domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quem matou Orlando Zapata?

 
Invasores presos: Baía dos Porcos (Playa Girón)1961

A absoluta  ausência de mártires que  a contra-revolução cubana  padece  é proporcional à sua falta de escrúpulos. É difícil  morrer-se  em Cuba, não porque as expectativas de vida sejam as do primeiro mundo -  ninguém morre de fome, pese a  carência  de recursos, nem  de enfermidades  curáveis,  mas porque impera a  lei  e a  honra. 

Os mercenários cubanos podem  ser detidos e julgados segundo  as leis vigentes – em nenhum  país as leis podem  ser violadas:  receber dinheiro e trabalhar com a embaixada de um país considerado inimigo, nos Estados Unidos,  por exemplo, pode causar  severas sanções de privação de liberdade -, mas eles sabem que em Cuba ninguém desaparece, nem é assassiando  pela polícia. Não há “pontos obscuros”  para interrogatórios “não convencionais”  à  presos-desaparecidos, como os de Guantânamo ou  Abu Ghraib. Ademais, uns dão sua vida por um ideal que  prioriza a felicidade dos demais, não por um que prioriza a própria vida.
Nas últimas horas, entretanto, algumas agências de notícias e  governos têm sido rápidos em condenar Cuba pela  morte  em  prisão,  em 23 de Fevereiro, do cubano  Orlando Zapata Tamayo. 

Toda morte é dolorosa e lamentável. Mas a cobertura da mídia neste momento está  entusiasmada: ao fim – parece dizer – aparece um  “herói”.  Por  isso se impõe explicar brevemente, sem qualificativos desnecessários, quem  foi  Zapata Tamayo.

Apesar de todas as maquiagens, se trata de um prisioneiro comum  que iniciou  sua atividade criminosa  em 1988. Processado pelos delitos de  “violação de domicílio” (1993), “lesão  corporal  menos grave” (2000), “fraude” (2000), “lesão  corporal e posse de arma branca” (2000: ferimentos e fratura lineal do crânio no cidadão  Leonardo  Símon  com o uso de um facão) e   “alteração da ordem” e  “desordem pública” (2002), entre outras causas em nada vinculadas  à política,   foi libertado  sob fiança em 9 de Março de 2003 e voltou a delinquir no dia 20 do  mesmo mês.
Considerados  seus antecedentes e condição penal, foi condenado desta vez  a 3 anos de cárcere, mas a sentença se ampliou de forma considerável nos anos seguintes  por seu comportamento agressivo na  prisão.
Na  lista dos chamados presos políticos elaborada  para condenar Cuba em 2003 pela manipulada e extinta  Comissão dos Direitos Humanos da ONU, não se vê  seu nome -  como afirma, sem verificar as fontes e os fatos, a agência espanhola EFE, apesar de     sua  última detenção  coincidir  no tempo com a deles. Se tivesse havido uma intenção política prévia, não teria sido  liberado onze dias antes. 
Ávidos em mobilizar o maior número possível de suspeitos ou reais correligionários nas fileiras da contrarevolução, por um lado, e convencidos, por outo lado, das  vantagens materiais  que envolvia  uma “militância” alimentada por  embaixadas estrangeiras, Zapata Tamayo adotou  o perfil “político”  quando sua biografia penal já era  extensa. No novo papel  foi estimulado  uma e outra vez pelos seus mentores políticos para iniciar  greves de fome que minaram definitivamente seu organismo.
A medicina cubana o  acompanhou. Nas diferentes  instituições hospitalares  onde foi tratado há especialistas altamente qualificados, – aos quais se agragaram consultores de diferentes centros-, que não pouparam  recursos em  seu tratamento. Ele recebeu alimentação intravenosa. A família foi informada de cada passo. Sua vida se prolongou durante dias por  respiração artificial. De tudo  isto existem provas documentais.
Mas há perguntas sem responder,  que não são médicas. Quem e por que estimularam a  Zapata  manter uma atitude que já  era obviamente suicida? Para quem é conveniente  a sua morte? O resultado fatal alegra intimamente aos  hipócritas “sofridos”.
Zapata era o candidato perfeito: um homem “dispensável” para os inimigos da Revolução, e fácil de convender à  que  persistisse  em um esforço absurdo, de exigências impossíveis   -  Zapata  queria televisão, cozinha e telefone pessoal em sua cela -   que nenhum dos verdadeiros líderes teve a coragem de manter. 
Cada greve anterior dos  instigadores havia sido  anunciada como uma provável morte, porém   estes grevistas sempre  desistiam  antes que  ocorressem incidentes de saúde irreversíveis. Instigado  e encorajado a prosseguir até a morte – estes mercenários estavam esfregando as mãos  com essa expectativa -, apesar dos esforços  não poupados dos médicos, seu nome agora é exibido com cinismo como  um troféu coletivo.


Médicos cubanos deram atendimento a Tamayo ainda que este recusasse.

Como abutres estavam alguns meios de comunicação -  os mercenários do “patio” e da  direita internacional, penduradas em torno do  morimbundo.  Sua morte era  uma festa. Nojento  o show. Porque os que escrevem não  se condoem com a morte de um ser humano - em um país  sem assassinatos extra-judiciais -, mas   quase alegremente  a utiliam  com premeditados  fins políticos.
Zapata Tamayo foi manipulado e de certa forma conduzido à auto-destruição  premeditadamente, para satisfazer   necessidades políticas alheias. Acaso isto não é uma  acusação contra aqueles que agora  se apropriam de sua “causa”?  Este caso, é consequência direta  da política  assassina contra Cuba, que estimula  a  emigração ilegal, o desaacato e a  violação das leis e da ordem estabelecidas.  Eis  aí a única causa dessa  morte indesejável.
Por que tem  governos que se unem   à  esta campanha de difamação, se sabem – porque eles  sabem  sim -  que em Cuba não se executa, nem  se tortura e nem se empregam métodos extrajudiciais? Em qualquer país europeu podem  ser encontrados casos -  por vezes, de franca violaçâo  de   princípios éticos -, não tão bem atendidos como o  nosso. Alguns, como aqueles  irlandeses  que lutaram por sua  independência  na década de oitenta, morreram  em meio a total indiferença dos políticos.
Por que  tem  governantes  que iludem  a denúncia explícita do  injusto confinamento que  sofrem  cinco cubanos nos  Estados Unidos   por  lutar contra  o terrorismo, e se apressam em condenar Cuba  se a pressão da mídia não põe  em perigo sua imagem política?
Cuba já disse uma vez: podemos enviar-lhes  todos os mercenários e suas famílias, mas nos devolvam nossos heróis. Nunca se   poderá  usar  a  chantagem política contra a Revolução Cubana.
Esperamos que os adversários imperiais  saibam  que nossa pátria não poderá jamais ser intimidada, curvada, nem separada  de seu heróico e digno caminho por conta de  agressões,   mentiras  e   infâmia.

Esta é uma tradução livre de um artigo publicado no CUBADEBATE, a tradução foi encontrada no Blog do Atheneu

EUA: A maior população carcerária do mundo

 Mumia Abu-Jamal: Preso político americano, ativista negro colocado no corredor da morte por juiz racista
 
Em tempos onde a direita subitamente levanta a bandeira dos Direitos Humanos para questionar o modo de como Revolução Cubana trata seus presos, o periódico cubano Granma levanta alguns dados acerca do relacionamento dos Estados Unidos com a sua populaçao carcerária. 


