quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sobre o agente da CIA preso em Cuba




Neste artigo, Eva Golinger * (acima) desmascara a farsa do "pobre cidadão americano que distribuía tecnologia aos cubanos que acabou detido"




Funcionário de uma empresa de fachada da CIA e da USAID que financia a desestabilização na Venezuela foi detido em Cuba ao repartir recursos para a contrarrevolução.

Há poucas horas foi confirmada pelo governo de Cuba a detenção de um cidadão estadunidense ocorrida no dia 5 de dezembro passado. Segundo o presidente de Cuba, Raúl Castro, "o inimigo está tão ativo como sempre esteve, mostra disso é a detenção em dias passados de um cidadão norteamericano, eufemisticamente denominado em declarações dos portavozes do Departamento de Estado dos EUA como ‘contratista’ de seu governo".
O presidente Raúl Castro confirmou o anteriormente revelado pelo New York Times em um artigo publicado no dia 12 de dezembro. A pessoa detida aparentemente estava trabalhando para a empresa contratista Development Alternatives, Inc. (DAI), em um programa da USAID. A DAI confirmou que um de seus subcontratistas foi detido em Cuba. Segundo o presidente Castro, o estadunidense estava envolvido no "abastecimento ilegal com sofisticados meios de comunicação via satélite a agrupações da ‘sociedade civil’ que aspiram organizar-se contra nosso povo".
O New York Times havia revelado que um contratista do governo dos Estados Unidos foi detido em Havana no dia 5 de dezembro passado enquanto repartia telefones celulares, computadores e outros equipamentos de comunicação a grupos da contrarrevolução. Development Alternatives, Inc. é um dos grandes contratistas do Departamento de Estado, o Pentágono e a Agência Internacional do Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID).
No ano passado, o Congresso de Estados Unidos aprovou 40 milhões de dólares para "promover a transição para a democracia" em Cuba. A DAI foi outorgado o contrato principal, o "Programa de Democracia em Cuba e Planejamento de Contingência", que, também autorizava o emprego de subcontratistas supevisionados pela empresa DAI. O uso de uma cadeia de organismos é um mecanismo empregado pela CIA para canalizar e filtrar fundos e apoio político e estratégico a grupos e pessoas que promovem sua agenda no exterior.

A DAI NA VENEZUELA

A DAI foi contratado em junho de 2002 pela USAID para administrar um contrato multimilionário na Venezuela, justamente dois meses depois do fracasso do Golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez. Antes dessa data, a USAID não operava na Venezuela, nem mantinha escritórios no país. O DAI foi encarregado de abrir o Escritório para as Iniciativas para uma Transição (OTI, em inglês), um braço especializado da USAID, encarregado de distribuir fundos multimilionários a organizações favoráveis aos interesses de Washington em países estrategicamente importantes que transitam por uma crise política.

O primeiro contrato entre a USAID e a DAI para suas operações na Venezuela autorizava o uso de 10 milhões de dólares por um período de dois anos. A DAI abriu suas portas no setor financeiro de Caracas, El Rosal, em agosto de 2002, e começou imediatamente a financiar os grupos que há poucos meses haviam executado -sem êxito- o golpe de Estado contra o presidente Chávez. Os fundos da USAID?DAI na Venezuela foram repartidos durante esse primeiro ano a organizações como Fedecámaras e a Confederação dos Trabalhadores Venzuelanos (CTV), dois dos principais grupos que executaram o golpe em abril de 2002 e que logo encabeçaram uma sabotagem econômica, paralisação petroleira e guerra midiática com o propósito de derrocar ao governo venezuelano. Um contrato entre a DAI e estas organizações, em dezembro de 2002, outorgava mais de 10 mil dólares para o desenho de propaganda em rádio e TV a favor da Coordenadora Democrática, a coalizão das forças opositoras contra o presidente Chávez.

Em fevereiro de 2003, a DAI começou a financiar a um grupo recém criado de nome Súmate, liderado por María Corina Machado, que foi um dos assinantes do "Decreto Carmona", o famoso decreto que dissolveu todas as instituições democráticas da Venezuela -desde a Assembleia Nacional, o poder Executivo e o Tribunal Supremo de Justiça, entre outras- durante o golpe de Estado de abril de 2002. Súmate logo converteu-se no principal organismo da oposição que desenhava e coordenava as campanhas eleitorais, incluindo o referendo revocatório contra o presidente Chávez, em agosto de 2004. Os três principais organismos de Washington que operavam na Venezuela naquele momento eram: a USAID, a DAI e o National Endowment for Democracy (NED), investindo mais de 9 milhões de dólares em campanha da oposição durante esse referendo, sem êxito.

