só viemos descobrir depois, quando ficamos por 15, 20 anos em Angola. No Congo, começamos a enfrentar uma sociedade que não tinha um conceito de nação, mas um conceito de tribo. Não que o conceito de nação possa ser criado artificialmente, como os colonizadores quiseram impor. Mas um povo que queira lutar por sua pátria precisa ter um conceito de nação. Para nós, isso não fazia sentido porque não temos tribo, somos uma mistura de espanhóis, africanos e chineses. Não temos índios. Eles desapareceram de Cuba. Os espanhóis não tiveram nem a idéia de fazer uma reserva, como fizeram os estadunidenses, e manter ali alguns índios para mostrar a todos: "Vejam, estes são os homens que eram donos de todas estas coisas que estão aqui, e agora não têm nada". Nem isso fizeram os espanhóis. Chefe do que eles chamavam de "exército paralelo", Kabila se encontrou apenas uma vez com Che porque guerrear não fazia parte de sua natureza. Não era um homem latino-americano. Não era como Bolívar, que dizia: "Vamos!". Nunca houve um líder africano à frente de sua tropa, o que era uma coisa inconcebível para um latino, que leva, conduz o povo. Eles não necessitavam nem do contato conosco, não necessitavam da fala, eles mandavam tudo gravado.

Se a guerrilha comandada por Masetti na Argentina tivesse tido êxito, Che não teria ido ao Congo?

Pombo - Sim, realmente, Che foi ao Congo para esperar que as condições na América ficassem mais favoráveis. Fidel lhe ofereceu para ficar em Cuba, mas Che achava que já havia cumprido seu papel com os cubanos e queria ir a outro lugar. Em 1964, ele havia voltado de uma conferência na Organização das Nações Unidas, onde denunciou que os capacetes azuis haviam permitido o assassinato de Lumumba (revolucionário congolês). A meu ver, Che, que admirava Lumumba, se sentiu comprometido com a situação e decidiu ir ao Congo pensando que o movimento de Lumumba estivesse mais vertebrado, mas não estava.

A captura de Ciro Bustos e de Régis Debray (na tentativa de sair da área guerrilheira, foram presos pelo Exército boliviano) foi preponderante para a desestruturação da guerrilha na Bolívia?

Pombo - Não. Nós nos vimos sem a base. Com a experiência da Sierra Maestra, já sabíamos que o camponês só se incorpora quando vê alguma possibilidade de êxito, e uma forte possibilidade de respaldo. De início, nós tínhamos organizado nossa participação na luta boliviana por meio do Partido Comunista, que contava com milhares de militantes jovens dispostos a se engajar na luta. Mas Monje (então presidente do Partido Comunista Boliviano) mudou de lado, nos traiu. Che nunca soube se por covardia política ou pessoal. Ao nos trair, cortou nosso vínculo com o partido, acabou com a fonte onde íamos nos nutrir para gerar uma guerrilha forte, que Che queria desenvolver por um tempo limitado para poder expandi-la à Argentina e ao Peru, onde estavam Bustos e Chino. Não por acaso, de Ñancahuazú, na Bolívia, podia se chegar à Argentina e ao Peru, pela Cordilheira Oriental dos Andes.

Como foram os quatro meses de desencontros nas selvas da Bolívia, entre a coluna de Che e a outra em que estavam Joaquim e Tania (revolucionária alemã-argentina)?

Pombo - Fizemos todo o possível. Che não desistia de achar o grupo de Joaquim. Tanto que ele nos manteve demasiado tempo por ali, mesmo não tendo a intenção de combater na região Sul da Bolívia. Por fim, o Exército nos descobriu e fomos obrigados a iniciar o combate ali mesmo. Originalmente, pensávamos em começar a guerrilha na região Central da Bolívia, no Chapare, onde havia um camponês amigo de Inti - um dos guerrilheiros do grupo de Che _, que organizava os camponeses. Esse camponês não estava comprometido, mas Inti acreditava que ele se incorporaria. Tínhamos, mais ao norte, a possibilidade de que pudessem se incorporar à guerrilha os estudantes recrutados na América, na Europa, na União Soviética, em Praga, além de um conjunto de estudantes de Cuba.

Se houvesse o encontro entre os dois grupos no dia 31 de agosto de 1967, teria sido mera coincidência? (eles se desencontraram por questão de horas, estavam em linha reta, a 3 quilômetros de distância).