A desfaçatez do governo dos Estados Unidos
Um em cada quatro presos no mundo está num cárcere dos Estados Unidos. Na composição da população penal constata-se a predominância racista: um em cada 15 adultos negros permanece preso; um em cada nove, entre 20 e 34 anos, e um em cada 36, hispânicos. Dois terços dos condenados à prisão perpétua são negros ou latinos e no estado de Nova Iorque, apenas 16,3% desses réus são da raça branca.


A cada ano morrem 7 mil pessoas em cárceres estadunidenses, muitas são assassinadas ou suicidam-se.


Por exemplo, os guardas nas prisões dos Estados Unidos usam regularmente pistolas Taser. De acordo com um relatório duma organização, 230 cidadãos estadunidenses morreram pelo uso deste tipo de armas desde 2001. Na denúncia, citou-se o caso de uma prisão no condado de Garfield, Colorado, acusada de utilizar regularmente estas pistolas ou pulverizadores de pimenta contra os presos, e de atá-los depois a cadeiras em posturas raras durante várias horas.


Recentemente, informou-se que 72 pessoas perderam a vida nos últimos cinco anos nos centros de detenção de emigrantes.


Um relatório divulgado pelo Departamento da Justiça dos Estados Unidos no mandato final de W. Bush assinalava que havia 22.480 presos em prisões estatais e federais que eram portadores do HIV ou aidéticos confirmados, e estimava-se que 176 réus estatais e 37 federais morreram por causas relacionadas à Aids. Por exemplo, de acordo com uma informação do Los Angeles Times de 20 de setembro de 2007, foram registrados 426 óbitos nas prisões da Califórnia em 2006, devido a um tratamento médico tardio. Deles, 18 óbitos foram considerados como "evitáveis" e outros 48 como "possivelmente evitáveis". Um recluso diabético de 41 anos, Rodolfo Ramos, morreu depois de ter sido abandonado sozinho e coberto por suas próprias fezes durante uma semana. Os funcionários da prisão não lhe deram tratamento médico, apesar de saber de sua doença.


Ao menos em 40 estados da União, os tribunais tratam como adultos norte-americanos de entre 14 e 18 anos. Uns 200 mil menores são julgados como adultos em tribunais nos Estados Unidos, apesar de já ter sido demonstrado que este proceder é errado.


Em treze centros de detenção de menores nos Estados Unidos verifica-se elevados índices de abuso sexual e, em média, um em cada três jovens presos denunciou ter sido vítimas de abuso sexual.


Nas prisões, há aproximadamente 283 mil doentes mentais, quatro vezes mais que nos hospitais psiquiátricos.


Os 4,5% dos presos em cárceres estatais e federais foram vítimas uma ou mais vezes de abusos sexuais. Os 2,9% disseram que foram vítimas destes abusos, nos quais esteve envolvido o pessoal das penitenciárias, enquanto 0,5% afirmou ter sido atacado sexualmente por outros presos e pelo pessoal penitenciário.

Ações brutais e torturas contra presos são próprias das prisões dos Estados Unidos. Há uns poucos anos, um filme britânico, Torture: America’s Brutal Prisons (Tortura: As prisões brutais dos Estados Unidos), mostra cenas horrorosas captadas por câmaras de vigilância na Flórida, Texas, Arizona e Califórnia, onde os guardas batem severamente nos presos — até matam vários deles — com pistolas Taser e elétricas, ataques de cachorros, borrifadas de químicos e dispositivos perigosos para imobilizar. Contudo, o mais alarmante é que o isolamento prolongado, que é uma maneira de abuso mental aos presos, os prejudica demais. Muitos presos enlouquecem (se já não eram doentes mentais) ou suicidam-se, por esta punição desumana. Encontram-se em unidades de segregação restritiva e muitos deles também já foram isolados — mas o governo não divulga esses dados. A maioria dos presos isolados em solitárias nos Estados Unidos há mais de cinco anos que permanece assim.

Original em Granma  

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Frutífero diálogo de Raúl com Lula


O presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, general-de-exército Raúl Castro Ruz, e o presidente da República Federativa do Brasil, Ex.mo Sr. Luis Inácio Lula da Silva, tiveram um diálogo frutífero na tarde da quarta-feira, no Palácio da Revolução, como parte da visita de trabalho do máximo dirigente da irmã nação sul-americana ao nosso país.

O encontro decorreu conforme o ótimo estado das relações bilaterais e a sólida amizade que une os povos de Cuba e do Brasil. Os dignitários conversaram sobre os desafios que os os dois países enfrentam. Além disso, exprimiram satisfação pelo desenvolvimento sustentável da colaboração entre o Brasil e Cuba em diversos setores, designadamente, no econômico, e a decisão de continuar ampliando-a.

Raúl salientou o papel decisivo do Brasil no presente e no futuro da região. Lula, de sua parte, expressou alegria pela quarta visita que realiza a Cuba desde sua eleição como presidente.

Marcaram também presença o vice-presidente do Conselho de Ministros, Ricardo Cabrisas Ruiz; o ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez Parrilla; o ministro do Comércio Externo e Investimento Estrangeiro, Rodrigo Malmierca Díaz, e o embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez.

Pela parte brasileira, assistiram o ministro da Defesa, de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de Desenvolvimento Agrário e chefe da Secretaria de Comunicação, Nelson Jobim, Miguel Jorge, Guilherme Cassel e Franklin Martins, respectivamente; o vice-ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, o assessor especial da Presidência, professor Aurélio Garcia; e o embaixador do Brasil em Cuba, Bernardo Pericás.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A poucos minutos dos escombros de Porto Príncipe, vende-se champanhe a 150 dólares

Foto: Praia Haitiana, proibida a entrada de pobres


Área rica a 500 metros do centro da capital haitiana não foi sequer atingida pelo terremoto. Os moradores continuam fazendo compras e usando segurança particular

Cerca de 500 metros acima do devastado centro de Porto Príncipe, existe outro mundo. Um mundo onde há empregadas domésticas, seguranças armados, carros esportivos de forte cilindrada, altos muros de proteção com cercas elétricas e imensos cartazes com uma caveira desenhada e uma mensagem escrita somente no idioma crioulo: “Danje pa manyen" (Perigo, não toque). Recado destinado à maioria pobre do país, que não fala francês.

Neste mundo do andar de cima, não se veem cenas como a da foto abaixo.

Foto: Hospital improvisado para atender as vítimas


Lá, as casas com seus jardins e piscinas estão intactas, muitas sem nenhum sinal de dano. Como se até o terremoto tivesse respeitado a cerca elétrica e poupado as residências da montanha verde e fresca da parte alta de Petionville.

Na zona alta de Porto Príncipe, vive a elite rica do país. Ali estão as casas de senadores, de ex-presidentes, de fazendeiros, de embaixadores, de europeus e norte-americanos. Também estão os escritórios comerciais de famílias que controlam o porto e o edifício onde mora o dono da principal lotérica do Haiti, intacto na parte mais alta da montanha. Tampouco a igreja desta colina, Saint Pierre, com sua torre estreita, sofreu algum dano.

Claro que influencia a qualidade das construções, mas outras zonas ricas da capital, como a Upper Turgeau, foram afetadas e mesmo a parte baixa de Petionville, onde está o hotel Montana, desmoronou completamente. Na colina dos ricos, o terremoto chegou com menos força, o que deve aprofundar ainda mais a desigualdade de renda no país.

No Haiti, o Coeficiente de Gini, que mede a distribuição de riqueza, antes do terremoto era o oitavo pior do mundo, sendo que 80% da população vivia abaixo da linha da pobreza e 54% em condições de extrema pobreza, com uma taxa de desemprego que afetava dois terços da população.