A USAID na Venezuela, que ainda mantém sua principal presença através da OTI e da DAI, tinha previsto uma estadia de não mais do que dois anos no país. O chefe da OTI na Venezuela naquela época, Ronald Ulrich, afirmou publicamente ao começar seus trabalhos, em agosto de 2002 que "Este programa será concluído em dois anos, como aconteceu com iniciativas similares em outros países; o escritório será fechado após transcorrido esse tempo". Tecnicamente,m as OTI são equipes de resposta rápida da USAID, equipados com fundos líquidos de altas quantidades e um pessoal especializado para "resolver uma crise" de maneira favorável para Washington. No documento mediante o qual a operação da OTI foi estabelecida na Venezuela, explicava-se claramente os objetivos: "Nos últimos meses, sua popularidade decresceu e as tensões políticas incrementaram-se dramaticamente, pois o presidente Chávez colocou em prática várias reformas controvertidas. A situação atual aponta a uma participação rápida do governo dos Estados Unidos".

A OTI ainda permanece na Venezuela até hoje, tal como a DAI com seu principal contratista; porém, agora com quatro entidades mais que partilham a torta multimilionária da USAID em Caracas: o Instituto Republicano Internacional (IRI), o Instituto Democrata Nacional (NDI), Freedom House, e a PanAmerican Development Foudation (PADF). Dos 64 grupos que financiavam em 2004 com milhões de dólares anuais, hoje financiam a mais de 533 organizações, partidos políticos, programas e projetos da oposição com um orçamento acima dos 7 milhões de dólares anuais. Não somente permaneceu no país, como também cresceu. Obviamente, isso se deve a uma razão muito simples: ainda não alcançaram seu objetivo original, que é derrocar ao governo de Hugo Chávez.

DEVELOPMENT ALTERNATIVES, INC. É UMA FACHADA DA CIA

Agora aparece em Cuba este organismo da desestabilização, com fundos multimilionários destinados à destruição da Revolução Cubana. O antigo funcionário da CIA, Phillip Agee, afirmou que a DAI, tanto quanto a USAID e a NED, "São instrumentos da embaixada dos Estados Unidos e detrás dessas organizações está a CIA". De fato, o contrato da USAID com a DAI na Venezuela dizia especificamente que "O representante local manterá uma estreita colaboração e garantir que o programa mantenha sua coerência com a política exterior dos Estados Unidos". Não deixa dúvida sobre seu trabalho de captação de agentes a serviço dos interesses de Washington, nem que sua presença e suas atividades são diretamente coordenadas pela embaixada de Washington.

A detenção do funcionário da DAI é um passo muito importante para frear as ações de desestabilização dentro de Cuba, dirigidas por Washington. Também comprova que não existe nenhuma mudança com a administração de Barack Obama enquanto à política de Washington contra Cuba - continuam empregando e utilizando as mesmas táticas de espionagem, infiltração e subversão, tal como em anos anteriores.

A VENEZUELA TAMBÉM PODE EXPULSAR A DAÍ DO PAÍS

Agora que Cuba desvendou o trabalho de inteligência (captação de agentes, infiltração nos grupos políticos e entrega de recursos para promover a desestabilização - são atividades de inteligência) que a DAI realizava na ilha caribenha, o governo da Venezuela deve responder de maneira contundente para sacudir de seu país esta grave ameaça interna que durante sete anos e meio alimentaram com mais de 50 milhões de dólares à desestabilização e a oposição interna.

Não é demais comentar que nos Estados Unidos existem cinco cidadãos cubanos presos por supostos atos de espionagem, apesar de que suas ações não atentavam contra os interesses estadunidenses. Pelo contrário, o funcionário detido da DAI -uma fachada da CIA- sim, estava atentando contra os interesses de Cuba, promovendo a desestabilização interna e repartindo -de forma ilegal- materiais e recursos de Washington que estavam destinados a alimentar um conflito que provocaria "uma transição política" favorável à agenda dos Estados Unidos.

Development Alternatives, Inc. é um dos maiores contratistas de Washington do mundo. Atualmente, tem um contrato de 50 milhões de dólares no Afeganistão. Na América Latina, opera na Bolívia, Brasil, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Peru, República Dominicana e Venezuela.

* Advogada venezuelano-estadunidense, dentre vários escritos, publicou El Codigo Chávez, que trata do golpe frustrado de 2002, desferido pela direita facista da Venezuela, com apoio dos EUA.

Artigo pescado de ADITAL

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