Pombo - Convergimos ao mesmo ponto por coincidência. Nosso grupo estava indo para o Chapare. Estávamos bem próximos quando escutamos pelo rádio que o grupo de Joaquim combatia mais ao sul. Então, demos meia volta e nos metemos novamente na zona guerrilheira, atrás deles. Quase os encontramos antes de eles caírem na emboscada (em que morreram). Só voltamos ao Sul na tentativa de encontrar o grupo de Joaquim. Nunca havíamos previsto ir ao Sul porque sabíamos que era mais desprovido de bosques e de água. Foi só por isso que descemos demais ao Sul e se criaram as condições para a emboscada do dia 26 de setembro (onde 3 guerrilheiros são mortos), e, depois, para o desfecho de 8 de outubro (quando Che é feito prisioneiro e morto, no dia seguinte, junto com outros guerrilheiros).

Como era Tânia?

Pombo - Uma mulher excepcional. Suas raízes latinas (era argentina, mas passou a juventude na Alemanha) foram de grande ajuda. Ela tinha a tarefa de ir à Bolívia criar condições de confiabilidade, até que lhe dessem instruções. Houve até um momento em que ela foi um pouco esquecida pela nossa Inteligência. A idéia de Che era preservá-la para que, se necessário, ela pudesse esconder alguém em lugar seguro. Mas ela acabou vindo para a guerrilha. Che tentou tirá-la de lá, o que foi impossível, porque ela já havia sido identificada. Assim, se estragou um trabalho de clandestinidade de três anos. Tânia foi uma revolucionária com grande capacidade de sacrifício. Quando lhe disseram para casar com um boliviano porque fazia falta ela não ter a nacionalidade boliviana, ela se casou. E quando disseram que era preciso dar um fora no boliviano porque ela tinha que sair do país, e que ela devia dar um jeito dele entender, ela o convenceu. Então ela foi "estudar" na Bulgária. Ela era extremamente disciplinada.

Che estaria contente com o desenvolvimento da revolução cubana?

Pombo - Acho que sim, porque quando ele saiu de Cuba fez um avaliação dos avanços da revolução, e justamente decidiu ir porque chegou à convicção de que o processo era irreversível. De que as massas haviam tomado consciência do seu papel de vanguarda, que, para Che, era o partido, era Fidel. Ele acreditava que a vanguarda precisa formar parte da massa a todo instante, sem ser a massa. Che dizia que esse vínculo, de tão próximo, deve fazer com que aquele que está à frente escute a respiração de quem vem atrás.

Por que Benigno traiu a revolução cubana?

Pombo - Para Benigno, pesou a questão material. Quando ele se foi, o processo revolucionário cubano passava por uma etapa difícil, mas não a pior. Os problemas de Cuba não eram graves. Ele tinha uma pequena finca (chácara). Nós somos guajiros (camponeses), não tínhamos base cultural, nem intelectual. Quando você participa de uma luta como essa, começam a te dizer que você é o máximo, e se você acredita, se equivoca. Benigno deixou isso subir à cabeça e acreditou que era herói. Era, sim, uma pessoa de mérito, mas o que fizemos, muitos outros cubanos também fizeram. Estiveram na Venezuela, na Colômbia, na Guatemala e não ficaram conhecidos. O fato de ter participado da epopéia em que morreu Che o atingiu. Além disso, ele se casou com uma mulher da Inteligência Cubana, que falava inglês, francês. Acho que ela tem um peso nisso porque se ela fosse firme quando ele lhe propôs essas coisas, tendo ela mais capacidade intelectual que ele, ela o influenciaria para o caminho correto. Outro problema é que, como camponeses, temos a mente pródiga, imaginamos coisas. Benigno acabou publicando um livro fantasioso, mentiroso, em grande parte.

Por que Benigno sustenta que Fidel abandonou Che?

Pombo - Isso é uma maldade. Benigno tem que agradar o imperialismo, e para isso, tem que dizer as coisas que o imperialismo gosta de ouvir. Quando Che foi à África, com mais de uma centena de cubanos, Fidel não o abandonou. Quando os africanos consideraram que não era conveniente Che estar ali, e ele saiu de lá para Praga, com a Inteligência Cubana dando apoio todo o tempo, Fidel não o abandonou. Quando Che decidiu começar a luta na sua pátria, Fidel permitiu que ele pegasse vinte e tantos companheiros que haviam estado com ele na Sierra, Fidel não o abandonou. O que acontece é que, se Fidel mandasse mais de cem homens à América Latina, como fez 20 anos depois, mandando um exército de 50 mil homens comigo a Angola, a atitude seria vista como intervenção.