“Foi terrível”, conta o engenheiro civil Raoul, enquanto o filho de 10 anos se esconde atrás de suas pernas, brincando. “Nós nos assustamos muito, mas por sorte nossa casa ficou intacta”. Um vigia armado faz a sua segurança desde a cerca do jardim. Outro o acompanha enquanto desce de sua BMW. Um zelador uniformizado abre a porta da casa, como fazia há 20 dias.

Nada mudou. Não se escutam ruídos. Uma brisa fresca alivia os efeitos do sol que esturrica a parte baixa da cidade e afasta os maus odores que vêm de lá. Na quadra onde vive o engenheiro, há muitos seguranças armados e poucos habitantes. “Os brancos se foram quase todos”, conta um vigilante. “Dos ricos, ficaram somente uns de origem haitiana”.

Muitos dos vizinhos de Raoul deixaram a cidade um dia depois do terremoto em aviões particulares ou por terra até Santo Domingo ou para seus países de origem. Nesta zona da cidade vivem também os poucos haitianos com mais recursos e os estrangeiros que investem no país. “Poderia ter ido embora também, mas de repente este desastre doloroso era a única maneira de dar um futuro ao Haiti. Agora é uma tábula rasa com a qual podemos começar tudo de novo”, diz Raoul.

Na Upper Petionville, os bares coloniais não fecharam em nenhum momento, assim como os restaurantes de luxo. As lojas de moda, as de carros importados e as de relógio de grife voltaram à normalidade pouco depois do terremoto.

Uma senhora de aspecto europeu admira as vitrines. Calças brancas, óculos Calvin Klein, ela olha com curiosidade em frente a uma loja de roupa norte-americana, mas não entra. O filho a chama e os dois riem das luzes que saem dos sapatos da criança.

"Lamento por estes pobrezinhos"

Nos supermercados mais luxuosos de Petionville se vendem vinhos e queijos franceses, embutidos espanhóis ou italianos e produtos norte-americanos. Perto da porta de entrada de um deles, ainda fechado, o dono Erwin Berthold comenta: “Todo o país está sofrendo, mas nós aqui estamos bem, estamos limpado tudo e estamos prontos para voltar a abrir. Precisamos somente de um pouco de segurança. Então, que nos enviem os soldados da Marinha”.

Edilio Cipriani tem 70 anos, sendo os últimos 12 vividos no Haiti. Era dono de duas sorveterias, agora lhe resta somente a chamada Fior di Latte, que fica atrás da praça Saint Pierre. “Tinha outra nova na parte baixa de Petionville, mas restaram somente escombros. Esta, em compensação, está perfeita. Tive muita sorte. Lamento muito por todos estes pobrezinhos que morreram e ficaram sem nada. Todos os meus empregados perderam suas casas, mas pelo menos ninguém morreu”.

Na praça do bairro também se encontram algumas barracas entre as quadras de tênis e os parques. São de habitantes da parte baixa da colina que perderam suas casas e decidiram esperar por ajuda mudando-se para onde estão os vizinhos mais afortunados. À noite acendem fogo para se aquecer e estão construindo um pequeno acampamento, somente aparentemente parecido com os da parte baixa da cidade. A praça, ainda que invadida, continua sendo um mercado onde muitos compram flores bonitas e coloridas.

Joseph observa o movimento quase chorando. É um jovem economista do principal grupo bancário do país. “É o fim”, comenta. “Para o Haiti não há futuro, pelo menos nos próximos anos. Assim que possível vou me encontrar com meus primos em Atlanta. Tenho visto e eles estão procurando trabalho para mim lá”.

Outras localidades

A 300 metros dali está o Valle Boudon, um bairro esquecido por todos. Um cartaz em inglês na entrada faz a apresentação: “Área esquecida. Nós precisamos de ajuda”. Este é um bairro “não convencional”, segundo definem os moradores. Uma forma elegante para dizer que era um bairro invadido. Agora só se pode entrar a pé, porque os escombros fecharam a única rua. O cheiro de morte está por toda a parte. Das ruínas se vê uma mão com unhas pintadas de vermelho. “Há outras quinze pessoas somente nestas três casas”, conta um morador. “Ninguém nos ajudou”.

Fora de Porto Príncipe, seguindo a costa, há vários povoados que perderam as poucas construções que tinham. O mesmo cenário é encontrado até chegar a Kaliko Beach, um luxuoso resort onde os funcionários da ONU e europeus iam para relaxar, almoçar em frente ao mar, dançar ou passear de veleiro.

Joe Thebaud, o proprietário, explica que não houve danos no estabelecimento. “Aqui temos champagne de até 150 dólares a garrafa”, diz, mostrando uma Veuve Clicquot. “Não se quebrou uma sequer”. As piscinas seguem cheias de água cristalina, duas ou três pessoas se banham, outras comem em frente ao mar. “Desde 12 de janeiro temos poucos hóspedes”, segue com um semblante triste. “Se as coisas não melhorarem, nos restará fechar”.

Esta excelente reportagem foi publicada no Opera Mundi, existe também uma segunda parte; confira aqui!



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Honduras: O golpe de estado "Perfeito"


Por Larissa Ramina

“Os hondurenhos assistiram no dia 27 de janeiro ao último capítulo de um golpe de Estado perfeito”. Foi assim que o enviado especial do periódico espanhol El País em Honduras resumiu a posse do novo presidente. Os fatos falam por si: Porfirio Pepe Lobo assumiu a presidência, enquanto Manuel Zelaya partiu para o exílio e o usurpador do poder Roberto Micheletti foi nomeado deputado vitalício pelo Congresso e, assim como os militares, foi anistiado.

O presidente Manuel Zelaya, escorraçado por um golpe militar em junho de 2009 e trancado durante 129 dias na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, deixou seu país em direção à República Dominicana. Nada bastou para aplacar a crise: nem as negociações da OEA, nem a mediação do presidente costarriquenho Oscar Arias, nem a posição firme da diplomacia brasileira, nem o isolamento internacional. Zelaya, eleito democraticamente em 2005, acabou aceitando o exílio após uma batalha infrutífera de longos meses para recuperar a presidência de Honduras. Ao mesmo tempo, o novo presidente, que enfrentou em 29 de novembro eleições boicotadas pelos partidários do presidente deposto, bem como denúncias de fraudes, assumiu as rédeas do país para protagonizar o fechamento do golpe, sob o falacioso argumento do “fato consumado”.

A partida de Zelaya já era esperada, pois Pepe Lobo havia prometido um salvo-conduto para o presidente e sua família. Micheletti poderá, finalmente, considerar-se um vitorioso. Conseguiu dar cabo da democracia em Honduras, livrar-se definitivamente de Zelaya, empossar um novo presidente como se nada tivesse acontecido, e ainda ser declarado deputado vitalício. Venceu a queda de braço com a comunidade internacional, que se posicionou contra o golpe, cortou ajuda financeira e rompeu relações diplomáticas. A imagem de Porfirio Lobo, tomando posse como presidente ao lado de Romeo Vásquez, o recém-anistiado general envolvido no golpe, retrata o desfecho perfeito.

Não obstante, a tarefa de Pepe Lobo, representante da oligarquia hondurenha, não será fácil. O novo presidente terá que enfrentar o desafio de governar um país profundamente dividido politicamente e isolado internacionalmente. Zelaya foi destituído do poder em razão de seu distanciamento com a oligarquia. Num país onde os dois grandes partidos só se distinguem pela cor de seus emblemas, a cooperação com Cuba nas áreas de saúde e educação, e com a Venezuela nas áreas agrícola e energética, não pôde ser tolerada. Após uma espécie de conversão rumo a direções opostas ao neoliberalismo, obteve apoio de amplos setores do movimento popular hondurenho, que resistirão ao novo governo.

