quarta-feira, 29 de julho de 2009

Quem quer liquidar Sarney?

Escrito por Wladimir Pomar

O senador Sarney é um dos remanescentes das antigas oligarquias, que participaram, por longo tempo, do comando do Estado brasileiro. Como todos os demais, ele migrou da classe dos latifundiários para a burguesia. Apoiou o golpe militar de 1964 e foi figura de proa na Arena. No final desta, foi para a Frente Liberal. Mas apercebeu-se, antes dos outros de seu partido, que o regime militar estava no fim e que, para salvar sua classe, era preciso trocar de lado e realizar uma transição negociada.

Foi essa visão que lhe valeu a candidatura a vice-presidente, na eleição indireta de Tancredo, e a presidência, ante a morte prematura do cabeça da chapa. Seu governo foi medíocre, embora tenha contribuído positivamente para a concretização das primeiras eleições presidenciais diretas, após mais de 25 anos, fundamentais para a consolidação do processo democrático no Brasil. O que não foi pouco.

Bem vistas as coisas, Sarney foi, antes de tudo, um fiel servidor de sua classe social. Algumas vezes esteve na frente dela, ao captar as tendências sociais e políticas. O que o levou a adotar posturas para salvá-la de seus próprios desacertos. Em certo sentido, ele parece acompanhar os passos sagazes de Vargas que, em seu tempo, salvou tanto os latifundiários quanto a burguesia com seu faro agudo para as mudanças em gestação na base da sociedade.

Provavelmente, foi essa intuição que levou Sarney, em 2002, bem à frente de seus partidários, a vislumbrar que era o momento de permitir que representantes dos trabalhadores experimentassem o mel e o fel de ser governo, sem ter o poder. O que lhes garantiu canais de negociação e influência no governo Lula, e benefícios evidentes para sua classe, como um todo

Diante desse histórico, o que se pergunta é: por que uma parte da burguesia decidiu liquidar, com desonra, um de seus mais sagazes representantes políticos? Seus pecadilhos, assim como vários dos seus grandes pecados, não são em nada diferentes dos que a maioria dos senadores e deputados deve confessar a seus pastores. E não se diferem em nada da prática diária da burguesia, ao realizar seus negócios. Então, por que a fúria para derrubar o senador?

A resposta a essas questões pode estar no fato do senador Sarney haver demonstrado propensão a considerar que o governo, com participação de representantes dos trabalhadores, deva ter continuidade, em 2010. Isto pode resultar na negativa de utilizar a presidência do Senado como instrumento para paralisar o governo atual. Se isso for verdade, a suposta falta de decoro parlamentar do senador não passa de cortina de fumaça. Ela esconde apenas a tentativa de derrubar o senador para, através da presidência do Senado, virar o jogo de 2010 no tapetão, impedindo o governo Lula de realizar seus principais projetos.

Porém, a resposta pode mesmo estar relacionada com deslizes na emissão de decretos secretos, ou na omissão diante deles, assim como com atos de favorecimento para empregos no Senado e na Câmara dos Deputados. Se esta for a verdade, os senadores deveriam acabar com a hipocrisia e realizar uma investigação séria, colocando-se todos sob suspeição.

Com uma investigação desse tipo, separando-se os que realmente não participaram de qualquer daqueles atos dos que os praticaram, é provável que o senador Sarney não saia ileso. Mas, certamente, levaria muita gente consigo. Seria o justo. O resto não passa de engodo de falsa moralidade e objetivos escusos.


Wladimir Pomar é escritor e analista político.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Honduras e a Sociedade Interamericana de Imprensa - mais um exemplo do descaramento da mídia corporativa


Artigo escrito por Atílio Boron, pesquei do Correio da Cidadania

Onde está o berro do monopólio midiático pela "liberdade de imprensa"????



