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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Fidel escreve: O golpe arteiro à espreita

Reflexão de Fidel Castro publicada ontem, no Jornal Granma:

Terça-feira, 8 de junho, escrevi a Reflexão "No limiar da tragédia" em horas do meio-dia, mais tarde vi o programa televisivo "Mesa-Redonda" de Randy Alonso, que se divulga normalmente às 18h30.
Nesse dia, destacados e prestigiosos intelectuais cubanos que participavam da Mesa, perante as agudas perguntas do diretor, responderam com eloquentes palavras que respeitavam grandemente minhas opiniões, mas que não acreditavam que haveria razão para que o Irã recusasse a possível decisão — já conhecida — que adotaria o Conselho de Segurança na manhã de 9 de junho, em Nova Iorque — sem dúvida alguma combinada entre os líderes das cinco potências com direito ao veto: os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, com os da Rússia e da China.
Nesse instante, expressei às pessoas próximas que costumam acompanhar-me: "Lamento imenso não ter podido finalizar minha Reflexão expressando que ninguém desejava mais que eu estar enganado!", mas era já tarde, não podia retrasar seu envio ao site CubaDebate e ao jornal Granma.
No dia seguinte, às 10h, conhecendo que essa era a hora da reunião, pensei em sintonizar a CNN em espanhol, que com certeza daria notícias do debate no Conselho de Segurança. Pude assim escutar as palavras com que o presidente do Conselho apresentava um projeto de resolução, promovido dias antes pelos Estados Unidos, apoiado pela França, Grã-Bretanha e Alemanha.
Falaram também vários representantes dos principais membros envolvidos no projeto. A representante dos Estados Unidos explicou por que seu país aprovava isso, com o pretexto já sabido de sancionar o Irã por ter violado os princípios do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Por sua vez, o representante da Turquia, um de cujos navios foi vítima do brutal ataque das forças elites de Israel, que transportadas em helicópteros assaltaram na madrugada de 31 de maio a frotilha que levava alimentos para o milhão e meio de palestinos sitiados num fragmento de sua própria Pátria, manifestou a intenção de seu governo de se opor a novas sanções ao Irã.
A CNN, no espaço que dispunha para notícias, apresentou várias imagens de mãos erguidas, na medida em que expressavam com gestos visíveis sua posição, entre elas, a do representante do Líbano, país que se absteve durante a votação.
A presença serena dos membros do Conselho de Segurança que votaram contra a Resolução se expressou com a direita firme de uma mão de mulher, a representante do Brasil, que tinha exposto antes com tom seguro as razões pelas quais sua Pátria se opunha ao acordo.
Faltava ainda um monte de notícias sobre o tema; sintonizei a Telesur, que durante horas satisfez a incontável necessidade de informação.
O presidente Lula da Silva expressou na cidade de Natal, ao nordeste do país, duas frases lapidárias: que as sanções aprovadas eram impostas por "aqueles que acreditam na força e não no diálogo", e que a reunião do Conselho de Segurança "poderia ter servido para discutir o desarme dos que têm armas atômicas".
Nada de raro teria que tanto Israel quanto os Estados Unidos e seus estreitos aliados com direito ao veto no Conselho de Segurança, França e Grã-Bretanha, queiram aproveitar o enorme interesse que desperta o Mundial de Futebol para tranquilizar a opinião internacional, indignada pela criminosa conduta das tropas elites israelenses na Faixa de Gaza.
