Por
Haroldo Lima *
Não deixa de ser instigante compreender por que os Estados Unidos não aceitam os termos de um acordo que no geral incorpora o que eles exigiam do Irã pouco tempo atrás, quanto ao controle do urânio enriquecido
A má vontade com o Irã, que leva até à desconsideração dos bem sucedidos esforços diplomáticos de duas nações soberanas, Brasil e Turquia, ambos membros do Conselho de Segurança da ONU, revela, ou sugere, a existência de algo mais que o `problema nuclear` contrariando os interesses americanos. A visita que fiz à província de Fars, no Irã, por ocasião da visita do presidente Lula àquele país, deu-me elementos para uma percepção mais aguda da imediata reação americana no caso.
Primeiro, fixemos que Irã é o nome atual da Pérsia e que Fars é a província onde está Pasárgada, a primeira capital do antigo império persa, fundado por Ciro II, o Grande – imperador persa que conquistou a Babilônia em 539 a.C. e libertou os judeus para reconstruírem Jerusalém. A cidade, onde se encontra a tumba de Ciro, passou a ser mais conhecida no Brasil a partir do poema de Manuel Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada.
Pois é em Fars, região prenhe de história e simbolismo, que os iranianos me levaram para conhecer a Zona Econômica Especial de Energia, um enorme complexo projetado para 24 fábricas de processamento de gás e 23 usinas petroquímicas – estando, algumas, já em funcionamento. O projeto é apresentado como sendo, ou será, a maior concentração no planeta de fábricas para transformação de gás natural em eteno, propeno e demais petroquímicos.
Em síntese, tudo está planejado e sendo feito para transformar o Irã de grande exportador de petróleo e gás in natura em grande processador desses hidrocarbonetos e exportador de produtos petroquímicos, de alto valor agregado. A China, nesse e em outros projetos, estaria investindo cerca de US$ 70 bilhões.
O que está previsto, além do que já está concluído, é muito arrojado. A Zona Econômica Especial de Energia está sendo instalada em um setor de Fars onde, há poucos anos, só existia deserto e mar. Hoje, além das amplas instalações industriais, há projetos urbanísticos, edifícios, farta plantação de árvores especiais, um aeroporto internacional. Uma montanha de areia e pedra, situada defronte do núcleo da Zona, está sendo transplantada para o mar, que está sendo aterrado em grandes dimensões, e onde já está operando, e ainda se encontra em expansão, um porto com grande poder de atracação.
Politicamente, a Zona Especial funciona de forma autônoma, com um comitê dirigente que inclui funcionários do Estado e presidentes de algumas das grandes empresas que lá atuam. Até a autorização para entrada de visitante estrangeiro pode ser conseguida lá mesmo, sem intervenção de Teerã.
O que já opera na Zona Econômica Especial de Energia – e, mais ainda, o que está previsto nos projetos em execução – envolve muitos equipamentos, tecnologia avançada, muita construção civil e, sobretudo, o controle de enorme quantidade de hidrocarbonetos, oriunda do gás natural, a ser usado como matéria-prima para as petroquímicas.
Se levarmos em conta que o Irã detém a segunda maior reserva de petróleo e de gás do mundo – 138 bilhões de barris de petróleo e 187 bilhões de barris de gás, segundo dados de 2008 (o Brasil tem 13 bilhões de barris de petróleo, o pré-sal, algo em torno de 50 bilhões, e 2,3 bilhões de barris de gás) – produz 4,4 milhões de barris de petróleo por dia (o Brasil produz 2 milhões) e que tudo isso, repito, o muito que já está feito e o maior ainda que está planejado, não tem qualquer participação americana, percebe-se que algo mais deve estar tirando o sono dos EUA do que a hipotética ameaça advinda do acesso do Irã a urânio enriquecido.
* Haroldo Lima é diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis)
Reproduzido de AEPET
kkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirnum foi nada disso que eu perguntei
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