Segue o Artigo


Honduras e a Sociedade Interamericana de Imprensa



O prolongamento da crise em Honduras não tem um efeito neutro, pois joga a favor dos golpistas. O repúdio e o isolamento universais não comovem os usurpadores. Todo o contrário: confirmam sua visão paranóica de um mundo dominado por comunistas, subversivos e revolucionários que conspiram sem trégua para frustrar sua empreitada patriótica. Tanto os militares como os civis hondurenhos compartilham esse delírio que continua sendo alimentado, dia a dia, pelo Pentágono, CIA e boa parte do establishment político do império, para os quais a guerra não terminou nem vai terminar jamais.

Guerra, sobretudo, contra esse imenso e inesperado movimento social que se pôs em marcha a partir do golpe e que transborda ampla – e talvez irreversivelmente – os estreitos marcos da mal chamada "democracia representativa" em Honduras. Bastou que aquele pretendesse honrar tal fórmula para que a santa aliança abandonasse em tropel as cavernas e saísse para a batalha: ali se juntaram, para unir forças, os representantes militares e políticos do império com a corrupta oligarquia local, a perversa hierarquia da Igreja Católica, as diversas frações do patronato e o poder midiático que este conglomerado da riqueza e do privilégio controla sob seu capricho, fazendo da liberdade de imprensa uma brincadeira sangrenta.

Não é casualidade que o website da benemérita Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), sempre tão atenta a tudo que ocorre com os meios em Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador, tenha ocultado arteiramente o que está ocorrendo em Honduras. A resolução mais importante sobre o assunto dos meios de comunicação, adotada em 24 de julho, é uma condenação... ao presidente Rafael Correa (!), por incentivar o ‘incessante clima de confrontação e injúrias contra jornalistas, proprietários de meios de comunicação e suas empresas’. Nenhuma palavra sobre Gabriel Fino Noriega, jornalista hondurenho da Radio Estelar, assassinado por forças paramilitares, o que informa a Missão da ONU enviada para investigar a situação dos direitos humanos em Honduras.

A mesma delegação comprovou que em Tegucigalpa, o Canal 36, a Radio TV Maya e a Radio Globo foram militarizadas, constatando-se ainda o assalto a diversas sedes de meios de comunicação e ameaças de morte a jornalistas, bloqueio de suas transmissões ou a interceptação telefônica e bloqueio do acesso à internet. A missão também corroborou o fogo aberto por metralhadoras contra a cabine de transmissão da Rádio Juticalpa, em Olancho, e as ameaças de morte feitas contra jornalistas como o diretor do diário El Libertador, Johnny J. Lagos Enríquez, assim como contra o jornalista Luis Galdanes.

Na cidade de Progresso, os militares silenciaram as transmissões da Rádio Progresso, sendo hostilizado seu diretor, o sacerdote jesuíta Ismael Moreno, e detido temporariamente um de seus jornalistas enquanto outros recebiam ameaças de morte. Outro caso é o do Canal 26, TV Atlântica, cujo diretor declarou à missão da ONU que os militares indicaram aos veículos de comunicação da cidade que deveriam abster-se de transmitir outras versões ou informações que não emanassem do governo de fato.

Diante da agressão sofrida pelos jornalistas da Telesur e a rede Venezuelana de Televisão (VTV) – sem cujo valente trabalho o mundo jamais teria se inteirado do que ocorria em Honduras – a SIP se limitou a emitir um tímido comunicado lamentando os fatos; a resolução dura, em troca, foi tomada contra Correa.

Seria muito demorado enumerar todas as violações à liberdade de imprensa e aos direitos humanos, à parte o assassinato de Noriega, que passaram despercebidas ante os atentos censores da SIP e seus ventriloqüentes, Mario Vargas Llosa e a turma dos "mais que perfeitos idiotas latino-americanos". Seu silêncio cúmplice revela a descompostura moral do império, suas permanentes mentiras e a impunidade com a qual se movem esses falsos defensores da ‘liberdade de imprensa’. E frente a esse cenário, a secretária de Estado Hillary Clinton se atreve a qualificar como imprudente o gesto de Zelaya de viajar até a fronteira de seu país (!), ao passo que seu porta-voz, Philip Crowley, advertia contra "qualquer ação que possa conduzir à violência" em Honduras.