É, portanto, muito provável que o golpe arteiro se dilate algumas semanas, e inclusive, seja esquecido pela maioria das pessoas nos dias mais calorosos do verão boreal. Haveria que observar o cinismo com que os líderes israelenses responderão as entrevistas de imprensa nos próximos dias, onde serão bombardeados com perguntas. Oportunamente, eles irão elevando o rigor de suas exigências antes de apertar o gatilho. Anseiam repetir a história de Mossadegh em 1953, ou levar o Irã à idade de pedra, uma ameaça da qual gosta o poderoso império em seus tratos com o Paquistão.
O ódio do Estado de Israel contra os palestinos é tal, que não hesitaria em enviar o milhão e meio de homens, mulheres e crianças desse país aos crematórios nos que foram exterminados pelos nazistas milhões de judeus de todas as idades.
A suástica do Führer pareceria ser hoje a bandeira de Israel. Esta opinião não nasce do ódio, mas sim do sentimento dum país que se solidarizou e prestou albergue aos judeus quando nos dias difíceis da Segunda Guerra Mundial, o governo pró-ianque de Batista tentou enviar de retorno à Europa um navio carregado deles, que escapavam da França, Bélgica e Holanda, por causa da perseguição nazista.
Conheci muitos membros da inúmera comunidade judaica radicada em Cuba, quando triunfou a Revolução; visitei-os e falei com eles várias vezes. Nunca os expulsamos de nosso país. As diferenças com muitos deles surgiram por ocasião das leis revolucionárias que afetaram interesses econômicos e, por outro lado, a sociedade de consumo atraia muitos, frente aos sacrifícios que implicava a Revolução. Outros permaneceram em nossa Pátria e, prestaram valiosos serviços a Cuba.
Uma etapa nova e tenebrosa abre-se para o mundo.
Ontem, às 0h44 falou Obama sobre o acordo do Conselho de Segurança.
Eis algumas notas do que expressou o presidente, tomadas da CNN em espanhol.
 "Hoje, o Conselho de Segurança da ONU votou por maioria a favor de uma sanção contra o Irã por seus  repetidos descumprimentos…".
"Esta resolução é a sanção mais forte que enfrenta o governo iraniano e envia uma mensagem inequívoca sobre o compromisso da comunidade internacional de frear a expansão das armas nucleares."
"Por anos, o governo iraniano descumpriu suas obrigações recolhidas no Tratado de Não-Proliferação Nuclear."
"Enquanto os líderes iranianos se escondem por trás de retórica, suas ações os comprometeram".
"De fato, quando tomei posse há 16 meses, a intransigência iraniana era forte".
"Oferecemos-lhes perspectivas dum melhor futuro se cumpria suas obrigações internacionais".
"Aqui não há duplo padrão".
"O Irã violou suas obrigações sob as resoluções do Conselho de Segurança para suspender o enriquecimento de urânio".
"Por isso, estas medidas tão severas".
"São as mais rigorosas que tenha enfrentado o Irã".
 "Isto demonstra a visão partilhada de que no Oriente Médio a ninguém convêm desenvolver estas armas".
Estas frases que selecionei de seu breve discurso são mais que suficientes para demonstrar quão fraca, débil e injustificável é a política do poderoso império.
O próprio Obama admitiu em seu discurso na universidade islâmica de Al-Azhar, no Cairo, que "em meio da Guerra Fria, os Estados Unidos desempenharam um papel na derrubada dum governo iraniano eleito democraticamente", apesar de que não disse quando nem com que propósitos. É possível que nem sequer se lembrasse como o levaram a cabo contra Mossadegh em 1953, para instalar no governo a dinastia de Reza Pahlevi, o xá do Irã, ao qual armaram até os dentes, como seu principal gendarme nessa região do Oriente Médio, onde o sátrapa acumulou uma imensa fortuna, derivada das riquezas petroleiras desse país.
Naquela época o Estado de Israel não possuía uma só arma nuclear. O império tinha um enorme e incontrastável poder nuclear. Então, os Estados Unidos pensaram na arriscada ideia de criar em Israel um gendarme no Oriente Médio, que hoje ameaça uma parte considerável da população mundial e é capaz de atuar com a independência e o fanatismo que o caracterizam.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O sonho americano dorme em barracas