Por outro lado, a anistia recém-votada pelo Congresso para beneficiar todos os implicados no ocorrido não vai melhorar a imagem das novas autoridades, ainda que sob o manto do “princípio da reconciliação” argüido por Pepe, e a promessa de um governo de união nacional. Para coroar a situação, o golpe levou o país, um dos mais pobres do subcontinente, ao colapso econômico.

O isolamento internacional ficou comprovado na cerimônia de posse, que contou com a presença de meros três chefes de Estado – Taiwan, Panamá e República Dominicana, neste caso em virtude do interesse em retirar Zelaya do país. Isso demonstra que o reconhecimento da comunidade internacional não deverá ser desafio menor, em se tratando de um governo que simboliza a mais flagrante continuidade de um golpe de Estado.


LARISSA RAMINA é doutora em Direito Internacional pela USP e professora de Direito Internacional da UniBrasil.

Original em Carta Maior

Cuba é uma ditadura ?

As circunstâncias históricas levaram Cuba a restringir liberdades. Mas seu sistema político deveria ser analisado sem endeusamento do modelo liberal, no qual a existência de direitos formais não representa garantias para um funcionamento democrático baseado na participação popular.


Breno Altman


O novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues (Folha de S.Paulo), no último dia 11/02, respondeu afirmativamente à pergunta que faz as vezes de título desse artigo. Com ressalvas de contexto, identificando no longo bloqueio norte-americano uma das causas do que chamou de "fechamento político", Dutra assumiu a mesma definição dos setores conservadores quando abordam a natureza do regime político existente na ilha caribenha.

Essa discussão é um capítulo importante na agenda da contra-ofensiva à hegemonia do pensamento de direita. Afinal, a possibilidade do socialismo foi estabelecida pelos centros hegemônicos não apenas como economicamente inviável e trágica, mas também como intrinsecamente autoritária.

Quando o colapso da União Soviética permitiu aos formuladores do campo vitorioso declarar o capitalismo e a economia de livre-mercado como o final da história, de lambuja também fixaram o sistema político vigente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos como a única alternativa democrática aceitável.

Não foram poucos os quadros de esquerda que assumiram esse conceito como universal e abdicaram da crítica ao funcionamento institucional dos países capitalistas. Alguns se arriscaram a ir mais longe, aceitando esse modelo como paradigma para a classificação dos demais regimes políticos.


Na tradição do liberalismo, base teórica da democracia ocidental, a identificação e a quantificação da democracia estão associadas ao grau de liberdade existente. Quanto mais direitos legais, mais democrático seria o sistema de governo. No fundo, democracia e liberdade seriam apenas denominações diferentes para o mesmo processo social.


Pouco importa que o exercício dessas liberdades seja arbitrado pelo poder econômico. As disputas eleitorais e a criação de veículos de comunicação,por exemplo, são determinadas em larga escala pelos recursos financeiros de que dispõem os distintos setores políticos e sociais.

No modelo democrático-liberal, afinal, os direitos formais permitem o acesso irrestrito das classes proprietárias ao poder de Estado, que podem usar amplamente sua riqueza para mercantilizar a política e seus instrumentos, especialmente a mídia. Basta acompanhar o noticiário político para se dar conta do caráter cada vez mais censitário da democracia representativa.

A revolução cubana ousou ter entre suas bandeiras a criação de outro tipo de modelo político, no qual a democracia é concebida essencialmente como participação popular. Ao longo de cinco décadas, mesmo com as dificuldades provocadas pelo bloqueio norte-americano, forjou uma rede de organismos que mobilizam parcelas expressivas de sua população.

A maioria dos cubanos participa de reuniões de células partidárias, do comitê de defesa da revolução de sua quadra, dos sindicatos de sua categoria, além de outras organizações sociais que fazem parte do mecanismo decisório da ilha. Não são somente eleitores que delegam a seus representantes a tarefa de legislar e governar, ainda que também votem para deputados - o regime cubano é uma forma de parlamentarismo. Esse tipo de participação talvez explique porque Cuba, mesmo enfrentando enormes privações, não seguiu o mesmo curso de seus antigos parceiros socialistas.

O modelo cubano não nasceu expurgando seus opositores ou instituindo o mono-partidarismo. Poderia ter se desenvolvido com maior grau de liberdade, mas teve que se defender de antigos grupos dirigentes que se decidiram pela sabotagem e o desrespeito às regras institucionais como caminhos para derrotar a revolução vitoriosa. Na outra ponta, as diversas agremiações que apoiavam a revolução (além do Movimento 26 de Julho, liderado por Fidel, o Diretório Revolucionário 13 de Março e o Partido Socialista Popular) foram se fundindo em um só partido, o comunista, oficialmente criado em 1965.

Os círculos contra-revolucionários, patrocinados pelo governo democrata de John Kennedy, organizaram a invasão da Baía dos Porcos em 1961. Aliaram-se a CIA em algumas dezenas ou centenas de tentativas para assassinar Fidel Castro e outros dirigentes cubanos. Associados a seguidas administrações norte-americanas, criaram uma situação de guerra e passaram a operar como braços de um país estrangeiro que jamais aceitou a opção cubana pela soberania e a independência.

A restrição das liberdades foi a salvaguarda de uma nação ameaçada, vítima de uma política de bloqueio e sabotagem que já dura meio século. Os Estados Unidos dispõem de diversos planos públicos, para não falar dos secretos, cujo objetivo é financiar e apoiar de todas as formas a oposição cubana.


Vamos combinar: já imaginaram, por exemplo, o que ocorreria se um setor do Partido Democrata recebesse dinheiro cubano, além de préstimos do serviço de inteligência, para conquistar a Casa Branca?

Claro que o ambiente de guerra e a redução das liberdades formais impedem o desenvolvimento pleno do modelo político fundado pela revolução de 1959. Vícios de burocratismo e autoritarismo estão presentes nas instâncias de poder. Mas ainda nessas condições adversas, o governo cubano veio institucionalizando interessante sistema de participação popular. O contrapeso ao modelo de partido único, opção tomada para blindar a revolução sob permanente ataque, é um sistema de organizações não-partidárias que exercem funções representativas na cadeia de comando do Estado.

A Constituição de 1976, reformada em 1992, estabeleceu o ordenamento jurídico do modelo. Um dos principais ingredientes foi a criação do Poder Popular, com suas assembléias locais, municipais, provinciais e nacional.


Seus representantes são eleitos em distritos eleitorais, em voto secreto e universal. Os candidatos são obrigatoriamente indicados por organizações sociais, em um processo no qual o Partido Comunista não pode apresentar nomes - aliás, ao redor de 300 dos 603 membros da Assembléia Nacional não são filiados comunistas.
O Poder Popular é quem designa o Conselho de Estado e o Conselho de Ministros, principais instâncias executivas do país, além de aprovar as leis e principais planos administrativos. Seus integrantes não são profissionais da política: continuam a desempenhar suas atividades profissionais e se reúnem, em âmbito nacional, duas vezes ao ano para deliberar sobre as principais questões.

A Constituição também prevê mecanismos de consulta popular. Dispondo desse direito, o dissidente Oswaldo Payá, líder do Movimento Cristão de Libertação, reapresentou à Assembléia Nacional do Poder Popular, em 2002, uma petição com 10 mil assinaturas para que fosse organizado referendo que modificasse o sistema político e econômico na ilha.

