segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Allan Macdonald



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Leon Trotsky: presente!

Marx, Engels, Lenin, Trotsky

Artigo de Eduardo Mancuso homenageia León Trotsky no 70º aniversário de sua morte(20/Ago). Trotsky pagou com a vida pela coragem de defender suas posições socialistas marxistas, sem medo do isolamento e levando adiante combate que organizou toda a sua vida. Suas virtudes heroicas contribuíram para a vitória da primeira revolução socialista da história, que ele tentou defender com todas as armas que tinha.

Eduardo Mancuso

Lev Davidovitch Bronstein nasce na Ucrânia, em 1879, filho de um proprietário de terras judeu. Aos 18 anos, juntamente com sua esposa Alexandra e um pequeno grupo de militantes, funda a União dos Trabalhadores do Sul da Rússia. Preso pela polícia czarista foi condenado a quatro anos de deportação na Sibéria. Em 1902, após adotar o pseudônimo que o identificará por toda a vida (tirado do sobrenome de um de seus carcereiros), Trotsky foge da prisão e vai encontrar-se com Lenin em Londres, onde era editado o jornal "Iskra" (Centelha), órgão do Partido Operário Social-Democrata Russo.

No famoso II Congresso do Partido em 1903, ocorre a divisão entre os bolcheviques (maioria) de Lenin e os mencheviques (minoria), que defendiam a liderança da burguesia liberal na revolução democrático-burguesa contra a monarquia czarista. Trotsky divergia radicalmente da estratégia reformista menchevique, mas vota contra os bolcheviques na questão da organização partidária e faz duras críticas às concepções leninistas, que considera centralizadoras e autoritárias. Às portas da revolução de 1917, quando adere ao bolchevismo, Trotsky faz autocrítica das posições que havia adotado durante e após o histórico congresso sobre concepção partidária e de sua insistência em buscar a conciliação entre mencheviques e bolcheviques.

A revolução russa de 1905 teve a destacada participação de Trotsky, que assume a presidência do primeiro soviete (conselho) da história em São Petersburgo (Petrogrado). Após a derrota do movimento, ele escreve seu relato. Primeira revolução do século XX, iniciada a partir da crise do regime czarista provocada pelas greves dos trabalhadores e pela derrota militar frente ao Japão, teve como marco o “domingo sangrento” em que milhares de manifestantes foram fuzilados pelas tropas diante do palácio do czar. A revolução de 1905 marca o surgimento dos sovietes e da greve geral de massas como criações políticas revolucionárias da luta de classes, exercendo forte impacto nas concepções teóricas de Trotsky, Lenin e Rosa Luxemburgo.

Assim, em 1906, Trotsky publica um pequeno livro que se mostra profético, Balanço e Perspectivas, onde antecipa a estratégia vitoriosa da Revolução Russa de 1917. Nessa obra ele resgata o conceito de revolução permanente de Marx, sustentando o caráter socialista e internacional da revolução na Rússia, sob a direção política da classe operária em aliança com o campesinato – ao contrário dos bolcheviques, que defendiam o caráter democrático burguês da revolução, mesmo sob um governo dos trabalhadores. Uma década depois, Lenin se aproxima das posições estratégicas de Trotsky, e este se aproxima das concepções de partido de Lenin.

Em 1914 explode a I Guerra Mundial com a capitulação da social-democracia frente à guerra imperialista e seus 10 milhões de mortos, marcando a traição histórica da Segunda Internacional ao socialismo. Em 1915, a esquerda internacionalista contrária à guerra se encontra na Conferência de Zimmerwald, na Suíça, e as posições de Lenin e Trotsky se reaproximam. Com a fome e a mortandade provocada pela guerra, explode a revolução de fevereiro de 1917 na Rússia, que derruba o czarismo e implanta o governo provisório. Trotsky embarca de volta à Rússia e chega a Petrogrado (antiga São Petersburgo) um mês depois de Lenin ter desembarcado na famosa Estação Finlândia e haver reorientado os rumos do partido bolchevique na oposição ao governo provisório (formado por burgueses liberais e monarquistas constitucionalistas inicialmente, mas depois conta com a participação de socialistas-revolucionários e mencheviques), que mantinha a Rússia na guerra, barrava a reforma agrária e reprimia os trabalhadores e camponeses. “Todo o poder aos sovietes” é a palavra de ordem que Lenin lança às massas radicalizadas contra a guerra e a fome, abrindo caminho para a revolução de outubro. Em julho, Trotsky ingressa no partido e no comitê central bolchevique, juntamente com a organização Interdistrital que contava com três mil militantes. Em setembro, é eleito novamente presidente do Soviete de Petrogrado, e em outubro, coordenador do Comitê Militar Revolucionário, órgão responsável pela organização da tomada do poder. Em novembro (outubro pelo antigo calendário russo), a primeira revolução socialista da história tem lugar, sob a direção dos bolcheviques e com o lema “paz, pão e terra”.

Porém, há a guerra com a Alemanha, o bloqueio e a intervenção militar das potências ocidentais contra a Rússia. Trotsky torna-se Comissário do Povo para as Relações Exteriores, chefia as negociações com o alto comando alemão e desenvolve, nesse período, uma intensa agitação dirigida ao proletariado europeu, denunciando as chantagens imperialistas. Porém, no início de 1918, a jovem república soviética é finalmente obrigada a assinar a Paz de Brest-Litovsk, imposta pela superioridade militar alemã. No plano interno, o caos com a guerra civil e os exércitos brancos da contra-revolução atacando em três frentes, além da oposição interna de mencheviques e de socialistas-revolucionários, e a terrível crise econômica com o colapso da produção agrícola, industrial e dos transportes. A revolução está em perigo.