A guerrilha, hoje, ainda é um caminho para a libertação dos povos da América Latina?

Pombo - Eu não diria nem que não, nem que sim. Depende das condições concretas de cada país e de cada momento. Hoje, é muito arriscado o surgimento de um movimento guerrilheiro em qualquer país, com a tecnologia que tem o exército inimigo, fundamentalmente o dos Estados Unidos. Mas também não é impossível porque existem guerrilhas na Colômbia, por exemplo, e mesmo com toda essa tecnologia não conseguiram aniquilá-la.

Como o senhor vê o MST?

Pombo - A capacidade organizativa dos sem-terra me impressiona. Eles não podem perder nunca sua convicção. Depois de assentados, não devem se desvincular do movimento. Não importa que você tenha a terra. Por você ter lutado por ela, deve se manter unido, com terra ou sem terra, por solidariedade humana, não digo nem por companheirismo. Isso é o que pode unir as pessoas ao Che. Esse amor pelo próximo que está um pouco mais além dos ditos parâmetros normais, e que lhe deu um conceito superior como ser humano.

O senhor acredita que Chávez vai assumir o papel de Fidel nos próximos anos?

Pombo - O papel de Chávez é assumir a dirigência do seu povo para depois assumir o mesmo papel sobre o restante do continente. Não podemos esquecer que o inimigo de Chávez é o país mais poderoso do mundo. E ele tem sabido lidar com a situação, solidamente, com o apoio das massas pobres, e tendo ainda que ganhar a classe média. O movimento de Chávez é novo. Tem a ver com um socialismo distinto, dentro do pluripartidarismo. Nós, cubanos, somos o farol, mas a Venezuela é a esperança do povo do continente e do Terceiro Mundo por seu potencial econômico, por seu tamanho, por ter fronteiras com tantos países que podem irradiar ainda mais aquilo que o Che queria fazer na Bolívia. Nesse sentido, Chávez tem muito mais vantagens do que nós, lá no meio do Caribe.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Uma revolução ainda por fazer

Por Leonardo Boff


Toda mudança de paradigma civilizatório é precedido por uma revolução na cosmologia (visão do universo e da vida). O mundo atual surgiu com a extraordinária revolução que Copérnico e Galileo Galilei introduziram ao comprovarem que a Terra não era um centro estável, mas que girava ao redor do sol. Isso gerou enorme crise nas mentes e na Igreja, pois parecia que tudo perdia centralidade e valor. Mas lentamente impôs-se a nova cosmologia que fundamentalmente perdura até hoje nas escolas, nos negócios e na leitura do curso geral das coisas. Manteve-se, porém, o antropocentrismo, a ideia de que o ser humano continua sendo o centro de tudo e as coisas são destinadas ao seu bel-prazer.

Se a Terra não é estável -pensava-se - o universo, pelo menos, é estável. Seria como uma incomensurável bolha dentro da qual se moveriam os astros celestes e todas as demais coisas.
Eis que esta cosmologia começou a ser superada quando em 1924 um astrônomo amador Edwin Hubble comprovou que o universo não é estável. Constatou que todas as galáxias bem como todos os corpos celestes estão se afastando uns dos outros. O universo, portanto, não é estacionário como ainda acreditava Einstein. Está se expandindo em todas as direções. Seu estado natural é a evolução e não a estabilidade.

Esta constatação sugere que tudo tenha começado a partir de um ponto extremamente denso de matéria e energia que, de repente, explodiu (big bang) dando origem ao atual universo em expansão. Isso foi proposto em 1927 pelo padre belga, o astrônomo George Lemaître o que foi considerado esclarecedor por Einstein e assumido como teoria comum. Em 1965 Arno Penzias e Robert Wilson demonstraram que, de todas as partes do universo, nos chega uma radiação mínima, três graus Kelvin, que seria o derradeiro eco da explosão inicial. Analisando o espectro da luz das estrelas mais distantes, a comunidade científica concluiu que esta explosão teria ocorrido há 13,7 bilhões de anos. Eis a idade do universo e a nossa própria, pois um dia estávamos, virtualmente, todos juntos lá naquele ínfimo ponto flamejante.