O governo reuniu 800 mil registros para propor outro plebiscito, que tornava o socialismo cláusula pétrea da Constituição. Teve preferência pela quantidade de assinaturas. Cerca de 7,5 milhões de cubanos (65% do
eleitorado), apesar do voto em referendo ser facultativo, votaram pela proposta defendida por Fidel Castro.

Tratam-se apenas de algumas indicações e exemplos de que o novo presidente petista pode ter sido um pouco apressado em suas declarações. As circunstâncias históricas levaram Cuba a restringir liberdades. Mas seu sistema político deveria ser analisado com menos preconceito, sem endeusamento do modelo liberal, no qual a existência de direitos formais amplos não representa garantias para um funcionamento democrático baseado na participação popular.

Breno Altman é jornalista, diretor do site Opera Mundi (www.operamundi.com.br)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Daniel Bensaïd: um lutador irredutível

O filósofo e militante comunista Daniel Bensaïd morreu em janeiro aos 64 anos, em Paris, lutando, como em maio de 1968, pela união das esquerdas contra o capitalismo, com a fundação do Novo Partido Anticapitalista (NPA). Professor de Filosofia da Universidade de Paris VIII, foi fundador da Juventude Comunista Revolucionária, em 1966, e da Liga Comunista Revolucionária, em 1969, e dirigente da Quarta Internacional.

Nesta entrevista, concedida durante o lançamento do livro “Os irredutíveis” (Boitempo), em São Paulo (SP), em 2008, Bensaïd discute a força simbólica das lutas operárias e estudantis de 1968 na França, as conseqüências da aliança da socialdemocracia com o Estado neoliberal, a crise capitalista e a união das esquerdas anticapitalistas. Um dos fundadores do Fórum Social Mundial, Bensaïd sugeria uma nova palavra de ordem sob a pressão da crise capitalista: “outro mundo é necessário e urgente”.

Brasil de Fato – Como o senhor avalia as manifestações de maio de 68 na França?

Daniel Bensaïd – Acho que muitas vezes se lembra do maio de 1968 insistindo muito no aspecto estudantil. Então nós que fomos estudantes, somos conhecidos, mas isso tende a esconder o que faz de 68 uma data simbólica. Eu acho que a característica foi a greve geral. Em proporção à população, é a mais importante pelo menos da história da França. Quase 10 milhões de trabalhadores em greve durante três semanas. Por outro lado, também porque participa de uma série de acontecimentos internacionais. Não se pode pensar em 68 francês sem relacioná-lo com a ofensiva de fevereiro no Vietnã, a Primavera de Praga, o movimento dos estudantes no México e no Paquistão. É um conjunto de muita carta simbólica. Isso eu acho que tem certa importância, porque a greve – não digo que poderia ser feita uma revolução socialista, mas derrubar o governo como na greve geral – abria um cenário, não só para a França, mas para Europa, totalmente distinto durante os anos 70.

Quem são os irredutíveis, hoje?

Os que lutam. São muitos, das mobilizações da juventude, que conquistaram, dois anos atrás [em 2006], uma das poucas vitórias sociais dos 15 últimos anos. A grande mobilização da juventude conseguiu a retirada da lei chamada de contrato de primeiro emprego, que precarizava o trabalho da juventude, mas tem que ver também com um contrato parecido para os desempregados. Tem começado a aparecer coletivos de jovens desempregados que estão ocupando os supermercados para repartir comida, não no sentido Robin Hood, mas para denunciar a alta dos preços. São os trabalhadores que se mobilizam contra a privatização, o fechamento de fábricas. Tem muitas atividades sociais com poucas ou muito excepcionais vitórias. A mobilização sobre pensões, seguro social, ou educação, tanto em 1995, com as grandes greves, como em 2003, foram derrotados, e também a última, a mobilização juvenil do ano passado [2007] sobre a reforma da universidade. Tudo isso se perdeu, mas há possibilidade de se recompor um espaço não só de resistência social, mas também de radicalidade política. Isso em formas distintas significa quase em todos os países da Europa, uma remobilização social sem vitórias e o início de recomposição política até com certo impacto eleitoral. Isso tem a ver também com a crise, a quase desaparição dos partidos comunistas, e um debilitamento da social-democracia.

O senhor acredita que os valores neoliberais foram desmistificados com essa crise econômica?

Não quero generalizar, mas na França agora quase ninguém se diz liberal. Liberal parece sinônimo de capitalismo mau, mafioso, desonesto, imoral. Então, todo mundo, o governo primeiro, fala que é necessário moralizar o capitalismo, reinventar, refundar o capitalismo. Então, isso é importante no sentido simbólico. Todo discurso nos 25, quase 30 últimos anos de legitimar o capitalismo, de fetichismo de mercado, tudo isso de fato eu acho que feriu de morte o deus mercado. Agora, não significa que automaticamente tenha alternativa a isso e tampouco se sabe que tipo de novo discurso se pode inventar do lado do governo ou da socialdemocracia. A crise é muito recente, é só o início, mas já abalou a socialdemocracia. Então, tem mudado o discurso, alguns que pedem a nacionalização dos bancos. O próprio governo tem desistido agora da privatização do Correio que estava prevista para este ano [2008]. Está claro que é indecente, porque o motivo, o pretexto para privatizar era para atrair 3 bilhões de euros da iniciativa privada, enquanto o governo acaba de encontrar 40 bilhões de euros para salvar os bancos. Então, isso também está deslegitimado no momento. Vai ser muito difícil, por exemplo, seguir com a reforma do seguro social com a falência dos Fundos de Pensão nos Estados Unidos. Então não sei que discurso vão inventar para tentar encontrar uma nova legitimidade. Ademais, um problema que tem a Europa é que qualquer discurso, não digo revolucionário, mas de reforma um tanto sério, imediatamente se choca com o conjunto dos tratados da Constituição européia. Então, não vai ser uma crise econômica, mas também uma crise política da Constituição européia. Com que saída, ninguém sabe, depende das lutas e a crise vai ter efeitos contraditórios, de um lado intentos de dar um passo adiante na construção política da Europa. Por exemplo, criar o que [o presidente francês Nicolas] Sarkozy reivindica: um fundo soberano, uma reserva comum financeira européia. Mas, por outro lado, a crise provoca tendências centrífugas, porque cada país tenta salvar seus bancos, como a Alemanha, a Irlanda. Então, o que vai prevalecer das tentativas vai depender muito das lutas sociais.

Como o senhor avalia hoje o contexto internacional, a crise na Europa, o crescimento do fascismo e a articulação dos partidos de esquerda?