Trotsky torna-se Comissário do Povo para Assuntos Militares e organiza o Exército Vermelho. Depois de passar dois anos atravessando a Rússia num trem blindado comandando o Exército Vermelho durante a guerra civil, Trotsky conquista a vitória sobre os exércitos brancos em 1920. Mas em março de 1921, o X Congresso do Partido Bolchevique defronta-se com a revolta dos marinheiros do Kronstadt e com as revoltas camponesas, ambas sob influência anarquista e esmagadas pelo poder soviético. Nesse contexto, o Congresso bolchevique suspende, em caráter extraordinário, o direito de tendências no partido, e Lenin lança a Nova Política Econômica (NEP, na sigla em russo), que substitui a fase do comunismo de guerra. Após as derrotas das revoluções na Alemanha, na Finlândia e na Hungria, o isolamento da Rússia soviética era total.

Em 1919 Lenin convoca o congresso de fundação da Internacional Comunista e Trotsky redige seu Manifesto (ele escreveria também o Manifesto do II Congresso e as Teses do III Congresso). Em 1923, Lenin e Trotsky compõem uma aliança contra Stalin (que detinha a secretaria-geral do partido), a fim de combater a nascente burocratização da revolução.

Trotsky organiza a Oposição de Esquerda, mas em janeiro de 1924, Lenin morre. Stalin lança uma campanha de filiação partidária de massas, ironicamente chamada de “recrutamento Lenin” e apresenta sua teoria antimarxista do “socialismo em um só país”.

Entre 1925 e 1927, Trotsky foi afastado das suas funções no governo e na direção do partido, até sua expulsão da União Soviética, em 1929. Nesse período, Trotsky escreve algumas de suas obras mais importantes: Literatura e Revolução, em defesa de uma arte e cultura socialista; A Internacional Comunista depois de Lenin, em que faz um balanço devastador da política internacional do stalinismo; A Revolução Desfigurada, em que responde às calúnias e falsificações históricas sobre o seu papel na revolução e defende a luta política da oposição contra a burocracia stalinista; Minha Vida, sua autobiografia; e A Revolução Permanente, em que retoma e desenvolve suas teses formuladas 25 anos antes.

Trotsky vive exilado na Turquia até 1933, onde escreve os três volumes da sua magistral História da Revolução Russa e os Escritos sobre a Alemanha (editado no Brasil por Mário Pedrosa, sob o título Revolução e contra-revolução na Alemanha), duas obras-primas do marxismo. Depois de passar pela França e pela Noruega, sofrendo pressões diplomáticas e ameaças constantes à sua vida, Trotsky finalmente encontra abrigo no México, graças ao presidente nacionalista Lázaro Cárdenas.

No exílio mexicano, hospedado com a sua segunda esposa Natália Sedova, inicialmente na casa de seu amigo, o grande muralista Diego Rivera e da artista plástica Frida Khalo, a atividade de Trotsky continua sendo o combate incansável contra a burocracia stalinista. Ele denuncia a traição histórica do partido comunista e da social-democracia ao movimento operário alemão por se recusarem a cerrar fileiras em uma frente única e permitirem a chegada do nazismo ao poder, sem luta; denuncia a traição da revolução espanhola pelo stalinismo e os abjetos Processos de Moscou (nos quais Stalin elimina fisicamente toda a “velha guarda” bolchevique). Em 1936, Trotsky escreve A Revolução Traída, em que caracteriza a União Soviética como um “Estado operário burocraticamente degenerado” e defende a derrubada da ditadura burocrática pelos trabalhadores, através de uma “revolução política” que retomasse a democracia socialista e o poder dos sovietes. “Um rio de sangue separa o stalinismo do bolchevismo”. Tempos terríveis e contra-revolucionários: stalinismo, fascismo e a Grande Depressão capitalista. “Era meia-noite no século”, afirmou o companheiro de oposição e biógrafo de Trotsky, Victor Serge. A II Guerra Mundial já apontava no horizonte.

Trotsky passa seus últimos anos de vida no México organizando a Quarta Internacional – fundada em Paris, em 1938, sem a sua presença – para a qual escreve o "Programa de Transição", com o objetivo de formar uma nova geração de marxistas revolucionários (ele não denominava seu movimento “trotskista”) que dessem continuidade a herança “bolchevique-leninista” de Outubro e da Oposição de Esquerda. Após sobreviver ao atentado organizado por artistas mexicanos do Partido Comunista armados de metralhadoras, finalmente o braço assassino de Stalin alcança Trotsky. Em 20 de agosto de 1940 o agente stalinista Ramón Mercader, após conseguir infiltrar-se na casa-fortaleza de Coyoacan, ataca-o pelas costas em seu escritório, furando o seu cérebro com uma picareta. Na mesa de trabalho de Leon Trotsky, os seus últimos escritos sobre a polícia secreta e os métodos criminosos de Stalin restaram manchados de sangue.

* Eduardo Mancuso é assessor de cooperação internacional da Prefeitura de Canoas/RS, integra o comitê internacional do Fórum Social Mundial e é membro da equipe editorial do Jornal Democracia Socialista/Em Tempo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lula e a desqualificação dos ambientalistas

por Luiz Carlos Azenha

Leio no Blog do Planalto que o presidente Lula lembrou que, no passado, se opôs à construção de Itaipu e Belo Monte:

“Vocês nem imaginam quantos discursos fiz contra a construção de Belo Monte. E é exatamente no meu governo que ela acontece”, disse Lula na cerimônia que marcou a assinatura do decreto em que concede a Norte Energia — vencedora do leilão para construir Belo Monte — para em seguida pedir ao ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, que fizesse um catálogo de casos bizarros apresentados para barrar a construção das duas usinas.