Ao expandir-se, o universo se autoorganiza, se autocria e gera complexidades cada vez maiores e ordens cada vez mais altas. É convicção de notáveis dos cientistas que, alcançado certo grau de complexidade, em qualquer parte, a vida emerge como imperativo cósmico. Assim também a consciência e a inteligência. Todos nós, nossa capacidade de amar e de inventar, não estamos fora da dinâmica geral do universo em cosmogênese. Somos partes deste imenso todo.

Uma energia de fundo insondável e sem margens - abismo alimentador de tudo - sustenta e perpassa todas as coisas ativando as energias fundamentais sem as quais nada existe do que existe.

A partir desta nova cosmologia, nossa vida, a Terra e todos os seres, nossas instituições, a ciência, a técnica, a educação, as artes, as filosofias e as religiões devem ser resignificadas. Tudo e tudo são emergências deste universo em evolução, dependem de suas condições iniciais e devem ser compreendidas no interior deste universo vivo, inteligente, auto-organizativo e ascendente rumo a ordens ainda mais altas.

Esta revolução não provocou ainda uma crise semelhante a do século XVI, pois não penetrou suficientemente nas mentes da maioria da humanidade, nem da inteligentzia, muito menos nos empresários e nos governantes. Mas ela está presente no pensamento ecológico, sistêmico, holístico e em muitos educadores, fundando o paradigma da nova era, o ecozóico.

Por que é urgente que se incorpore esta revolução paradigmática? Porque é ela que nos fornecerá a base teórica necessária para resolvemos os atuais problemas do sistema-Terra em processo acelerado de degradação. Ela nos permite ver nossa interdependência e mutualidade com todos os seres. Formamos junto com a Terra viva a grande comunidade cósmica e vital. Somos a expressão consciente do processo cósmico e responsáveis por esta porção dele, a Terra, sem a qual tudo o que estamos dizendo seria impossível. Porque não nos sentimos parte da Terra, a estamos destruindo. O futuro do século XXI e de todas as COPs dependerá da assunção ou não desta nova cosmologia. Na verdade só ela nos poderá salvar.

Original em ADITAL

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Acontecimentos no Egito fomentam o perigo do fundamentalismo cristão

Sim, caro leitor do Blog Na Práxis, o título pode paracer confuso, mas dêem uma olhada no texto abaixo, replicado por um portal evangélico brasileiro, acerca de uma provável aparição da figura bíblica de um dos "cavaleiros do apocalipse" no meio de uma batalha campal no Cairo.


Irei tecer meu comentários no meio do texto, em negrito.
 

Suposto "cavaleiro do Apocalipse" aparece em vídeo de protesto no Egito

Uma misteriosa figura foi vista nos noticiários de TV durante exibição de uma reportagem sobre mortes ocorridas nos protestos do Egito. Rapidamente muitos telespectadores passaram a questionar: “Seria este o quarto cavaleiro do Apocalipse?” 

Muitos quem, cara pálida? Os cristãos fanáticos, que têm horror ao oriente?
As imagens foram gravadas pelo canal Euronews e retransmitidas posteriormente pela MSNBC, pela CNN e chegaram rapidamente ao YouTube. 

E  a velha mídia corporativa segue levando o horror às casas dos incautos e incultos telespectadores ocidentais.
Entre a multidão de manifestantes e barricadas, o vídeo mostra uma figura fantasmagórica que para alguns lembra um cavaleiro montado em um cavalo amarelado. Ele permanece por alguns instantes na tela antes de aparentemente voar sobre a cabeça dos manifestantes. 

Isso só pode ser uma piada, o tal "cavaleiro" só se move quando a câmera também o faz. A figura fantasmagórica é um efeito visual.
Vários sites e foruns cristãos na internet têm debatido o assunto nos últimos dias. 

Mas é falta do que fazer mesmo.
 
Enquanto alguns alegam que trata-se apenas de um reflexo na lente da câmera, outros creem ser um sinal divino. Para comprovar isso, citam um texto do livro de Apocalipse: “Então vi um cavalo amarelo, e o nome daquele que o montava era Morte. E seguia atrás dele outro cavalo, e o nome do que montava neste era Inferno. Eles receberam domínio sobre a quarta parte da terra para matar pela guerra, pela fome, pela doença e por intermédio dos animais selvagens da terra” (Ap 6.8, NBV). 