Eu acho que a esquerda européia é distinta da América Latina, é organizada desde os anos 1920 praticamente, em torno de corrente comunista stalinista e a socialdemocracia. Os partidos comunistas, com a desaparição da União Soviética, estão muito debilitados, alguns agonizando. Por outro lado, a socialdemocracia – que necessitaria confirmar minha hipótese – tem participado durante 25 anos do desmantelamento do Estado social, que é sua base de sustentação, porque é um mecanismo de manutenção da paz social, para assegurar um certo crescimento do nível de vida. Nesse processo, foi se destruindo metodicamente tanto o sistema de seguro social, como os serviços públicos e as empresas públicas com as privatizações. As lideranças, as cúpulas da socialdemocracia também têm mudado muito. Não são só funcionários de Estado, com em um certo sentido do serviço público, agora são organicamente associados ao capital financeiro e industrial. São os gerentes de confiança do capital. Isso eu duvido que será reversível. A conseqüência de tudo isso, o debilitamento dos PCs e a mudança da socialdemocracia, é a abertura de um espaço à esquerda da esquerda tradicional. Um espaço que não é ocupado de forma homogênea. A posição é que, para um futuro previsível pelo menos, haja uma total independência da socialdemocracia, nenhuma coligação, nem a nível de prefeitura, nem de governo etc. Isso parte da idéia de que saímos de uma derrota histórica no século 20. Então, é um início de reconstrução e, se queremos reconstruir algo sólido, não se pode confundir desde o início com operações táticas que confundem a gente. Tem que traçar para médio ou longo prazo uma perspectiva de reconstrução de verdade. Ora, a crise facilita, de certo modo, porque mostra quem quer reconstruir ou refundar o capitalismo e quem quer destruí-lo. É um ponto de divisão de águas bastante visível. Digamos que a nova esquerda, na Europa, está paralisada. Eu acho que tem um espaço da esquerda em disputa, tem várias opções. O que tentamos fazer é agrupar, não conclamar um partido, mas uma esquerda anticapitalista européia, para tentar fazer com nome comum a campanha à eleição européia de 2009. Com chapa na Polônia, Espanha, Itália, França, Inglaterra vai ser complicado, mas isso começa a firmar não só uma opção anticapitalista na França, mas dar, já jogando com um desenvolvimento desigual, uma perspectiva européia.

Na sua opinião, pode-se ter alguma perspectiva de uma retomada revolucionária nesse contexto de crise econômica internacional? Quais as tarefas da esquerda?

De um lado, digamos que a palavra simbólica de ordem dos fóruns sociais “outro mundo é possível”, hoje teria de ser mudada: “outro mundo é necessário e urgente”, o problema é fazê-lo possível, mas aqui tem que ser lúcido também. Se a hipótese seria de que o ponto de partida é uma derrota, não qualquer, mas uma derrota histórica das esperanças de libertação do século 20, se pode imaginar o início de um processo de reconstrução. Falo para a Europa. Revolução social do “dia para a noite” com a correlação de força atual..., porque não se trata só de reconstruir uma esquerda política, mas também de reconstruir os movimentos sociais. É preciso saber que na França os sindicalistas são apenas 10% da força de trabalho. É muito minoritária. Então se trata verdadeiramente de uma reconstrução, depois de uma derrota política, e em condições difíceis, porque o obstáculo não é só ideológico. Os efeitos da individualização do salário, do emprego, do seguro de pensão e flexibilização, tudo isso obstaculiza a organização coletiva. Então a reconstrução, a crise pode favorecer por um lado, mas vai ter efeitos contraditórios, gente que vai tentar salvar-se por si mesmo. Então é uma batalha política aberta. Na América Latina pode ser diferente. Que efeito vai ter a crise no processo bolivariano? Se vai retroceder, ou avançar, se a convergência Bolívia e Equador se fortalece, que resposta à crise, que uso do Banco do Sul, tem aparecido o tema de uma moeda latino-americana para desvincular-se do dólar, e não sofrer com o enfraquecimento do dólar. Tudo isso está em aberto. Eu acho que a mudança com a crise é que o discurso sobre o socialismo, o comunismo, está ganhando legitimidade. A ideia de que o capitalismo era o fim da história agora terminou. Eu acho que ninguém pode imaginar ou pretender saber que forma vão tomar as revoluções do século 21. Ninguém sabia em 1789 que ia haver uma revolução em Paris. Dizer que tem uma oposição quase sistemática entre uma lógica do capital, de concorrência, de todos com todos, de ganância privada, de egoísmo, falta de solidariedade, privatização do espaço público etc. E uma lógica alternativa que é de reconstrução do espaço público, defesa do serviço público, dos bens comuns da humanidade, como terra, água, ar etc., uma política solidária de energia, que tem também mais que uma dimensão ecológica, porque o que está em crise na realidade é a lei do valor como forma de organizar a vida social, que se traduz por uma crise social e ecológica. Não é para fazer manobras políticas, mas é o núcleo de um programa alternativo. Logo se vai ter essa envergadura de 1968, fazemos propaganda para isso, mas não depende de propaganda, acontece ou não acontece. Veremos. Mas, o importante é já convencer a gente que outra coisa é possível, o capitalismo não é fatal, não é o estado terminal da história, e que há outra lógica possível.

Conteúdo retirado de Brasil de Fato

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Uma das últimas comunas chinesas

Postagem de novembro de 2009, republicada em virtude de ter acrescentado um vídeo novo (Youtube, em inglês).

Reportagens da BBC (em português) e da Al Jazeera sobre a pequena cidade de Nanji, uma das últimas comunas chinesas.
Não obstante as mudanças de rumo do governo chinês, a população local pressionou  o Partido Comunista a seguir com o sistema comunal.







quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cuba: A Solidariedade Bloqueada

Por que será que os grandes meios de comunicação silenciam sobre a ajuda de Cuba ao Haiti?


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Michael Löwy homenageia Daniel Bensaïd

Michael Löwy escreve sobre Daniel Bensaïd, o "Comunista Herético":

Daniel Bensaïd, communiste hérétique

Daniel Bensaïd deixou-nos. É uma perda irreparável, não somente para nós, seus amigos, seus camaradas de luta, mas para a cultura revolucionária. Com a sua irreverência, o seu humor, a sua generosidade, a sua imaginação era um exemplo raro de intelectual militante, no sentido forte da expressão.

Lembro-me das nossas longas conversas, por vezes discussões, à volta duma mesa sobretudo no momento entre a sobremesa e o café, no «Charbon», o seu restaurante favorito. Não estávamos sempre de acordo, longe disso, mas como não gostar dele e admirar a sua extraordinária criatividade e, acima de tudo, o seu espírito de resistência para com e contra tudo, para infâmia da ordem estabelecida?
«Auguste Blanqui, comunista herético» era o título dum artigo que Daniel Bensaïd eu próprio redigimos juntos, em 2006 para um livro de socialistas do séc. 19 em França, organizado pelos nossos amigos Philippe Corcuff e Alain Maillard). Este conceito aplica-se perfeitamente ao seu próprio pensamento, obstinadamente fiel à causa dos oprimidos, mas alérgico a toda a ortodoxia.

Se os livros de Daniel se lêem com tanto prazer é porque foram escritos com a pluma aguçada dum verdadeiro escritor que tem o dom da fórmula: não uma fórmula que pode ser assassina, irónica, enraivecida ou poética mas que vai sempre a direito até ao fim. Este estilo literário, próprio do autor e inimitável, não é gratuito mas está ao serviço duma ideia, duma mensagem, dum apelo: não se vergar, não se resignar, não se reconciliar com os vencedores. A força da indignação atravessa, como um sopro inspirado, todos os seus escritos.

Fidelidade ao espectro do comunismo do qual dava uma bela definição: é o sorriso dos explorados que ouvem ao longe os tiros de espingarda dos insurgentes em Junho de 1848 - episódio contado por Tocqueville e reinterpretado por Toni Negri. O seu espírito sobreviverá ao triunfo da mundialização capitalista, da mesma maneira que o espírito do judaísmo à destruição do Templo e à expulsão de Espanha (gosto desta comparação insólita e um pouco provocadora). O comunismo do séc. 21 era para ele herdeiro das lutas do passado, da Comuna de Paris, da Revolução de Outubro, das ideias de Marx e de Lenine e dos grandes vencidos que foram Trotsky , Rosa Luxemburgo, Che Guevara. Mas também algo de novo, à altura das apostas do presente: um eco-comunismo (termo que ele inventou) integrando centralmente o combate ecológico contra o capital.