Zimmermann contou ao Blog do Planalto que o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Miguel Samek, tem um arquivo contendo reportagens publicadas nos anos 80 que diziam, por exemplo, que o lago da usina iria transbordar e provocar alagamento em Buenos Aires, cidade a 1,3 mil quilômetros de Itaipu. Os arquivos mostram também casos mais dramáticos — da criação de uma “bomba atômica” à mudança do eixo da terra ou terremotos provocados pelo peso da área inundada.

Contra Belo Monte, já se disse que a área do reservatório não produzirá energia suficiente que possa justificar o empreendimento — um argumento que, segundo o ministro, vem de quem não conhece a fundo o projeto.

O presidente Lembrou ainda do caso da usina Tijuco Alto, que fica entre os estados de São Paulo e Paraná, outro empreendimento do setor elétrico que enfrenta dificuldades para ser concluído. O impasse, no caso, refere-se a uma caverna que seria alagada. O presidente chamou a atenção para outros casos que geraram embargos em obras do governo, como por exemplo, uma “machadinha” que sinalizaria um sítio arqueológico ou a “perereca” que atrasou as obras de duplicação da BR-101, no Rio Grande do Sul.

Eu, Azenha, sinceramente fico preocupado com essa aparente tentativa de desqualificar os ecologistas e os ambientalistas, como se eles estivessem em busca de um objetivo menor, o de “prejudicar” obras do governo.

É preocupante especialmente diante dos 80% de aprovação popular de que dispõe o presidente da República.

Os ambientalistas argumentam que Belo Monte vai servir, acima de tudo, para produzir energia para consumo da indústria eletrointensiva, como a mineração, que precisa dela para explorar as jazidas da Amazônia. O governo Lula alega que tomou medidas para reduzir o impacto ambiental, para reduzir a área alagada em reservas indígenas e argumenta que as famílias que serão removidas de áreas alagáveis em Altamira já tinham que sair de suas casas na época da cheia.

O vídeo em que o projeto é apresentado coloca seis bodes na sala do internauta (dizendo que havia seis projetos para construir hidrelétricas no rio Xingu), para depois retirar cinco e dizer que ficará apenas um: Belo Monte.

O que Lula deixou de dizer na cerimônia, por desconhecimento ou por não ser conveniente, é que desde que Itaipu foi construída desenvolveu-se uma sólida escola de pensamento que contesta a construção de grandes obras hidrelétricas pelo impacto que causam em todo o curso de um rio, por exemplo. Daí derivaram ideias como a das mini-hidrelétricas, o desmantelamento de barragens para recuperação ecológica e as energias alternativas.

Há sólidos argumentos dos dois lados desta controvérsia, com os desenvolvimentistas dizendo que Belo Monte é melhor que importar gás da Bolívia para tocar termelétricas e que a energia dela é necessária para as populações que já vivem na Amazônia.

Usar esses argumentos é muito melhor que dizer que a obra vai gerar empregos temporários em Altamira ou trazer de volta as teorias bizarras que existiam em relação a Itaipu. Que eu saiba, em relação a Belo Monte, ninguém arguiu que o lago vai oferecer riscos à estabilidade do planeta.

Trata-se de um debate sobre se o Brasil vai promover o desenvolvimento econômico da Amazônia nos mesmos moldes em que ele aconteceu no Sudeste ou no centro-oeste ou se vai reconhecer que, pelas suas condições especiais, a Amazônia será desenvolvida dentro de outro paradigma.

Esse é o debate fundamental que não travamos, já que nesse particular a grande mídia e a oposição concordam com o governo Lula, as grandes construtoras e as grandes mineradoras.

Quando Lula pede a um ministro que traga exemplos de Itaipu para o debate sobre Belo Monte está simplesmente turvando esse debate.

Quando Lula faz piada com a “machadinha” arqueológica ou com a “perereca” que parou uma rodovia, desqualifica o trabalho de gente séria que se dedica à arquelogia e ao ambientalismo. A ausência de uma determinada espécie em um determinado bioma pode não ser considerada dano suficiente pelo presidente da República para atrapalhar uma obra. Mas é engano dele imaginar que a proteção de uma espécie é “frescura”, já que a ausência dela quase sempre é sintoma de desequilíbrio ambiental.

E, como o presidente da República é um humanista, deveria entender que não faz sentido gerar grandes obras que não tenham como objetivo central promover a melhoria de vida dos homens e do meio ambiente em que eles vivem.

Portanto, trazer do passado exemplos de Itaipu e fazer o inventário das “pererecas” e “machadinhas” só serve para mistificar, distorcer ou evitar um debate sério sobre questões sérias. Anedotas presidenciais só contribuem para desqualificar o debate, ainda que se originem num presidente com 80% de aprovação popular. 



Original em Vi o Mundo

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Elton Brum - 1 ano do assasinato impune

 

Jacques Tavora Alfonsin (*)

No dia 21 deste mês de agosto completou-se um ano do assassinato praticado contra o agricultor Elton Brum da Silva, como conseqüência de uma ordem judicial determinada em ação movida contra agricultores sem-terra, como ele, no município de São Gabriel. A agilidade que o Poder Judiciário mostrou para defender o direito de propriedade, no processo que assassinou Elton, é geometricamente desproporcional aos males que esse direito causa, mesmo quando descumpre a sua função social.
Para se ter uma idéia desse fato, é suficiente uma busca de internet no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, comarca de São Gabriel, para se constatar que nem data de audiência para coleta de possíveis provas foi designada, no processo 20900023900, que apura a responsabilidade criminal do policial militar que matou o Elton.