Inferno é o fanatismo.
A estranha figura pode ser vista a partir de 1:17 do vídeo abaixo:




Há quem diga que trata-se de uma montagem feita por computador para gerar pânico. Mas no site da Euronews é possível ver que as imagens que estão no YouTube não são diferentes das que foram ao ar na semana passada. Por outro lado, alguns estudiosos de profecias têm ligado essa imagem às recentes mortes misteriosas de animais em diversas partes do mundo.

Estudiosos de... profecias? A que morte de animais eles se referem? À morte dos peixes na costa africana, por conta do lixo ilegalmente despejado por navios europeus e estadunidenses?

O que parece ter aumentado a convicção em determinados setores cristãos é um vídeo gravado poucos dias antes da aparição do “cavaleiro”. A autointitulada profetisa Cindy Jacobs convocou igrejas de todo o mundo a orar e jejuar pelo Egito. Ela disse ter recebido uma revelação de que Satanás estava naquele país instigando as massas e tentando provocar uma Terceira Guerra Mundial.

Urgent Call to Prayer for the Middle East - 02/03/11 from Generals International on Vimeo.

Bando de malucos, são fanáticos desse tipo que defenderam a invasão do Iraque, e advogam por uma "cruzada civilizatória" no Oriente Médio.
E redes, como a CNN, que demonizam a Irmandade Islâmica (organização política de oposição no Egito), dão eco a esse tipo de coisa.
E depois são os árabes os bárbaros fundamentalistas.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

PCdoB entra no governo Kassab - Veja aqui as fotos da confraternização!

PCdoB aceita convite de Kassab para ingressar na prefeitura paulistana, com a promessa de que irá ocupar a nova Secretaria da Copa do Mundo.


Netinho de Paula é um dos cotados para ocupar a pasta, assim como Nádia Campeão e Jamil Murad.

Adeus Lenin
Abaixo, PCdoB oferece coquetel de confraternização a seus filiados e ao Camarada Kassab.
 


Para quem ainda não acredita na informação acerca da aliança, basta acessar a notícia em Rede Brasil Atual.

A foto da confraternização vazou para o Na Práxis por meio de uma fonte anônima do partido, descontente com o acordo.
"Ficar fora da prefeitura de São Paulo é trostskismo, mas apenas uma secretaria não dá pra aceitar", critica o militante J.M.C.



Após 30 anos no poder, Hosni Mubarak renuncia ao governo do Egito

 
 
Hosni Mubarak deixou a presidência do Egito. O anúncio foi dado pelo vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, nesta sexta-feira (11/02), em um breve pronunciamento à TV estatal.

Suleiman afirmou que o ditador, que estava no poder desde 1981, renunciou "voluntariamente" e passou o poder ao Conselho Supremo das Forças Armadas, após 18 dias de manifestações em todo o país. Segundo o vice, a decisão foi tomada "por causa das difíceis circunstâncias que o país atravessa ".

O Conselho Supremo é o mesmo órgão que, no início do dia e na quinta-feira (10/02), havia firmado em pronunciamentos que "estava do lado da população" e que "as demandas dos manifestantes" não estavam sendo atendidas.

Milhares de pessoas celebram a queda do ex-presidente na praça Tahrir, no Cairo, epicentro das manifestações em todo o Egito. A saída de Mubarak era a principal reivindiação da população desde o início da série de protestos. 
 
Informações de Opera Mundi

Danny Glover (Máquina Mortífera) visita um dos 5 heróis Cubanos

Gerardo e Danny Glover em visita anterior


Gerardo contesta acusações do Miami Herald sobre Cuba

Em nossa terceira visita, a arquitetura neo-fascista da Penitenciária Federal em Victorville, Califórnia (construída em 2006 sob Bush) tornou-se uma visão familiar. Acreditamos que a indústria norte-americana de arame farpado deve ter feito um forte lobby para que os comissários de construção alocassem o dinheiro para vários campos de futebol de arames farpados que se projetam a partir de uma barra de metal, muito pouco amigável.

Por Danny Glover y Saul Landau*

O que falta na visão de quilômetros de arame enrolado sobre ambos os lados do muro desta monstruosa estrutura de concreto localizada no deserto de Mojave? Um cartaz: "Só nos Estados Unidos."

Em que outra parte se construiria tal "monumento" para uma missão de "reabilitação"? Gerardo se põe de pé, saltando de sua cadeira de plástico e nos abraçamos. Cheio de energia, sorridente e em boa forma, nos diz que teve que esperar 25 minutos na porta do bloco de celas antes de que um guarda finalmente autorizasse a sua passagem à sala de visitas, enquanto outros guardas passaram por seu lado ignorando seu pedido para ver seus visitantes.