Para Daniel, o espírito do comunismo era irredutível às suas contrafacções burocráticas. Se recusava com a última das energias a tentativa de Contra-Reforma liberal de dissolver o comunismo no estalinismo, não deixava de reconhecer que não se pode fazer a economia dum balanço crítico dos erros que desarmaram os revolucionários de Outubro face às provações da História, favorecendo a contra-revolução termidoriana: confusão entre povo, partido e estado, cegueira em relação ao perigo burocrático. É preciso retirar daí algumas lições históricas já esboçadas por Rosa Luxemburgo em 1918: importância da democracia socialista, do pluralismo democrático, da separação dos poderes, da autonomia dos movimentos sociais em relação ao estado.

Entre todas as contribuições de Daniel Bensaïd à renovação do marxismo, a mais importante, a meu ver, é a sua ruptura radical com o cientismo, o positivismo e os determinismo que tão profundamente impregnaram o marxismo «ortodoxo», nomeadamente em França. Auguste Blanqui é uma referência importante neste passo crítico. No artigo mencionado mais acima, recorda a polemica de Blanqui contra o positivismo, este pensamento de progresso em boa ordem, de progresso sem revolução, esta «doutrina execrável do fatalismo histórico» erigida em religião. Para Blanqui «a engrenagem das coisas humanas não é de forma alguma fatal como a do universo, é modificável a cada momento». Daniel Bensaïd comparava esta fórmula com a de Walter Benjamin: cada segundo é a porta estreita por onde pode surgir o Messias, quer dizer, a revolução, esta irrupção factual do possível no real.

A sua releitura de Marx, à luz de Blanqui, de Walter Benjamin e de Charles Péguy, o conduziu a conceber a história como uma sucessão de entroncamentos e de bifurcações, um campo de possíveis cuja saída é imprevisível. A luta de classes ocupa o lugar central. Mas o seu resultado é incerto e implica uma parte de contingência. Em «Le pari melancolique» (Fayard, 1997), talvez o seu mais belo livro retoma a fórmula de Pascal para afirmar que a ação emancipadora é um «trabalho para o incerto», implicando uma aposta sobre o futuro. Redescobrindo a interpretação marxista de Pascal por Lucien Goldmann, define o compromisso político como uma aposta arrazoada sobre o futuro histórico «com o risco de tudo perder e de se perder». A revolução cessa de ser portanto o produto necessário das leis da história ou das contradições econômicas do capital para se tornar uma hipótese estratégica, um horizonte ético, «sem o qual a vontade renuncia, o espírito de resistência capitula, a fidelidade falha, a tradição se perde». Por consequência, como explica em «Fragments mécréants» (Lignes, 2005), o revolucionário é um homem de dúvida oposto ao homem de fé, um indivíduo que joga nas incertezas do século e que põe uma energia absoluta ao serviço de certezas relativas. Em suma, alguém que tenta, incansavelmente, praticar este imperativo exigido por Walter Benjamin no seu último escrito, as Teses «Sobre o conceito de história» (1940): passar a mão pela história ao arrepio.

Escola Florestan Fernandes - Um Sonho em Construção

Documentário sobre os cinco anos de Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), produzido pelo Ponto de Cultura da ENFF em conjunto com o Pontão de Cultura Rede Cultural da Terra.
Confira:


Fonte: MST

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Haiti: Cuba não veio, Cuba já estava

Existem médicos cubanos trabalhando em vários países da América Latina.

O líder da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz, enviou uma mensagem de agradecimento e uma saudação fraternal aos membros da Brigada Médica Internacional "Henry Reeve"*,os graduados e aos estudantes do 5º e 6º ano da Escola Latino-Americana de Medicina, com a comitiva cubana que, chefiada pelo membro do Bureau Político, Esteban Lazo, e pelo chanceler Bruno Rodríguez Parrilla, visita esta nação desde segunda-feira, 8 de fevereiro.
A vice-ministra da Saúde Pública, Marcia Cobas, transmitiu a mensagem do líder da Revolução aos cooperadores cubanos, que, com muita emoção, a receberam em seus postos, onde trabalham incansavelmente.

O vice-presidente do Conselho de Estado, Esteban Lazo, foi testemunha dessa abnegação quando visitou o hospital de campanha de Croaix des Buquet, as instalações hospitalares La Paz e La Renaissance, e o Centro de Diagnóstico Integral de Mirebalais.

Com antecedência, o presidente haitiano, René Préval deu as boas-vindas ao dirigente cubano. Lazo declarou ao jornal Granma que Préval o recebeu com muita alegria, partindo fundamentalmente da opinião de que Cuba não era um visitante novo, de que Cuba não veio, mas já estava aqui no Haiti. Lazo salientou que Préval o recebeu com muita alegria, partindo fundamentalmente da opinimembro do Bureau Pol se interessou em saber como estavam Fidel e Raúl, e reconheceu o ótimo trabalho dos médicos cubanos, que convocaram também os estudantes e médicos haitianos.

Lazo informou a Préval dos quase 1.200 médicos que atualmente trabalham na brigada médica cubana no Haiti, os quais haviam atendido a mais de 70 mil pessoas depois do sismo. Falou também com ele da importância de evitar as epidemias, e do esforço que realizam na vacinação e fumigação. Além disso, comunicou-lhe que à brigada cubana aderiu um grupo de médicos norte-americanos formados na ELAM.

Esteban Lazo propôs a Préval consolidar o sistema da saúde no Haiti, acordo adotado na recente reunião com os países-membros da ALBA. "Explicamos-lhe que a ideia era contribuir para um sistema sólido de atendimento primário, secundário e terciário, que garanta a saúde deste povo a partir do esforço da ALBA, e que como Cuba já tinha aqui um número considerável de profissionais experientes, podia dirigir esse trabalho".

Para isso, e enquanto se constroem e ou remodelam as instituições que prestarão serviços de saúde, serão instalados hospitais de campanha nas redondezas delas. Lazo frisou que para atender aos pacientes, se criará um contingente de jovens graduados da ELAM, que desde já estão chegando a Havana, depois da convocatória de Cuba. Queremos reunir num espaço curto de tempo ao redor de 2 mil médicos.

Lazo também assinalou que, no encontro com Préval, também reviram temas como a colaboração na construção do aeroporto de Cabo Haitiano, na safra açucareira, na pesca, na campanha de alfabetização e nas comunicações. O dirigente cubano salientou que Préval reconheceu que Cuba sempre trabalha pensando no futuro.

Leticia Martínez Hernández enviada especial ao Haiti pelo Granma

*Henry Reeve foi um estadunidense que lutou junto aos cubanos pela independência da ilha

Altamiro Borges desnuda a pesquisa paga pelos latifundiários contra o MST

A senadora demo Kátia Abreu, também chamada por seus próprios pares de Ivete Sangalo do Congresso devido a seus modelitos exóticos e ao seu exibicionismo, transformou uma pesquisa fajuta na nova arma contra o MST. Já o grosso da mídia privada, que sempre defendeu os interesses do latifúndio, amplifica os resultados para rotular os que lutam pela terra de “vândalos”, “terroristas”. Ela nem se dá ao trabalho, tipicamente jornalístico, de esclarecer quem financiou a pesquisa e qual metodologia foi aplicada.
A violenta campanha contra o MST, cuja pesquisa é a nova peça publicitária, surge no bojo da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), convocada no final de 2009 por insistência da bancada ruralista. Feita pelo Ibope, instituto desmoralizado por suas ligações carnais com os demos-tucanos, entrevistou 2.002 pessoas e foi financiada pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), a suspeita entidade presidida pela própria Kátia Abreu, que bancou ilicitamente a sua campanha ao Senado.