Enquanto a ordem letal teve execução imediata, o processo crime segue a passo de gente que caminha a pé e cansada de promessas legais traídas, bem como ele caminhava… Elton engrossa a lista macabra de gaúchos mortos em defesa de sua dignidade e cidadania, direito de acesso à terra, reforma agrária, ora pelos efeitos das ordens judiciais, ora pela repressão violenta dos seus protestos coletivos. Ah, não vai faltar quem diga: “Tudo certo, mas onde se lembra aí o soldado da BM, Valdeci de Abreu Lopes, que morreu na esquina democrática de Porto Alegre, num outro agosto, esse de 1990, durante um protesto dos sem-terra”? – Com a dor que se lamenta a morte do Elton e de tantos outros que não vivem mais, tem de se chorar a desse brigadiano, mas sem se esquecer, sob pena de cumplicidade com a versão tendenciosa que a mídia produziu na época, duas diferenças notáveis, pelo menos.

A primeira, a de que o assassino do Elton, além de somente ter sido identificado pela sua corporação mais de mês depois do assassinato, está gozando de plena liberdade, não havendo chance de se saber nem quando será julgado, enquanto os sem-terra denunciados criminalmente pela morte de Valdeci foram presos em seguida e aguardaram, nessa condição de confinamento, mais de ano antes do júri que os condenou. a segunda, de que o tiro que matou o Elton foi dado pelas costas, sem possibilidade alguma de defesa da vítima, enquanto o instrumento que matou o brigadiano deu-se em reação imediata ao tiro que ferira no abdome uma agricultora sem-terra que participava do protesto.

A “explicação” que se dá para tudo isso, já que justificativa não existe, é da mais variada espécie e artifício, como costuma acontecer com aquelas doutrinas jurídicas rubricistas que sustentam formulismos enredados na tramitação dos processos judiciais. Há prazos diversos para acusações, há prazos para defesas, para recursos, para sentenças. Só não há prazo para se perseguir, prender e, se as circunstâncias exigirem (?), matar gente pobre, lutando por seus direitos. Elton não é a primeira e, pelo rumo que a história vem demonstrando, não será a última vítima dessas injustiças perpetradas “em nome da lei e do direito”. São tantos os conflitos gerados pela concentração da propriedade privada sobre terra, em nosso Estado e no país, o inexplicável atraso na execução da reforma agrária, provado pelo número das ações judiciais de desapropriação de terra paradas nos tribunais, que isso provocou até mudança em um dos dispositivos do Código de Processo civil.

Foi no intuito de não deixar juízas e juízes quase sozinhas/os, para decidir sobre matéria que sempre envolve multidão, interesse social, conflito grave entre direitos, risco de acontecer coisas como a que eliminou a vida do Elton, que o art. 82 daquele Código, em seu inc. III, passou a exigir que o Ministério Público sempre fosse ouvido nos casos que “envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.” Era de se esperar que essa mudança na lei processual determinaria mais cuidado, uma cautela maior no deferimento de liminares, especialmente daquelas que são executadas sem chance de defesa dos réus, como ocorre quase sempre quando esses são sem-terra ou sem-teto. Aqui no Estado, não é o que tem acontecido, na maior parte das vezes. Dependendo do agente ministerial que atua nesses casos, o “público” da sua denominação, bem ao contrário, tem reforçado o que há de pior no “privado” das demandas que chegam em juízo.

Com um agravante, como ocorreu durante o ano passado. Agora, os latifundiários gaúchos nem precisam se mexer. É o próprio Ministério Público que sai em sua defesa, como aconteceu em Canoas, Carazinho, Pedro Osorio e São Gabriel. Em algumas execuções das ações judiciais que dois dos seus representantes propuseram nessas comarcas, foi tal a violência empregada contra acampadas/os, que só não morreu nenhum/a sem-terra, por sorte. Como essas ordens judiciais não têm o poder de ressuscitar, a ínfima chance que se abre de, pelo menos, alguém poder mitigar o mal feito é a de, mais tarde, um/a outro/a juiz/a, com um pouco mais de sensibilidade humana e social, “indenizar” (?) as/os herdeiras/os da vítima, que dela dependiam para viver.

É o que está acontecendo agora com a família do Elton. Em julho passado, atendendo pedido da advogada Cláudia M. Avila, que atua em defesa dessa família, numa ação judicial proposta contra o Estado do Rio Grande do Sul, pleiteando reparação de danos morais e materiais que a morte causou, o juiz Gilberto Schafer, do 2º Juizado da 3ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, já deferiu uma liminar em favor da mesma família, em tudo diferente daquela que causou a morte do Elton. Em seu despacho já se antecipa o direito dos/as familiares receberem do Estado 70% do salário mínimo nacional, sob a seguinte justificativa: “O Estado do Rio Grande do Sul tem responsabilidade de ordem objetiva pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros [...], devendo assim responder pelos atos omissivos e comissivos, dolosos ou culposos, que resultem em prejuízo a outrem, sendo plenamente aplicada a teoria do risco administrativo”.

A viúva, a filha pequena e o pai de Elton, evidentemente, não estariam sofrendo agora dessa necessidade, se a decisão judicial anterior não tivesse provocado a sua morte. Pouco lhes consola o fato de que o seu sangue foi derramado em defesa da vida de milhões de outros brasileiros que, como ele, são vítimas de uma injustiça social que, ao lado de produzir riqueza para alguns, gera pobreza e miséria para a maioria de quantas/os precisam do acesso a terra legalmente previsto em seu favor.

Por isso mesmo, todos os movimentos sociais que atuam em favor de trabalhadoras/es pobres, como o MST, por exemplo, não deixam morrer a esperança. A de que esse tipo de tratamento que elas/es sofrem há de ser vencido, por ser desumano, cruel, ilegal, profundamente injusto. Um dia, justamente por força de sua luta político-jurídica, esse tratamento não continuará se refletindo em cada processo judicial apenas para registrar mais um número e mais um nome.

