segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Comentando notícia de "O Globo", sobre o agente estadunidense preso em Cuba

E a cobertura da grande mídia sobre o que acontece em Cuba segue distorcida. Neste caso, além de distorcida, ridícula. Vejamos esta notícia da agência Reuters, publicada em “O Globo”.

Entenda as peculiaridades da comunicação dentro do regime implantado no Brasil.

“O Globo” é um jornal de grande circulação no Brasil, pertencente à família Marinho. No regime atualmente instaurado nesse país, em nome da “democracia”, apenas as famílias ricas detém os meios de comunicação de massa.

Vamos colocar nossos comentários em negrito. 

Segue a notícia:

Cuba buscará pena de 20 anos de prisão para funcionário dos EUA

Promotores cubanos tentarão conseguir uma condenação de 20 anos de prisão para o funcionário norte-americano Alan Gross, acusado de espionagem num caso que congelou as já tensas relações entre Cuba e Estados Unidos, afirmou o jornal Granma, do Partido Comunista, em sua edição online na sexta-feira.
Em comunicado oficial, o jornal disse que Gross era acusado de "Atos Contra a Independência e Integridade Territorial do Estado" e que diplomatas norte-americanos foram avisados sobre da acusação.
O jornal afirmou que uma data para o julgamento deve ser agendada em breve para Gross, que está preso desde dezembro de 2009.
Os Estados Unidos disseram que Gross estava apenas fornecendo equipamentos de comunicação por satélite e acesso à Internet a grupos judeus em Cuba e que não era um espião.

Sim, os EUA alegaram isso, no entanto, se a Reuters, ou o jornal da família Marinho, realmente exercessem a sua tão cacarejada imparcialidade, já teriam constatado e divulgado que esse sujeito teve uma atuação no mínimo criminosa em Cuba. Organizando e instrumentalizando tecnologicamente grupos opositores de direita, descaradamente financiados pelo governo estadunidense. 

Ele trabalhava num programa norte-americano para promover a mudança política em Cuba, o que, para o governo comunista da ilha é uma subversão.

Associação a uma potência estrangeira para derrocar o governo de um país é uma subversão não só para o governo comunista da ilha, mas para qualquer governo do mundo! Em países como EUA, França e Inglaterra, isso configura crime de alta traição ao Estado. É espantoso o tom asséptico através do qual Reuters/O Globo abordam uma descarada ingerência estrangeira na política cubana. E o que é pior; praticamente transformam o agente Alan Gross em mais uma “vítima do regime”.

Washington já pediu sua libertação e disse que não haveria grandes mudanças nas relações diplomáticas até que Gross, de 61 anos, fosse libertado. 

Ah, sim, claro, olhando assim, até poderíamos inferir que o bloqueio econômico é culpa da “política intransigente” da ilha, ao colocar, atrás das grades, traidores e agentes estrangeiros.  O pior é que esse indivíduo vai desfrutar, inclusive,  de um julgamento justo. Enquanto isso, a mídia corporativa internacional  vai seguir chamando Cuba de "ditadura".
Se Cuba seguisse a cartilha da "maior democracia do mundo" para casos como esse,  o Sr Gross não teria tanta sorte.
Xilindró nele!


Link da notícia original

5 comentários:

  1. Artigo do professor Vladmir Safatle publicado hoje na Folha


    E Cuba?

    Há uma compulsão de repetição no debate político brasileiro. Todas as vezes em que se levantam questões sobre o apoio do Ocidente a ditaduras, sobre o bloqueio do dever de memória no Brasil, o desrespeito aos direitos humanos nos EUA e na Europa, sempre se ouve a pergunta: "E Cuba?"


    Um pouco como se tal pergunta parodiasse o dito de Max Horkheimer: "Quem não está disposto a criticar o capitalismo deve se calar sobre a União Soviética", fornecendo a versão "quem não está disposto a criticar Cuba deve se calar sobre o resto do mundo".


    Mas é interessante perceber como os amigos de Cuba não procuram, assim, ampliar o espectro do debate sobre democracia e direitos humanos. Na verdade, querem neutralizá-lo com o raciocínio: "Pare de falar sobre o que não gosto de ouvir, senão te lembrarei aquilo que quer esquecer".


    Contra essa lógica da neutralização, só há uma saída: falar aquilo que, no fundo, eles não querem falar, ou seja, ampliar o debate também para Cuba, sem fechá-lo para outros casos.


    De fato, há certos setores minoritários da esquerda nacional que procuram justificar o injustificável. Cuba é, no máximo, uma revolução popular que há muito entrou em estado de degenerescência. Hoje, não passa de uma ditadura que só serve para nos lembrar que mesmo revoluções verdadeiras podem terminar mal.


    Há dois artifícios retóricos usados para relativizar o fato: creditar o fechamento do regime ao embargo norte-americano e minorá-lo dizendo que, ao menos, o governo cubano cuidou dos indicadores sociais de saúde e educação. Os dois artifícios são desonestos.


    O primeiro consiste em dizer que problemas estratégicos (a luta contra o embargo) submetem princípios norteadores da luta política (o aprofundamento da liberdade). O segundo parece o argumento dos apoiadores de Pinochet : impomos uma ditadura, mas aumentamos a riqueza (no caso cubano, sem grandes desigualdades). Mas riqueza social sem democracia real continua sendo miséria política.


    Nesse sentido, Cuba nos mostra que um acontecimento verdadeiro não garante a sequência de suas consequências. Mais do que um projeto claro, as revoluções são o ato violento de abertura de novas sequências. Um ato que mobiliza expectativas contraditórias, que coloca em circulação valores cuja determinação de sua significação será objeto de embates também violentos.


    Por isso, uma revolução é uma causa a partir da qual não é possível derivar, com segurança, qual série de consequências virá. Quando as consequências são ruins, a crítica deve ser radical. Por sinal, os melhores setores da esquerda sempre fizeram isso. Eles nos lembram que o verdadeiro compromisso é com uma democracia de forte participação popular e poder instituinte soberano, não com ditaduras.

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  2. Não achei fraco. Vladimir Safatle é professor de filosofia da USP e é um cara de esquerda. Pelo menos, como se vê, ele não é um reacionário de esquerda.

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  3. Opa,a parte final do texto é justamente o que Cuba é.O cara é prof é ainda não enxergou isso?

    Quem da audiência para um meio que apoiou nossa ditadura e faz parte de mais uma ,defendendo outas duas,não é de esquerda.

    E ainda chama nós de reacionários...

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  4. Alias tudo tem que enviar Cuba no meio? Por que incomodam com um páis "pobre" sem importância para o mundo capitalista?

    Tem uma "revolução" é no Egito e não em Cuba.A, mais os reacinários só querem saber de falar de "falta" de democracia em Cuba o resto é ditadura amiga. Disfarça é so quando não da mais que gente fala dobre isso e no maximo são regimes autoritários.

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