Já falta muito pouco para que Washington comece a declarar que o verdadeiro golpista é Zelaya e foi ele e não outro que lançou seu país em um caos de violência e morte. A promessa de novas mediações a cargo da Casa Branca só servirá para desfigurar ainda mais a verdade e inclinar o fiel da balança a favor dos golpistas e seus mandantes.

Atílio Boron é doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard, professor titular de Teoria Política na UBA (Universidade de Buenos Aires) e recebeu o Prêmio Jose Marti 2009, por sua "incansável contribuição para a unidade e a integração da América Latina e do Caribe", de acordo com o júri internacional da UNESCO, idealizadora da premiação.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Há 55 anos morria Frida Kahlo, uma das maiores artistas do século 20

Frida Kahlo tinha tudo para ter uma vida inexpressiva e vazia. Quando criança não se interessava por artes, teve poliomielite com 6 anos de idade, que lhe prejudicou a perna esquerda e lhe deu o apelido de perna de pau, com 18 anos sofreu um acidente que lhe deixou acamada e com dores por toda a vida e mesmo assim se tornou uma das pessoas mais icônicas e importantes do século 20.

Ela nasceu em Coyacan, subúrbio da Cidade do México, em 6 de julho de 1907, filha de um imigrante húngaro e uma mexicana mestiça. Devido à poliomielite, inovou costumes usando calças e depois os vestidos exóticos que se tornaram sua marca registrada. Seu sonho era ser médica e estudou com afinco para isso na Escuela Nacional Preparatória, um dos melhores colégios do México. Era uma das 35 mulheres entre o total de 2.000 alunos. Foi lá que Kahlo travou os primeiros contatos com as ideias socialistas e fez parte de um grupo chamado "Cachuchas", que mais tarde teria uma importância cultural proeminente naquele país.

Em setembro de 1925, ao retornar da escola com um amigo, sofreu um terrível acidente quando o ônibus em que viajava colidiu com um trem, matando muitas pessoas. Devido aos ferimentos, Frida passou acamada por vários meses e para se distrair passou a pintar autorretratos que acabaram por dominar seu futuro repertório artístico. A revolução mexicana, que estava acontecendo na época, influenciou o trabalho da artista, já que punha a arte nativa indígena no mesmo patamar da importada da Europa (no caso, espanhola).

Em 1928, um pouco mais recuperada, Frida retomou contato com seus antigos colegas de Escuela e um deles, 21 anos mais velho, o pintor Diego Rivera, se encantou com seu trabalho e a encorajou a continuar pintando. Os dois acabaram se casando em 21 de agosto de 1929 e Kahlo se juntou ao partido comunista mexicano.

Rivera era especialista em pintar murais, muitos deles encomendados pelo governo e, quando o presidente cortou os fundos para esse tipo de trabalho e começou a perseguir inimigos políticos, entre eles os socialistas, o casal se mudou para os Estados Unidos, morando por quatro anos em São Francisco, Nova York e Detroit. Kahlo engravidou duas vezes, mas por decorrência do acidente de 1925, perdeu os bebês. A dor da impossibilidade de ser mãe foi refletida em alguns quadros, como Henry Ford Hospital e Meu Nascimento, ambos de 1932.