Matéria do Granma Digital Internacional

O sonho americano dorme em barracas


Deisy Francis Mexidor

• UM show da televisão destapou a caixa de Pandora. No país mais rico do mundo há pobreza. E extrema. Os tent-cities ou cidades de barracas põem a descoberto o rosto oculto do sistema e erguem-se como triste símbolo de tempos de recessão e crise nos Estados Unidos.

O jornal mexicano El Universal assim o reflete: "Até há pouco, eram trabalhadores da classe média que moravam em casas com jardim, mas a recessão está empurrando milhares de famílias nos EUA ao inimaginável: viver em barracas, sótãos ou motéis rurais baratos".

"Em Sacramento, capital do estado da Califórnia e uma das zonas do país onde a crise imobiliária bateu com mais força, um acampamento para gente sem teto alberga já centenas de pessoas e cresce a um ritmo de uns 50 residentes diários", enfatizou outro jornal.

Entretanto, o The New York Times indicou: "Acampamentos de pobres e pessoas sem teto sempre fizeram parte das paisagens de megacidades, como Nova Iorque e Los Ángeles, mas atualmente aumentam a população e tornam-se comuns também em cidades menores. Seatle, Sacramento, Saint Petersburg, Nashville e Olimpia reproduzem essa realidade ao longo do país, mas é na localidade de Fresno, Califórnia, onde o fenômeno aumentou de proporção com maior rapidez nos últimos tempos".

Para Joel John Roberts, diretor de Path Partners, uma organização que ajuda desempregados, a situação é terrível. "Hoje, você vê um terreno livre e, na manhã seguinte, encontra centenas de famílias instaladas em barracas", assegurou.

Imagens tão difundidas como estas não eram vistas nos Estados Unidos desde a Grande Depressão de 1929, quando a crise revelou as misérias do império. Hoje, a história se repete. A debacle não caiu apenas acima dos executivos de Wall Street. O despejo, a crise hipotecária e o esgotamento das poupanças afeta milhões de lares norte-americanos e, na atual conjuntura, a gente que perdeu tudo faz o possível para colocar, ao menos, um teto acima de sua cabeça.

GRANDE SUL NO IMENSO NORTE

O Escritório Orçamentário do Congresso dos EUA admitiu que 28 milhões de norte-americanos estão usando os tíquetes-refeições porque não têm comida.

Ao mesmo tempo, um estudo do grupo National Coalition for Homeless (NCH) notificou que aproximadamente 3,5 milhões de estadunidenses experimentarão situações de indigência ao menos uma vez por ano numa dúzia de estados da União, tendência que, segundo a própria análise, vai se manter enquanto durar a recessão econômica.

Uma pesquisa do Centro Nacional para Famílias sem Lar, revelou por sua parte que ao redor de 1,5 milhão de crianças nos Estados Unidos, um em cada 50, carece de moradia, 42% delas, menores de seis anos. "Estes números crescerão à medida que as execuções de (embargos) casas continuem aumentando", disse Ellen Bassuk, sua presidenta, num comunicado.

A NCH instou a administração Obama a implementar um programa financeiro de quase US$10 bilhões para reforçar a rede de reabilitação social; contudo, o cenário é cada vez mais dramático, pois, ao complexo panorama social, se acrescentam também os novos pobres.

Jennifer Thompson, é testemunha. Até há pouco, esta mulher, de 45 anos, casada e com três filhos, vivia sem grandes sobressaltos, porém perdeu seu posto na sucursal da General Motors na Califórnia e então, tudo foi por água abaixo. Ela, que trabalhava na administração, na área que autoriza os cortes de pessoal, foi demitida. Atualmente, mora numa barraca.

Renee Hadley, 38 anos, residia em Seattle e, do dia para a noite, seu castelo sumiu. "Neste local não há nem água corrente nem eletricidade nem banheiros e os trens passam perto daqui, há um barulho ensurdecedor", contou sobre o que padece na barraca que levantou em Sacramento.

Para ela, os programas estatais apenas conseguem colocar "um band-aid em tudo" e se pergunta, em meio à angústia, "por que não nos dão emprego ou casa com um aluguel moderado? Os 90% dos que estamos nesta situação não queremos viver aqui. Isto começa na verdade a meter medo", comentou à AFP.

O prefeito de Sacramento, Kevin Johnson, reconheceu recentemente que, durante anos, tentaram "meter os sem-teto embaixo do tapete", mas "agora o problema é maior".

Talvez o pior ainda não aconteceu. O desemprego não se detém, cresce a ritmo acelerado e os planos de resgate do presidente Barack Obama — que pede tranquilidade e confiança em meio ao desespero de muitos — são como compressas de água morna para um doente grave. Será que o sonho americano sumiu? Enquanto isso, dorme numa barraca.