Leia o restante no Blog de Altamiro Borges 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"Cansei - Parte II"? Manifestação contra o PNDH-3


A grande manifestação contra o PNDH-3 programada para o último sábado (07/02), em São Paulo, foi um tremendo fracasso: 
Comunidades de direita do orkut estão repletas de manifestações de desgosto pelo ocorrido.
Os depoimentos dão conta de que o bando acabou rachando em três facções, em virtude de discordâncias entre integralistas e anarco-capitalistas.
Em Manaus, a passeata reuniu sete pessoas.



Abaixo, um vídeo do fiasco:

Camilo Cienfuegos




Se estivesse vivo, Camilo Cienfuegos completaria 78 anos no último dia 6, atualizei uma postagem sobre ele incluindo fragmento de um discurso ao povo cubano.
Confira aqui


domingo, 7 de fevereiro de 2010

Venezuela: Matéria sacana de "O Globo" comentada.


Resolvemos comentar, parágrafo a parágrafo, a matéria "Venezuela polarizada por Chávez" publicada no jornal da rica família Marinho e assinada pela sua celetista  Mariana Timóteo da Costa.
Comentários em negrito.
 
Venezuela polarizada por Chávez
Crise aprofunda divisões da sociedade e abala a popularidade do presidente

O velhíssimo discurso golpista do oligopólio midiático contra governos progressistas:
Jango dividia o país”
Olívio Dutra polarizou o povo gaúcho”
Requião divide o povo do Paraná”
Allende dividiu o povo do Chile”

As 14 opiniões de moradores de Caracas são uma pequena amostra da polarização da sociedade venezuelana entre chavistas e opositores ao regime bolivariano. Dão também uma ideia de como cada grupo reage, muitas vezes de forma inflamada, à pior crise política enfrentada pelo país desde que Hugo Chávez assumiu o poder, há 11 anos. 
Pior crise política enfrentada desde que Hugo Chávez assumiu o poder?
Num passe de mágica sacana, a empregada da família Marinho faz sumir da história recente o golpe de estado que a direita desferiu em 2002, o qual foi debelado rapidamente pelo povo da Venezuela. 
 
Os defensores são rápidos ao reagir às críticas de que o líder é autoritário, persegue a mídia, é responsável pelas crises energética e econômica e pela insegurança. 
Defensores”, mais um termo do glossário sacana da grande mídia:.
Defensores”, “Partidários”, “Chavistas” são os termos utilizados para reduzir, desprezar e abafar a maioria do povo venezuelano.
Esse recurso é utilizado à exaustão, basta ver as manchetes:
Estudantes protestam contra Chávez”
Universitários Chavistas revidam”
Quem parece ser mais expressivo neste caso?Qual grupo?
Daqui a pouco surge uma manchete assim:
Povo venezuelano vota contra Chávez, porém chavistas conseguem obter 70% dos votos. E país segue dividido”

E ainda citam os programas sociais como qualidades de um governo que, para eles, conseguiu o que nenhum outro fez: inserir o pobre na sociedade.
Para eles”
Mais outro recurso safado com fins de reduzir e distorcer a expressão dos fatos.
Basta recorrer às estatísticas para visualizar que houve uma distribuição de renda como nunca.Mas nestes números os "especialistas" pagos pela direita não tocam.
 
Já os críticos falam de excesso de assistencialismo, de perseguição aos estudantes e à mídia, de falta de investimento energético e na indústria, da proximidade a regimes autoritários como Cuba e Irã.
Claro que nunca pode faltar uma batidinha em Cuba, e agora o Irã entra na dança também, afinal, parece ser uma das bolas da vez para o império.
 
 - Os pobres querem ser cuidados, e o governo ainda tem muito dinheiro para isso. Mas, se as pessoas ainda se identificam com um discurso humano do presidente, sua ideologia já começa a dar sinais de cansaço - avalia Oscar Schémel, sociólogo e presidente da consultoria Hinterlaces, uma das mais importantes do país.
Veja só outra tática: Arranjar um “especialista” para confirmar as “verdades” de forte caráter ideológico do texto.
A empresa chegou a essa conclusão ao realizar pesquisas quantitativas e qualitativas, cada uma com cerca de 2 mil venezuelanos de todas as classes sociais, desde o fim de 2009, quando o presidente intensificou sua "revolução bolivariana", apertando o cerco à imprensa, expropriando empresas privadas, desvalorizando a moeda e endurecendo o discurso de luta de classes.
Os sinais de cansaço aparecem nos números: 78% reprovam o fechamento do canal RCTV; 61% são contra a desapropriação de empresas particulares, e 75% estão insatisfeitos com o racionamento de luz. A popularidade de Chávez, que já foi de 70%, hoje está em cerca de 40%. E mais: 65% querem que ele entregue o poder em 2012, e 70% gostariam de ver, após as eleições legislativas de 26 de setembro, uma Assembleia Nacional com representantes de vários partidos.
Agora, aparecem “números científicos”, para confirmar a tese.
Nem é preciso comentar o caráter quase folclórico da pesquisa:
“75% estão insatisfeitos com o racionamento de luz”
Mas quem diabos ficaria satisfeito com o racionamento??? Por acaso seria uma medida do governo para tentar aumentar a popularidade?
Parece aquelas pesquisas que institutos ligados à direita fazem em Cuba, com perguntas do tipo “você gostaria de ter mais dinheiro”.

- Mas o mais impressionante é que 88% discordam do discurso do presidente, que vive falando que o bom é ser pobre, e não burguês. 
Imaginem o pesquisador perguntando: “´Você acha bom ser pobre?”

A ideia de luta de classes não cola mais. Há uma falência do discurso ideológico chavista - diz.
Bom, isso o “especialista” vai ter de provar ao longo do tempo, aliás, pelo menos nas eleições que vêm aí...
Indecisos, cerca de 55%, poderão definir eleições
Isso, afirma, se deve ao fato de a sociedade venezuelana ser ávida por novidades e querer progredir na vida. Não à toa esse é o país onde existe o maior número de usuários de celular com acesso à internet da América Latina, por exemplo.
- É também um povo que vê no emprego, e não no assistencialismo, a única maneira de conseguir melhorar de vida. A Venezuela tem uma população muito mais complexa do que a que Chávez gostaria de liderar - lembra Schémel.
Bom, essa população o colocou na presidência. O que o “especialista” sugere?Que o povo é burro e que um golpe de estado se faz urgente?
Mas o que ainda sustenta a popularidade do presidente? Para o analista, o primeiro fator é seu discurso humano. Não o de luta de classes, mas o que inclui os antes excluídos socialmente.
- Mesmo insatisfeitas, as pessoas têm fé nele. O programa "Alô, presidente" virou uma espécie de sermão. Se Chávez diz que o povo tem acesso à saúde, mesmo não sendo verdade, ele crê.
Pois é, eis a velha tese Pinochetista de que o povo não sabe escolher.
O segundo é a desarticulação da oposição, que deixa os venezuelanos sem opção de voto. Tanto que existe uma classe chamada de "Ni-Ni", 55% dos eleitores, que não se identificam com o chavismo, nem com outros movimentos políticos. E é esse grupo que decidirá as eleições. 
O momento é propício para novas lideranças surgirem na Venezuela - diz Schémel.

Por fim, o “especialista” reconhece que a direita está, desesperadamente, à procura de uma reação dentro dos parâmetros eleitorais para retomar o poder.
Todo caso, o oligopólio midiático vai seguir fazendo seu trabalho sujo de bater na Revolução Bolivariana e, “em nome da democracia”, alimentar movimentações golpistas na América Latina.