Com a queda da ditadura no México e o fim dos patrocinadores na América, Rivera e Frida voltaram ao país em 1934. O casal levava uma vida alternativa, Frida, por exemplo, colecionava amantes mulheres. Rivera até aceitava essa opção da esposa, mas não permitia que ela tivesse casos com outros homens. Acontece que o pintor também tinha suas amantes e, em 1935, Frida descobriu que ele mantinha relações com sua irmã, Cristina Kahlo. Por conta da traição, Frida abandona o marido e, mesmo reatando com o casamento no final daquele mesmo ano, as relações entre eles nunca mais foram as mesmas. Rivera continuou a dar suas escapadas e o mesmo fez Frida. Retornando ao cenário político, o casal peticionou ao presidente Lazaro Cárdenas que desse asilo ao líder soviético Leon Trotsky - que morou com Frida e Diego entre 1937 a 1939. Dizem que Trotsky e Frida tiveram um tórrido caso.

Foi através de Trotsky que Frida foi apresentada ao surrealista francês Andre Breton, que, encantado com o estilo da artista, facilitou sua primeira exposição fora do México, mais especificamente em Nova York. A exibição foi um sucesso tremendo e mais da metade das obras foram vendidas, o que aliviou Frida do encargo de depender do marido. Em 1939, ela foi convidada para ir a Paris e com a ajuda de Marcel Duchamp montou sua segunda exposição. Kahlo odiou a cidade e achou que os surrealistas eram esnobes e intelectuais demais. Além disso, às véperas da Segunda Guerra Mundial, a Europa não estava muito voltada às artes. Dessa época destacam-se Meus Avôs, Meus Pais e Eu e O Suicídio de Dorothy Hale.

Retornando ao México, Frida decidiu se separar de Diego e voltou para a casa dos pais, "A Casa Azul", como é conhecida até hoje. O desespero do divórcio inspirou-a a criar duas obras: As Duas Fridas e Autorretrato com Cabelo Cortado. A separação novamente não durou muito e os dois se casaram novamente em 1940. A Guerra na Europa levou a uma redescoberta americana pelo México e a popularidade de Frida aumentou consideravelmente, assim como a quantidade de exposições de suas obras.

Em 1942, além de ser eleito membro do Seminário de Cultura Mexicana, instituição criada para promover a cultura do país, Frida foi contratada pela Escola de Pintura e Escultura, onde passou a lecionar. Sua saúde, porém, começou a declinar, ainda refletindo o acidente de ônibus. As dores nas costas e no corpo a obrigam a ficar em casa e a usar um colete de aço. Esse sofrimento está em obras como Coluna Partida, de 1944, e o Cervo Ferido, de 1946.

Nos anos 50, mesmo passando por uma série de operações, sua saúde deteriorou-se, obrigando-a a ficar em uma cadeira de rodas e, por fim, confinada em uma cama. Entre seus últimos trabalhos estão Autorretrato com Retrato do Dr. Farill (Farill era o médico que a operou), e Autorretrato com Stalin. Em 13 de julho de 1954, depois de contarir pneumonia, Frida Kahlo faleceu na casa onde nasceu. Atendendo a um pedido seu, o corpo foi cremado e as cinzas ainda se encontram na "Casa Azul", hoje um museu em sua homenagem. Em 2002, a atriz e diretora mexicana Salma Hayek levou às telonas a biografia da pintora no premiado filme Frida.

Pescado do Terra

segunda-feira, 6 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Entrevista Exclusiva: RAUL PONT fala sobre Economia Solidária, socialismo, autogestão e luta de classes.

Pescado do Blog Brasil Autogestionário
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O Blog BRAutogestionário inicia hoje uma série de entrevistas com importantes nomes da esquerda brasileira, a série tem o objetivo de realizar uma reflexão a cerca da relação entre a Economia Solidária, a renovação do projeto socialista e o sentido anti-capitalista dessa práxis autogestionária dos(as) trabalhadores(as). A primeira entrevista é com RAUL PONT, militante histórico da esquerda brasileira e atual Deputado Estadual do PT do RS.