Já enfrentaram no passado, e continuarão enfrentando a violência que assassinou o seu companheiro Elton, como a própria causa da infidelidade que grande parte da sociedade civil e do Poder Publico dedicam à interpretação e à aplicação da lei como se ela não existisse, exatamente, para proteger e defender os direitos humanos fundamentais de quantas/os, embora desses sejam os verdadeiros titulares, por ora não passem de vítimas da sua violação. Pelo menos esse poder de ressuscitar, que as sentenças não têm, o povo pobre sem-terra e sem-teto tem provado ter.

(*) Procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Marx voltou e ameaça ficar

O projeto MEGA é um dos maiores empreendimentos editoriais da atualidade e, possivelmente, um dos mais destacados de todos os tempos: a nova edição crítica das obras completas de Karl Marx e Friedrich Engels (Marx-Engels Gesamtausgabe). Segundo Michael Krätke, o projeto começou a ser desenhado em 1960 e reúne hoje o trabalho de 80 colaboradores de 8 países e 3 continentes. O plano original prevê a publicação de aproximadamente 164 volumes. Os princípios que orientam a edição são o respeito e a fidelidade com o texto original, além da certificação de sua autenticidade e sua preparação para serem editados de forma completa e integral. O artigo é de Carlos Abel Suárez.

Carlos Abel Suárez

Por ocasião dos primeiros sinais da atual crise econômica mundial, antes ainda do estouro da bolha das hipotecas norteamericanas, iniciou um movimento que muitos denominaram o “retorno” de Marx. Revistas de atualidade e de ampla circulação internacional publicaram sua inconfundível imagem em suas edições. O destaque de capa era Marx.

Em algumas pesquisas relevantes, Marx foi eleito como um dos pensadores mais destacados de todos os tempos. Quando das operações de resgate financeiro, nos principais jornais norteamericanos se alternavam como insulto ou como elogio a retomada das idéias daquele personagem tão querido quanto odiado, nascido em Tréveris, em 1818. Não faz muitos anos, sua memória estava sepultada e sua obra engavetada e degradada por pseudoexegetas, interpretadores falsários e filisteus de toda pelagem, processo vitaminado pela direitização da social-democracia e pela implosão da União Soviética.

Mas o Marx original, sua obra – despojada das versões de tantos “marxistas” que tanto ele como Engels desprezavam já em vida – apenas começa a se projetar nos círculos acadêmicos, nas tertúlias da esquerda e nos debates políticos coerentes. No entanto, segundo o atual retrato do mundo, na economia, na política e na cultura, parece que as idéias de Marx e Engels poderão seguir ilustrando grande parte do século XXI.

Muito se perguntarão: o que é o projeto MEGA? Não se trata de um dispositivo eletrônico para espionar comunicações ou do desenho de uma nova represa gigantesca? Trata-se, na verdade, de um dos maiores empreendimentos editoriais da atualidade e, possivelmente, um dos mais destacados de todos os tempos: a nova edição crítica das obras completas de Karl Marx e Friedrich Engels (Marx-Engels Gesamtausgabe). O professor Michael Krätke, coeditor da nova MEGA, explicou durante quase duas horas as características desta espetacular iniciativa, em uma conferência realizada na Universidade de Barcelona, às vésperas do encontro internacional de Sin Permiso, realizado em Madri, em dezembro último.

O auditório da conferência – majoritariamente formado por acadêmicos e estudantes conhecedores da obra de Marx – foi surpreendido por alguns trechos da minuciosa e apaixonada exposição de Krätke, tanto por sua qualidade acadêmica, rigor conceitual, contextualização histórica e domínio dos temas sobre os quais trabalharam Marx e Engels, como pelas descobertas que virão a público com a nova MEGA.

Confira o original em Carta Maior

domingo, 15 de agosto de 2010

Galvão: "Globo deveria mandar mais"

Escroto.

Em entrevista à colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de São Paulo deste domingo, o narrador Galvão Bueno declarou que a Globo deveria "mandar mais" no futebol brasileiro. A afirmação veio após ser perguntado se a emissora tem muito controle sobre o esporte no Brasil.

- Isso é uma bobagem. Eu acho até que devia mandar mais. Porque ela paga as contas.

Galvão também disse que a Copa de 2010 foi a única que não teve prazer de transmitir. O narrador atribui esse fato ao comportamento da comissão técnica e dos jogadores, que atuavam "com raiva, mais para dar respostas do que pelo prazer de jogar".

- Eu sempre defendi o Dunga. Ele começou muito bem, caminhou bem e depois se perdeu inteiramente. Por que uma pessoa tão vitoriosa tem que se alimentar de revanchismo? Quem se alimenta de ódio e revanche está sempre mais perto da derrota do que da vitória - declarou o 'global', que reiterou fazer sua última transmissão de Mundial em 2014 e revelou ter muita vontade de comandar um programa de auditório.


Matéria original em:

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Parabéns FIDEL CASTRO

O líder cubano Fidel Castro, um dos ícones do século 20, completa hoje 84 anos de vida. A comemoração não é apenas pelo aniversário, mas também pela saúde recuperada do Comandante e seu retorno à cena política cubana, surpreendendo os que o consideravam definitivamente aposentado, gagá e incapacitado para mais nada além da espera do fim, sem falar nos gusanos de Miami, que torciam como nunca por sua morte e, assim, pela morte da Revolução cubana.

Por Luiz Manfredini*
A rigor, Fidel nunca deixou a cena política de Cuba. Nem mesmo no período em que adoeceu gravemente, transferindo por isso a chefia do Estado e do governo a Raúl Castro e retirando-se para um tratamento e uma convalescença que ocupou os quatro últimos anos. Esse recolhimento compulsório não evitou que Fidel recebesse personalidades e iniciasse a publicação de suas reflexões no "Granma". Ainda que à distância, sua imagem mítica pairou dia e noite sobre a Ilha.