Um incidente típico na esteira diária de um prisioneiro político em uma penitenciária federal de segurança máxima. Perguntamosa como se sentiu com o artigo de Jay Weaver no The Miami Herald em 26 de dezembro de 2010. A manchete: "Chefe de espiões cubanos agora garante que a derrubada dos Irmãos para o Resgate ocorreu fora do espaço aéreo cubano."

O artigo sugeria que Gerardo não estava de acordo com a versão cubana de que seus MIGs derrubaram dois aviões dos Irmãos para o Resgate no espaço aéreo de Cuba em 24 de fevereiro de 1996. "Isso é ridículo", disse Gerardo. Sua apelação legal questiona a competência do seu advogado de ofício para defendê-lo corretamente, mas ele nunca expressou ou deixou implícitas diferenças com a posição de Cuba.

O recurso se concentra nos erros cometidos durante o julgamento por seu advogado e o procurador, o qual negou-lhe o devido processo. Além disso, o governo ocultou indevidamente provas que mostravam que Gerardo não tinha nenhuma informação sobre a intenção de Cuba de derrubar os aviçoes dos Irmãos para o Resgate. A promotoria nunca provou que Cuba pretendia abater os aviões no espaço aéreo internacional, muito menos que Gerardo o sabia. Mas o clima em que se celebrou o julgamento estava contaminado pela mídia.

A apelação de Gerardo mostra que, durante o julgamento, "jornalistas" a serviço dos EUA publicaram notícias nos periódicos e na TV que apresentavam desfavoravelmente os acusados - e Cuba. Os cinco agentes foram julgados e sentenciados em um clima contaminado pela promotoria.

"É uma farsa", disse, rindo, em referência ao artigo do Herald e ao julgamento. "Tenho certeza de que todo cubano sabe que eu não tenho nenhuma divergência com o meu governo sobre a derrubada dos aviões. Eu não sabia nada sobre os vôos daquele dia, então eu não podia saber que eles iam ser derrubados. Creio que aconteceu no espaço aéreo cubano, o que não é um crime, segundo o direito internacional ".

Nem o Herald nem o júri do julgamento ouviram ou viram evidências de que Gerardo tinha conhecimento prévio do suposto plano de Cuba para derrubar os aviões dos Irmãos para o Resgate. No início dos anos 1990, o grupo assegurava que a sua missão era ajudar a resgatar balseiros cubanos à deriva no Estreito da Flórida. Mas, depois que um acordo migratório entre os Estados Unidos e Cuba determinou o retorno de cubanos à ilha, os Irmãos começaram uma nova missão: sobrevoar Havana e deixar cair panfletos.

Em 24 de fevereiro de 1996, depois de repetidos avisos de que não voassem sobre a ilha, Basulto, o presidente da Irmãos para o Resgate anunciou o seu próximo voo e a Agência Federal de Aviação (FAA) também informou a Cuba dos detalhes do voo. Os pilotos e co-pilotos dos dois aviões morreram. Basulto retornou a salvo para Miami. Mesmo que Gerardo tivesse avisado a seu governo sobre os voos iminentes - o que não fez - como um agente de inteligência ia saber que seu governo os derrubaria, apesar de Cuba ter todo o direito de fazê-lo sobre o seu espaço aéreo?

O júri de Miami consideou Gerardo culpado de conspiração para cometer assassinato ao ser cúmplice em um plano para derrubar aviões civis em espaço aéreo internacional - o que não foi demonstrado. A juíza o condenou a duas penas de prisão perpétua consecutivas. Quando sugerimos que o repórter que disse que Gerardo estava em desacordo com seu governo, apesar de não tê-lo entrevistado, devia ser elegível para o Prêmio Mussolini de Jornalismo, Gerardo esteve de acordo.

"Sim, Mussolini era um jornalista antes de entrar na política." A notícia tinha que dizer que Gerardo não recebeu o devido processo. Agentes cubanos julgados em Miami - o equivalente a judeus julgados em Berlim, em 1938. Gerardo, otimista e disposto a compartilhar, nos disse que cresceu perto de Mantilla, um bairro de Havana, onde vive o escritor cubano Leonardo Padura (autor de romances policiais de El Conde).