Raul Pont, 65 anos, graduado em história pela UFRGS e pós-graduado em Ciência Política pela Unicamp, é um histórico militante da esquerda brasileira. Foi preso pela ditadura no final da década de 60 quando militava no movimento estudantil. Na década de 70 foi criador do Jornal Em Tempo, um dos principais jornais de oposição à ditadura. Foi fundador do PT e é membro da direção nacional do partido desde a fundação. Foi Deputado Federal e Prefeito de Porto Alegre (o único eleito no primeiro turno em 1996). Atualmente é Deputado Estadual cumprindo o terceiro mandato. A partir de sua experiência política Raul tem se dedicado também a elaboração teórica sobre os temas da Democracia Participativa e o Socialismo. São de sua autoria “Democracia, Participação e Cidadania- Uma visão de Esquerda” da Editora Palmarinca, “A Estrela Necessária”, da Editora Veraz e “Democracia, Igualdade e Qualidade de Vida. A experiência de Porto Alegre” Veraz, 2003.

Nesta entrevista exclusiva ao Brasil Autogestionário, Raul Pont fala sobre o papel da Economia Solidária e da autogestão no projeto socialista.


“Reconstruir a economia solidária a partir do conceito de movimento social e inseri-la definitivamente numa dinâmica de luta de classes é essencial” Raul Pont


Brasil Autogestionário: A Economia Solidária (ES) têm crescido muito, principalmente na América Latina, desde a década de 90, como uma resposta dos (as) trabalhadores(as) ao desemprego causado pelas políticas neoliberais. O que falta hoje para a Economia Solidária avançar como alternativa econômica e política dos(as) trabalhadores(as)?

Raul Pont: Esse ressurgimento da economia solidária a partir da década de 90, como foi dito, acontece como reação ao desemprego causado pelas políticas neoliberais efetivadas na época em quase todos os países da América Latina. Veja-se que em tal cenário a Ecosol surge como uma reação, sem estratégias de longo prazo, apenas como possibilidade de geração de renda para homens e mulheres desempregados. Atualmente o que surge é a necessidade de um projeto, ou seja, de uma estratégia e plano de ação. Nesse caso, reconstruir a economia solidária a partir do conceito de movimento social e inseri-la definitivamente numa dinâmica de luta de classes é essencial. Isso se faz de duas formas: primeiro firmando a ecosol como instrumento da classe trabalhadora; e segundo fazendo com a mesma se agregue às lutas da classe. Um exemplo de como se pode conjugar a expansão da ecosol com a dinâmica de luta de classes é a luta por distribuição de renda. O tema central nesse caso para a economia solidária é o aumento de recursos do setor público para seus empreendimentos. Como tal luta pode-se agregar as lutas de toda classe trabalhadora? Defendendo-se que tais recursos sejam obtidos em detrimento de subsídios concedidos ao capital. E esse é apenas um exemplo, existem outros vários.


“Não se quer somente uma maior geração de emprego e renda para homens e mulheres, mas se visa, principalmente a transformação do atual estágio da sociedade, e tal transformação vai desde as relações de propriedade e produção, como também uma nova postura ética e moral” Raul Pont


Brasil Autogestionário: Em sua opinião os partidos de esquerda estão conseguindo acompanhar esse processo de emergência da Economia Solidária?

Raul Pont: Essa nova dinâmica da ecosol é resultado, principalmente, da afirmação do caráter transformador da economia solidária. É dentro desse contexto que a ecosol se afirma como instrumento da classe trabalhadora na luta de classes. A visão de que o fim último da ecosol é a transformação social permite a construção de uma estratégia de longo prazo para a mesma. Não se quer somente uma maior geração de emprego e renda para homens e mulheres, mas se visa, principalmente a transformação do atual estágio da sociedade, e tal transformação vai desde as relações de propriedade e produção, como também uma nova postura ética e moral, em que sai de cena a maximização do lucro e entra o desenvolvimento pessoal e social dos participantes do empreendimento solidário.