A diferença é que agora o Comandante voltou à cena em pessoa. Subitamente reapareceu no Centro Nacional de Pesquisas Científicas, em sete de julho último. E não parou mais. Seguiram-se a visita ao Centro de Estudos da Economia Mundial, a participação num programa de TV, encontros com intelectuais, jovens comunistas e uma centena de embaixadores cubanos na sede da chancelaria e, ponto alto, sua participação numa sessão extraordinária do parlamento nacional. Vestindo a jaqueta verde-oliva, a das suas “mil batalhas”, discursou longamente sobre a ameaça de uma guerra nuclear que, não sendo evitada, fatalmente destruirá a humanidade.

Fidel vem sendo das personalidades mundiais mais importantes nos últimos 50 anos. E seguirá assim, a julgar pela vitalidade, entusiasmo e discernimento que vem ostentando em sua militância mais recente. Um Fidel sempre altivo, insubmisso, inquieto e revolucionário. Um Fidel segundo o qual “se alguém não faz, o tempo todo, tudo aquilo que pode e até mais do que pode, é exatamente como se não fizesse absolutamente nada”. E ele faz.

*Jornalista e escritor

Retirado do Vermelho

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

José Luís Fiori: “Euro tem uma falha de nascimento”

Excelente entrevista do Brasil de Fato

Para o cientista político, moeda única com diferentes políticas monetárias é um dos estopins da crise.

O cientista político José Luís Fiori, da UFRJ, afirma que as medidas que a União Europeia vem adotando contra a crise financeira que assola o continente têm o mesmo efeito de “jogar gasolina na fogueira”.

A crise no continente tem levado países a altos níveis de desemprego, como a Espanha, onde 20% da população economicamente ativa não têm uma ocupação. Em entrevista ao Brasil de Fato, Fiori comenta a situação atual do maior bloco de países do mundo e as origens históricas dos problemas apresentados. Confira entrevista abaixo.

Brasil de Fato - A previsão de que o dólar poderia vir a ser substituído gradativamente pelo euro nas reservas de países como a China, tende a cair por terra com o cenário econômico da UE?

José Luís Fiori - Acho que não há nem nunca houve esta possibilidade de substituição. Durante o período em que a “moeda internacional” teve uma base metálica, a libra e o dólar também tiveram uma restrição financeira intransponível, imposta pela necessidade de equilíbrio do balanço de pagamentos do país emissor da moeda de referência. Mas depois do fim do Sistema de Bretton Woods, em 1973, esta restrição desapareceu, com o novo sistema monetário internacional “dólar-flexível” que não tem nenhum tipo de padrão metálico de referência. Neste sentido, se pode dizer que houve uma nova “revolução financeira”- na década de 1980 -, que provocou uma espécie de retorno às origens da relação entre o poder, a moeda e o crédito.

Hoje, os EUA definem, de forma soberana e isolada, o valor da sua moeda e dos seus títulos da dívida pública, e com isto também definem indiretamente o valor das demais moedas. E o que é importante entender é que neste novo contexto, a moeda americana está lastreada exclusivamente pelo poder americano, político, militar e financeiro. Trata-se de um estado e de um tesouro nacional que emitem a moeda e os títulos que aparecem de um lado ou do outro do “balcão” em cerca de 70% das operações feitas dentro da economia mundial. Frente a isto, a fragilidade política e militar de Europa desautoriza qualquer expectativa de que o Euro possa substituir o dólar, dentro deste mesmo sistema monetário internacional vigente, desde a crise de 1973.


Na visão do senhor, há um problema de "nascença" no Euro, que seria o causador dessa instabilidade? Qual seria essa "falha genética"?

O nascimento do sistema monetário europeu começou com o Tratado de Maastricht, de 1992, e culminou com a criação do Euro, em 2002. Todo o processo de criação, inclusive do BCE, foi baseado na suposição dos dirigentes europeus de que esta nova moeda supranacional conduziria à criação de um poder central capaz de geri-la. Apesar de que todos eles soubessem que as moedas europeias foram sempre emitidas e lastreadas pelos seus príncipes e pelos seus estados capazes de garantir o seu valor e a sua circulação com base na sua capacidade de tributação e de endividamento.

No caso do Euro, entretanto, se trata, de uma moeda emitida – como já disse noutro lugar - por um Banco Central “metafísico”, que não pertence a nenhum Estado, nem administra a dívida de nenhum Tesouro Central. É por isto que também digo que o euro tem uma “falha de nascimento”, e que funcionou até hoje, como uma moeda semi-privada, sendo aceita por causa da crença privada e da certeza publica de que o BCE, e a Alemanha, cobririam todas as dívidas emitidas pelos 16 estados membros da “eurozona”. Como de fato ocorreu até 2008. Mas esta situação mudou depois do colapso financeiro de 2008, quando a primeira-ministra alemã, Ângela Merkel, estabeleceu o novo princípio de que cada país europeu teria que ser responsável – a partir daquele momento - pelos seus próprios bancos, e pela cobertura de suas dividas soberanas. A consequência imediata da nova posição alemã foi a crise de insolvência de alguns governos da Europa Central, no ano de 2009, contornada pela intervenção do FMI.

No início de 2010, entretanto, a denuncia do novo governo socialista da Grécia, de que o déficit orçamentário grego do ano anterior, havia sido maior do que havia sido publicado inicialmente, serviu como estopim de uma nova crise, que foi magnificada pelo veto alemão – durante seis meses - a qualquer tipo de ajuda comunitárias ao governo grego. Até o momento em que a situação da Grécia ameaçou se estender a outros países endividados e acabou atingindo a própria “credibilidade” do euro, obrigando a Alemanha a aceitar a aprovação apressada de um Fundo Europeu de Estabilização Financeira, com capacidade anual de mobilização de até 750 bilhões de euros. Valor suficiente para contornar a crise imediata, mas incapaz de reverter a desmoralização do próprio sistema monetário criado em 2002.