Ele conhecia as possibilidades e a firmeza da amizade sob o socialismo, onde os homens falam honestamente com o coração e não têm que competir por dinheiro, como indivíduos na novela O vôo do gato, de Abel Prieto. "A amargura não ajuda espírito ", disse . Três tristes Tigres, de Guillermo Cabrera Infante é brilhante e perspicaz. "Compare-as com suas estridentes críticas contra a Revolução, das quais não se aprende nada". O fotógrafo da prisão - outro recluso - tirou fotos nossas.

Em seguida comemos a comida lixo (junk food) das máquinas - a única que existe - e discutimos as reformas em Cuba. "Eu acho que o discurso de Raúl (do presidente Raúl Castro, em 18 de dezembro de 2010) foi necessário. Temos que mudar para sobreviver. Devenos nos tornar mais eficazes e produtivos. "

"Acabou a visita", anuncia um guarda. Gerardo vai para junto da parede com outros presos. Nos amontoamos perto da porta com outros visitantes. Ele levanta o punho. "Mantenha a fé". Ele sorri confiante. "Tem qualidades como as de Mandela", diz Danny. Saul assente.

* O novo filme Landau sobre o caso dos cinco cubanos e sua história - Por favor, que se ponha de pé o verdadeiro terrorista - em breve estará disponível. Danny Glover é um ativista e ator.

Fonte: Vermelho

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A decepção de Yoani Sánchez: Cuba não é o Egito


Yoani Sánchez, blogueira mercenária cubana, segue traumatizada pelo fato de que em Cuba não ocorra uma explosão social, como está acontecendo no Egito.

Por M. H. Lagarde, no Cambios en Cuba

Em um texto que publicou primeiro na língua de quem a paga (em Inglês) e que, posteriormente, foi replicado em espanhol, a suposta jornalista — depois de mentir (1) [como costuma fazer habitualmente] sobre o fato de que os meios de comunicação cubanos escondem o que acontece no Egito — diz:

"A prudência oficial não pode evitar que nos surpreendessemos com a vista aérea da praça Tahrir vibrando ao ritmo da espontaneidade, que por aqui, há muitos anos, não se percebe na sóbria e cinza Praça da Revolução. Era inevitável que, ao ver a enorme manifestação com faixas e bandeiras, não terminassemos por perguntar se aquele locutor de gravata listrada não queria fazer-nos pensar: Por que em Cuba não ocorre o mesmo? Se o nosso governo é de mais longa duração e o colapso econômico se tornou um elemento indissociável de nossos dias, o que nos impede de tomar o caminho do protesto cívico, a pressão pacífica nas ruas?"

Na verdade ninguém entende como a expert em política internacional, Yoani Sánchez, que apesar da censura do Estado, conseguiu ver "mais fragmentos do que aconteceu", que "chegaram através das redes alternativas de informação, das perseguidas antenas parabólicas e da Internet evasiva", não lhe tenha chegado, por estas mesmas vias, algumas informações importantes para entender que o que ocorre no Egito não tem nada a ver com Cuba.

Será que nossa rival sabe de Robert Fisk que o Egito, nos últimos 30 anos, tem sido o segundo maior aliado do governo dos Estados Unidos no Oriente Médio? Poderá a famosa blogueira interar-se que desde o Tratado de Camp David, o Egito recebeu mais de 35 bilhões de dólares dos EUA, na maior parte em fundos militares sem obrigação de reembolso? Ninguém lhe disse que os tanques e as bombas de gás lacrimogêneo, que nestes dias estão sendo lançadas contra o povo egípcio, provêm do arsenal do mesmo governo que a paga para incentivar a subversão na Ilha?

Yoani Sanchez é burra? Levando em conta as respostas que ela deu ao entrevistador Salim Lamrani durante uma longa entrevista em Havana, poderia ser dito categoricamente que sim. Mas, este não é o caso. Neste momento, Yoani usa as redes sociais em consonância com o papel que lhe foi conferido por seus superiores da CIA e do Departamento de Estado: Exportar a democracia made in USA para os países que ainda se atrevam a ficar de fora da hegemonia de Washington.

As associações entre Egito e Cuba feitas por Yoani e outros blogueiros (que recentemente levantaram um muro de lamentações no Facebook no mesmo sentido) apenas visam manter (fora das fronteiras da Ilha - lembre-se que em Cuba há uma censura extrema, que Yoani viola quando lhe convém) a permanente campanha de desprestígio da Revolução Cubana, que serve para justificar bloqueios ou posições comuns agressivas.