“Na medida em que a ecosol se constrói como instrumento de transformação social, os partidos vão agregando em suas pautas as lutas do movimento” Raul Pont


Brasil Autogestionário: Como a Economia Solidária e o tema da Autogestão estão sendo incluídas nas proposições da esquerda brasileira?

Raul Pont: Isso ocorre, mas de maneira lenta. Na medida em que a ecosol se constrói como instrumento de transformação social, os partidos vão agregando em suas pautas as lutas do movimento. Hoje, já existem partidos bem avançados nessa construção como o Partido dos Trabalhadores, mas em geral, essa assimilação é mais lenta.


Brasil Autogestionário: Identificamos hoje na América Latina, e no Brasil em particular, a emergência de um novo movimento social e econômico em torno da Economia Solidária, organizados em diversos Fóruns, Redes e ONGs. Em sua opinião qual o significado desse novo movimento social para o atual estágio de luta de classes?

Raul Pont: Os temas da autogestão e da economia solidária ainda são pouco construídos dentro da esquerda brasileira e geralmente vem ligado ao conceito de cooperativismo. No entanto, nota-se que aos poucos esse cenário vem mudando. O número de trabalhos escritos sobre esses dois temas aumentou muito desde o início da década de 90. No plano governamental, foi criada no início do governo Lula a Secretaria Nacional de Economia Solidária, a SENAES, que é responsável pelo desenvolvimento da ecosol dentro do governo. Claro que os recursos repassados ainda são bastante abaixo do necessário, mas a própria criação da secretaria já é algo que indica uma mudança na relação entre Estado e ecosol.


Brasil Autogestionário: Em que medida esse movimento contribui para um processo de renovação do socialismo?

Raul Pont: Ele tem a possibilidade de reconstruir o socialismo sobre novas bases. A experiência do socialismo real teve forte caráter burocrático e centralizador. A autogestão teve um papel muito pequeno dentro dessas sociedades. A economia solidária surge então como a prática, através da autogestão, de algo caro para o socialismo: o controle do trabalho sobre o processo produtivo. E mostra que isso é possível na prática através da autogestão.


“…Pode-se ver a ecosol como anti-capitalista, pois se apóia e defende a mudança radical no atual processo produtivo hegemônico, e como socialista já que seus valores são congruentes com os valores socialistas” Raul Pont


Brasil Autogestionário: É possível identificar hoje na esquerda três posições a respeito da Economia Solidária. Uma que é crítica, no qual se identifica a Economia Solidária como uma prática “complementar” à economia capitalista, sendo funcional ao sistema. A outra visão, cuja referencia está em Paul Singer, identifica a Economia Solidária como sementes/embriões de socialismo nos interstícios do capitalismo, com potencial e sentido contra-hegemônico, portanto, como uma prática anti-capitalista. E a terceira que a identifica como uma proposta “anarquista”.Qual sua opinião sobre essas três visões antagônicas da esquerda a respeito da Economia Solidária?

Raul Pont: Creio que é possível hoje afirmar que a economia solidária atua como a sinalização de que algo diferente da maximização do lucro é possível. Nesse sentido, pode-se ver a ecosol como anti-capitalista, pois se apóia e defende a mudança radical no atual processo produtivo hegemônico, e como socialista já que seus valores são congruentes com os valores socialistas. Assim, ver a ecosol como processo complementar à economia capitalista não é possível já que os dois processos de produção atuam sob lógicas e objetivos diferentes. É na luta contra o atual sistema de produção que a ecosol se fortalece.


Brasil Autogestionário: Em sua opinião porque uma parcela significativa da esquerda socialista ainda é crítica ao tema da autogestão?

Raul Pont: No meu ver, tal posição ainda é resquício do socialismo real de matriz burocrática, onde o cunho centralizador do partido único era inegável. Mas creio que uma mudança em tal mentalidade já começou a ocorrer. Temos exemplos importantes de um novo pensar, como o já citado Paul Singer.