Essa crise vivenciada na União Europeia é uma continuidade da de 2008, ou ela tem sua origem na própria União Europeia?

Existe um parentesco indiscutível entre a crise europeia de 2010 e a crise americana de 2008, mas é importante destacar que esta nova crise que começou pela Grécia tem uma natureza específica e diferente. A crise de 2008, foi uma crise financeira imobiliária que se estendeu a todo o sistema bancário, atingindo finalmente a própria atividade produtiva devido à contração creditícia, sobretudo nos EUA e na Europa. Foi uma crise americana que se alastrou pelo mundo de forma diferenciada, através das portas abertas pela desregulação dos mercados financeiros e pela globalização do sistema monetário “dólar flexível”, que se consolidou mundialmente depois da crise do Sistema de Bretton Woods de 1973.

Mas , esta crise financeira não provocou uma crise de insolvência da moeda e dos títulos públicos norte-americanos. Pelo contrário, durante a crise houve uma “fuga para a segurança” dos grandes investidores internacionais, na direção do dólar e dos Títulos da Dívida emitidos pelo governo americano, títulos que atuam como uma espécie de base não metálica do próprio dólar. Já no caso da crise europeia de 2010, o que está no centro dos acontecimentos, do meu ponto de vista, é uma crise monetária, uma crise de insolvência ou “credibilidade’ privada e publica do próprio euro.


O protagonismo da Alemanha na UE pode ameaçar o princípio de paridade entre os países, que deveria nortear o bloco?

O projeto de unificação europeia foi concebido originalmente, no início dos anos 50, em grande medida, para incluir e desmilitarizar a Alemanha, e para conter a União Soviética, sob a batuta franco-americana. Mas depois de 1991, este projeto virou de ponta cabeça, com a reunificação da Alemanha e o fim da URSS. A partir daí, a Alemanha se aproximou da nova Rússia, e estendeu sua influencia a toda a Europa Central, alargando sua liderança econômica dentro da UE. Por isto, quando a primeira-ministra Ângela Merkel foi eleita, em 2005, pôde montar um governo de “união nacional” com os social-democratas, fortalecendo o governo e o estado alemão, para seu trabalho contínuo e silencioso em favor da aprovação da nova Constituição europeia, o Tratado de Lisboa, e pelo controle político de todos os novos estados que se associaram à UE. Mais recentemente, o governo de Merkel se desfez da aliança com os social-democratas e assumiu com os liberais a liderança das posições ortodoxas, dentro da Europa, transformando-se numa referencia mundial, na luta contra o intervencionismo estatal e contra qualquer tipo de ativismo do Banco Central Europeu. Mas depois de 2008, e em particular, desde a crise de 2010, a Alemanha parece que está assumindo uma posição cada vez mais egoísta e autônoma com relação à França e aos demais membros da União Europeia. E todos os sinais indicam que a Alemanha vem se comportando, no campo econômico como no campo político e diplomático, orientada exclusivamente pelos seus interesses nacionais, tendo abandonado sua posição tradicional de solidariedade com o resto da Europa. Não é por acaso que pesquisas recentes indicam que muitos empresários e banqueiros europeus já estão achando que não é impossível que a própria Alemanha abandone o Euro. Por trás de tudo isto, entretanto, existe de fato um problema e um impasse que é fundamentalmente político. A partir de um certo momento do processo de unificação, a União Europeia ficou inviável sem um poder centralizado capaz de definir objetivos e prioridades, e distribuir recursos. Mas seus principais estados impedem este processo de centralização, porque, no fundo, a Europa está cada vez mais dividida, entre os projetos estratégicos de seus três principais sócios, a França, a Alemanha e a Inglaterra. Depois do fim da Guerra Fria e da reunificação da Alemanha, a Alemanha se transformou na maior potência demográfica e econômica do continente, e passou a ter uma política externa independente, centrada nos seus próprios interesses nacionais, que incluem o fortalecimento dos seus laços econômicos e financeiros com a Europa Central, e com a Rússia. Este comportamento alemão acentuou o declínio da França, que tem cada vez menos importância internacional, e favoreceu o fortalecimento do “euroceticismo” britânico, reacendendo a competição e a luta hegemônica dentro da União Europeia, e trazendo de volta velhas fraturas e divisões que estiveram presentes, em suas infindáveis guerras seculares. e impor objetivos e prioridades estratégicas, aos seus estados-membros. Uma situação agravada pela sua submissão militar aos EUA, que impôs a expansão apressada da UE, em direção ao leste, para “ocupar” os estados que haviam pertencido ao Pacto de Varsóvia, e haviam estado sob controle soviético, até 1991. Como consequência, a União Europeia se transformou num “ente político” fraco, com uma moeda falsamente “forte”, e com muito pouca capacidade de iniciativa autônoma, dentro do sistema mundial.


Com os pacotes econômicos baseados em perdas de direitos e ajustes fiscais nos países mais afetados, o senhor acredita que este processo de crise pode significar o fim definitivo do Estado de Bem Estar Social?

Não acredito em fins definitivos, nem do capitalismo, nem do estado, nem das políticas de bem estar. Mas como estas novas políticas de austeridade impostas pela Alemanha a todos os países da eurozona estão sendo aplicadas em economias que já estão estagnadas e com altas taxas de desemprego, é como se eles estivessem colocando gasolina na fogueira e apostando numa profunda e prolongada recessão, como fizeram os EUA no início da crise da década de 1930. E o pior é que a própria Alemanha está se auto-aplicando as mesmas políticas de ajuste, o que empurra o conjunto da União Europeia numa direção auto-destrutiva.


