Produção agrícola familiar (imagem retirada do sítio da CUT/PR)
A agricultura familiar deu nesta quarta-feira (12) um recado direto à presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), e seus companheiros de bancada. Num ato de protesto e desabafo, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) entregou a parlamentares da bancada ruralista um manifesto que, nas entrelinhas, diz: “parem de falar em nosso nome”.
Intitulado “Agricultura familiar não é igual à agricultura patronal”, o documento vem num momento importante e pode mudar os rumos da discussão sobre o Código Florestal brasileiro ou, até mesmo, alterar o resultado nas urnas em outubro. É que, de olho no farto eleitorado advindo da agricultura familiar – segundo IBGE, são 4,36 milhões de pequenos produtores no país –, deputados e senadores que, na prática, representam grandes proprietários rurais têm levantado a bandeira em defesa dos pequenos. E agora podem voltar a colar sua imagem apenas junto aos grandes.
Entre outras coisas, os ruralistas defendem a unidade da agricultura e dizem que o setor agropecuário deve ser tratado com um só. Benefícios para pequenos e menos providos economicamente, portanto, devem ser estendidos também aos grandes exportadores, por uma questão de justiça entre iguais. Na seara ambiental, dizem, por exemplo, que os agricultores familiares não têm condições de recompor áreas desmatadas e que, dessa forma, as normas que exigem esse reflorestamento devem ser abolidas da lei pelo bem comum.
Mas, com esse manifesto, a Contag decidiu soltar o verbo e, pelo que tudo indica, está disposta a gritar pelos quatro cantos do país que CNA e ruralistas não representam politicamente os pequenos agricultores. Entre outras coisas, a entidade ressaltará que a diferença entre grandes e pequenos é “gritante, ainda em que se pese o esforço da maioria da bancada ruralista em tentar vender a ideia de que na agricultura e na produção” todos são iguais.
“A CNA não representa o agricultor familiar. Isso não existe. Por isso existem duas confederações de agricultura no Brasil: a CNA, que representa a agricultura patronal, e a Contag, que representa aqueles que tiram do seu próprio suor o seu sustento da terra. Em hipótese alguma a CNA pode levantar a bandeira dos pequenos agricultores”, defendeu a vice-presidente da Contag, Alessandra da Costa Lunas.
Essa confusão de papeis de pequenos e grandes tem, sobretudo, um cunho eleitoreiro. É estratégico para alguns parlamentares defender que todos os produtores rurais são iguais em direitos e deveres. Logo, um pequeno agricultor nas urnas pode legitimar sua representatividade votando em um político que, simplesmente, defende o setor agrícola, independente de qual lado da agricultura esse candidato está.
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