Embora, ela declare com seu habitual cinismo mercenário, que em Cuba se trata as redes sociais como "algo fabricado" e não reconhece que os indivíduos se reúnem e (horror!) saltam por si mesmos sobre as "barreiras ideológicas", a realidade é que, no caso cubano, as chamadas redes, que Yoani usa, nada mais são do que as redes de agentes a serviço do governo dos EUA.

De fato e a propósito do cinza da Praça da Revolução, que a blogueira faz alusão, vale a pena recordar o concerto da Paz Sem Fronteiras que reuniu um milhão de cubanos a poucos metros da sede do governo da Ilha. Até a "mobilizadora" blogueira assistiu a festa e foi filmada em um vídeo que mostrou duas coisas: a "repressão" terrível que existe na ilha - lá estava a "perseguida" Yoani posando tranquilamente para as câmeras - e o fato significativo que ninguém, entre a multidão de jovens ao seu redor, apesar de seus muitos prêmios e citações, reconhecia-a.

Notas

1 - Uma amostra de algumas das reportagens de televisão cubana que, de acordo com Yoani Sánchez, esconde dos cubanos o que acontece no Egito:

Tradução de Robson Luiz Ceron para o Blog Solidários

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Comentando notícia de "O Globo", sobre o agente estadunidense preso em Cuba

E a cobertura da grande mídia sobre o que acontece em Cuba segue distorcida. Neste caso, além de distorcida, ridícula. Vejamos esta notícia da agência Reuters, publicada em “O Globo”.

Entenda as peculiaridades da comunicação dentro do regime implantado no Brasil.

“O Globo” é um jornal de grande circulação no Brasil, pertencente à família Marinho. No regime atualmente instaurado nesse país, em nome da “democracia”, apenas as famílias ricas detém os meios de comunicação de massa.

Vamos colocar nossos comentários em negrito. 

Segue a notícia:

Cuba buscará pena de 20 anos de prisão para funcionário dos EUA

Promotores cubanos tentarão conseguir uma condenação de 20 anos de prisão para o funcionário norte-americano Alan Gross, acusado de espionagem num caso que congelou as já tensas relações entre Cuba e Estados Unidos, afirmou o jornal Granma, do Partido Comunista, em sua edição online na sexta-feira.
Em comunicado oficial, o jornal disse que Gross era acusado de "Atos Contra a Independência e Integridade Territorial do Estado" e que diplomatas norte-americanos foram avisados sobre da acusação.
O jornal afirmou que uma data para o julgamento deve ser agendada em breve para Gross, que está preso desde dezembro de 2009.
Os Estados Unidos disseram que Gross estava apenas fornecendo equipamentos de comunicação por satélite e acesso à Internet a grupos judeus em Cuba e que não era um espião.

Sim, os EUA alegaram isso, no entanto, se a Reuters, ou o jornal da família Marinho, realmente exercessem a sua tão cacarejada imparcialidade, já teriam constatado e divulgado que esse sujeito teve uma atuação no mínimo criminosa em Cuba. Organizando e instrumentalizando tecnologicamente grupos opositores de direita, descaradamente financiados pelo governo estadunidense. 

Ele trabalhava num programa norte-americano para promover a mudança política em Cuba, o que, para o governo comunista da ilha é uma subversão.

Associação a uma potência estrangeira para derrocar o governo de um país é uma subversão não só para o governo comunista da ilha, mas para qualquer governo do mundo! Em países como EUA, França e Inglaterra, isso configura crime de alta traição ao Estado. É espantoso o tom asséptico através do qual Reuters/O Globo abordam uma descarada ingerência estrangeira na política cubana. E o que é pior; praticamente transformam o agente Alan Gross em mais uma “vítima do regime”.

Washington já pediu sua libertação e disse que não haveria grandes mudanças nas relações diplomáticas até que Gross, de 61 anos, fosse libertado. 

Ah, sim, claro, olhando assim, até poderíamos inferir que o bloqueio econômico é culpa da “política intransigente” da ilha, ao colocar, atrás das grades, traidores e agentes estrangeiros.  O pior é que esse indivíduo vai desfrutar, inclusive,  de um julgamento justo. Enquanto isso, a mídia corporativa internacional  vai seguir chamando Cuba de "ditadura".
Se Cuba seguisse a cartilha da "maior democracia do mundo" para casos como esse,  o Sr Gross não teria tanta sorte.
Xilindró nele!


Link da notícia original