José Luís Fiori é cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

CBF presenteia cagão de merda

Escobar dando carteiraço

A distância criada por Dunga em relação a Rede Globo chegou ao fim. Com a demissão do treinador e a chegada de Mano Menezes, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) busca uma reaproximação com a sua grande parceira comercial. Prova disto, segundo a coluna de Ancelmo Góis, do jornal 'O Globo', é a camisa que a Seleção entregará para a equipe do canal como 'desculpas' a Alex Escobar, jornalista da Globo. O presente terá o sobrenome do ofendido.

Para quem não se lembra, após a vitória contra Costa do Marfim, por 3 a 1, na Copa do Mundo, Dunga estava na coletiva de imprensa, quando não gostou de uma atitude de Escobar e começou a insultá-lo de maneira discreta, na sala de imprensa. O entrevero foi prova do momento de distanciamento que a maior rede de televisão do país passava em relação a Seleção.

Outro que será presenteado com uma camisa da seleção canarinho será o Tom Cruise. O ator afirmou no programa 'Fantástico', da Rede Globo, que gostaria de receber o presente. Sabendo disto, a CBF providenciou a peça.

Retirado de Yahoo! Esportes

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Uribe quer a guerra para escapar da prisão

Heinz Dieterich


Lula explicou o paradoxo corretamente. Se o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, quizer melhorar as relações com a Venezuela, porque o Presidente que está de saída, Uribe, gera um conflito potencialmente bélico com Caracas? A resposta a este comportamento contraditório reside na futura situação prisional de ambos os presidentes que compartilham uma longa história criminosa: Uribe está muito próximo da cadeia, Santos estará protegido por mais quatro anos devido ao se status de Presidente.

No expediente criminal de Álvaro Uribe, há dois crimes que estão se tornando a espada de Dâmocles da justiça colombiana e internacional contra o quase ex-presidente. Em 9 e 13 de Julho de 2010, Uribe foi acusado pela primeira vez e diretamente pelos casos de escutas telefônicas e monitoramento de personalidades das altas esferas políticas colombianas. A acusação foi feita pelo ex-Diretor Geral da Área de Inteligência da Polícia Secreta do regime, DAS, Fernando Alonso Tabares Molina. Sendo a justiça colombiana uma honrosa exceção à maioria das justiças classistas corruptas da América Latina, é muito provável que, desta vez, Uribe não escape da responsabilidade de ter criado um proto-estado narcoparamilitar, à sombra do Estado oficial, coordenado a partir da Presidência e do DAS.

Ainda mais grave é que, em 22 de julho deste ano, deputados e senadores do Congresso da República, juntamente com 21 parlamentares europeus e representantes de organizações de Direitos Humanos da Colômbia, constataram no município de La Macarena, Departamento de El Meta, um cemitério clandestino com cerca de 1.500 vítimas das Forças Armadas da Colômbia e seus aparatos paramilitares. A vala comum está localizada junto a uma brigada do Exército que recebeu apoio do Plano Colômbia. A reação de Uribe sobre a descoberta deste cemitério consistiu na seu habitual método de ameaçar e intimidar. Essas acusações, segundo ele, estão sendo feitas por “porta-vozes do terrorismo para poder se recuperar”. Ele esqueceu que com os parlamentares europeus, seus métodos terroristas não irão funcionar.

Hoje em dia está claro que a implementação do “Plano Colômbia” por Uribe, é uma sequência interminável de crimes de lesa-humanidade, moldada segundo o modelo do Holocausto de Washington no Vietnam, com sua Operação Phoenix, que assassinou a 75 mil quadros vietnamitas; o body count, ou seja, a matança de civis em benefício dos soldados e oficiais, que na Colômbia reaparece – com uma taxa de impunidade de 98,5% – como a política de “falsos positivos”; a política de “tirar a água do peixe”, ou seja, isolar o guerrilheiro da população camponesa, que produziu mais de quatro milhões de deslocados e refugiados na Colômbia; e, finalmente, a vã tentativa de destruir a retaguarda do Movimento de Libertação Nacional (Vietminh), que levou à invasão militar do Laos e Camboja e, na Colômbia, à intervenção militar contra o Equador e as planejada agressão contra a Venezuela.

Passo a passo, esses crimes sairão do anonimato criado pelo poder oligárquico colombiano e alcançarão os seus autores, tal como está acontecendo com os assassinos militares e policiais do Cone Sul. Contra Santos já existe um mandado de prisão no Equador, desde 26 de abril de 2010, que só poderá ser neutralizado através de um arranjo político. Se ele não chegar a esse quid pro quo, ficará desprotegido juridicamente uma vez que deixe a presidência.

Quando o ditador Pinochet deixou a presidência do Chile, em 1990, se passaram oito longos anos antes que fosse detido em Londres. Não há dúvida de que o futuro carcerário de Uribe e Santos será resolvido em um prazo mais curto. No entanto, a principal diferença entre eles é que Santos terá quatro anos para se salvar, enquanto Uribe ficará desamparado institucionalmente em dez dias. Por isso, a estratégia de Santos para salvar sua pele será um arranjo político interno e com os vizinhos, o que incluiria um indulto para os violadores dos direitos humanos nas últimas décadas.

Uribe não tem mais essa oportunidade. Por isso, busca a sua salvação em um perigoso cenário de conflito e guerra, que coincide estruturalmente com os interesses de Washington. Qual das duas estratégias será imposta dependerá de uma série de fatores internacionais (Irã, Coréia), da firmeza dos governos progressistas latinoamericanos diante de Washington e da atitude dos povos da América Latina.

De ANNCOL

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Bandidagem invasora de terra em SP

Num esquemão com Serra, Globo se apodera de terra pública para depois montar palanque para Serra com construção de escola que serve a seus interesses.
Vídeo do R7, cavocado por Erick, do Aldeia Gaulesa. Essa briga da Record com a Globo põe à descoberto muita coisa...