“Hoje, demonstrada a viabilidade da ecosol e a possibilidade da autogestão, qualquer projeto socialista que não tome esses dois elementos como aspectos centrais é um projeto caduco”. Raul Pont


Brasil Autogestionário: Existe hoje espaço na esquerda para um projeto socialista baseado na autogestão?

Raul Pont: Claro que existe. Diante da atual crise e do conseqüente enfraquecimento da hegemonia neoliberal, se faz mais do que necessário um novo projeto de desenvolvimento. A economia solidária deve fazer, dentro de uma perspectiva socialista, parte desse projeto e fator fundante de uma nova ética produtiva, além de dar prioridade na geração de emprego e renda. Hoje, demonstrada a viabilidade da ecosol e a possibilidade da autogestão, qualquer projeto socialista que não tome esses dois elementos como aspectos centrais é um projeto caduco.


“ A construção do socialismo passa pela construção da ecosol, ou melhor, que a primeira é a segunda em perspectiva”. Raul Pont


Brasil Autogestionário: Que posição você acha que as forcas políticas de esquerda, socialista, deveriam assumir em relação ao tema da Economia Solidária?

Raul Pont: A posição mais coerente seria de apoio ao desenvolvimento dos empreendimentos de ecosol e a assimilação cada vez maior que atualmente, a construção do socialismo passa pela construção da ecosol, ou melhor, que a primeira é a segunda em perspectiva.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ditadura Amiga no Oriente Médio: Após 30 anos de proibição, sauditas vão ao cinema pela 1ª vez

Enquanto a mídia faz sua campanha contra o Irã e contra a Coréia do Norte ....




Após três décadas sem cinema - desde que a atividade foi proibida nos anos 70 - o público da capital saudita, Riad, teve pela primeira vez a oportunidade de assistir a uma obra na tela grande.

O filme em cartaz foi uma produção nacional intitulada Menahi - uma comédia sobre um beduíno ingênuo que se muda para a cidade grande.

Alguns religiosos radicais tentaram afugentar a audiência e interromper a exibição.
Nenhuma mulher teve autorização de assistir ao filme na capital, embora algumas tivessem podido ver a obra - sob restrições - em outras cidades.O país começou a abrir espaço para as artes desde que o rei Abdullah chegou ao trono em 2005.Mas foram necessários cinco meses para que os produtores do filme conseguissem permissão do governo para exibir a obra em Riad, em um centro cultural dirigido pelo governo. Houve pouca publicidade antecipadamente.Os cinemas públicos foram fechados na Arábia Saudita na década de 70, quando líderes profundamente conservadores temiam que eles levassem a um ambiente misto - com homens e mulheres - e minassem os valores islâmicos.Desde então, houve pouca diversão pública, exceto corridas de cavalos e camelos e festivais celebrando a cultura tradicional saudita.

Mulheres

O filme foi produzido pela companhia Rotana, de propriedade do príncipe saudita bilionário Alwaleed bin Talal.
A companhia exibiu anteriormente o filme em várias outras cidades sauditas, inclusive Jedá e Taif. Em algumas as mulheres puderam assistir ao filme em recintos separados dos homens.Mas a prática islâmica é mais rigorosa em Riad.O filme vem sendo exibido em Riad desde sexta-feira no Centro Cultural Rei Fahd, onde duas sessões diárias são realizadas com lotação quase total. As salas têm capacidade para cerca de 300 pessoas.
No sábado, um grupo de homens conservadores se concentrou diante do centro, tentando dissuadir os espectadores de ver o filme.Mas a maioria ignorou os apelos e entrou na fila para comprar refrigerantes e pipoca, aguardando uma oportunidade de posar com os astros do filme.O príncipe Alwaleed, sobrinho do rei Abdullah, disse que acredita que os cinemas acabarão abrindo na Arábia Saudita. No ano passado, o reino realizou seu primeiro festival de cinema nacional.

Informações de BBC