terça-feira, 24 de novembro de 2009

E a direita bota as mãos no DCE da UFRGS

Depois de muito tempo tentando, a direita finalmente levou o DCE da UFRGS. O presidente eleito para a próxima gestão se chama Renan Pretto e pertence ao PP. O mais difícil de engolir nessa história toda é que a direita não ganhou apenas por sua competência. E afirmo que eles são muito competentes nas articulações políticas, e isso não tem nada a ver com ideologia – os que ganharam as eleições dessa semana são conservadores, reacionários, racistas, elitistas. O pior é que não foi simplesmente a direita que ganhou, foi a esquerda que perdeu.
A esquerda não só perdeu, a esquerda entregou. Por absoluta incompetência e dificuldade de diálogo. Parece absurdo, mas em uma universidade com o potencial da UFRGS, com tanta gente de qualidade, que pensa parecido em tantas coisas e tem boas ideias, havia uma chapa da direita e três da esquerda. Duas delas do PSOL. E não me venham com essa história de que DCE não tem que ser vinculado a partido, todas as chapas concorrentes têm seus vínculos partidários. Não apenas com os partidos, mas com suas tendências internas.
Aliás, que a chapa 3, a da direita, a eleita, é vinculada ao PP, embora seu slogan pregue o apartidarismo. Chega a fazer rir a Página 10 da Zero Hora de hoje, quando a Rosane de Oliveira, logo antes de falar na defesa de política apartidárias de Renan Pretto, apresenta a fala do deputado Jerônimo Goergen, do PP, que está “empolgadíssimo com o resultado”, segundo a jornalista: “Conseguimos derrotar o PT, o PCdoB e o PSOL. Este é um momento histórico”. Muito isento de política partidária.
E a esquerda, em vez de se unir por suas semelhanças, se divide por suas diferenças, muito menores do que as semelhanças. É a velha história: quando o debate se dá no campo ideológico, é muito mais complicado sustentar as afinidades. As desavenças gritam. Na direita, o que a une são os interesses classistas. E aí é muito mais fácil permanecer unido. E muito mais inteligente.
Então, o que fez com que a direita ganhasse, por uma diferença ridícula de 35 votos, foi essa fragmentação da esquerda, incapaz de se unir. Até uma tendência interna do PSOL rachou. O Enlace ficou metade na chapa 1 e metade na 2. Chega a dar raiva que gente tão inteligente e com propostas tão boas seja tão idiota nesse aspecto – perdoem as ofensas, mas estou realmente escrevendo com raiva desse resultado. Como a esquerda pode ser tão incapaz de dialogar? É burrice se dividir, não é óbvio?
Fica, no fim das contas, a esperança de que se aprenda alguma coisa com esse resultado.
Quando terminei de escrever o post, entrei no blog Cão Uivador e achei esse texto. As ideias são exatamente as mesmas, então indico a leitura.

Retirado do Blog interpretar

2 comentários:

  1. Chico,

    Tenho muito a dizer sobre esse texto, tenho vivido o processo de eleição intensamente, como tinha conversado com vc já, aqui na Unicamp.
    Sinceramente, alguns setores da esquerda estão menos interessados em pôr em prática qualquer ideal que em chegar ao poder, como vi por aqui na Unicamp. E aí, qualquer diferença besta transforma semelhantes em opostos, dividindo o pessoal, transformando-se em campo de disputas chantagistas e nojentas, que, na minha visão, são extremamente anti-revolucionárias.

    Apartidarismo, no sentido de ser contra a instituição partidária, é uma posição corrente em lugares em que a instituição partidária se apropria do movimento estudantil não para brigar pelas causas pregadas em seu discurso, nem para brigar pela categoria estudantil, e sim para usar o aparato do movimento para colocar e tirar gente do poder, muitas vezes usando de coorupção suja e sem nenhum diálogo com a base. Eu não sou apartidária, mas tenho sempre um pé atrás com pessoas de partidos que não vejo em mobilizações. Para mim, esquerda que é esquerda está no movimento, independente de ser de partido ou não, e não para dar linha nele, guiá-lo e moldá-lo(com o maldito discurso da vanguarda!!!), mas como parte integrante. Pessoas de partidos que são assim, eu respeito e tenho ao lado, milito, discuto, e adoro; diferente daquela galera que te contei há pouco, da galera do PSOL daqui(que se diz revolucionária, mas na hora de fazer greve nunca vota a favor), da galera do PSTU que é conivente com a picaretagem das eleições daqui, e se faz de oposição mas sempre que aparece alguém para denunciar as picaretagens do PSOL, eles defendem...Enfim...Eu não considero a galera do DCE daqui esquerda, para mim todos têm a síndrome do violinista: pegam com a esquerda, tocam com a direita....

    Agora, é obviamente ridículo um babaca do PP dizer que é apartidário. Faça-me o favor! Fico triste de saber que a UFRGS está na mão de direitosos...triste mesmo. Enfim...

    Sigamos na luta!

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  2. A questão do DCE ter vinculos ou não com a política partidária, é que frequentemente se confundem os espaços. Particularmente não vejo a necessidade de um DCE "ter que" aderir posturas de esquerda ou direita, penso que seria mais interessante se conseguisse congregar pontos de vistas, que nem nesse estranho critério de "direita e esquerda" cabem.
    Também fiz parte do processo eleitoral que ocorreu na Unicamp, inclusive soube do blog pela Isa. Os espaços são dominados, muito mais, para serem um aparato de poder e poder deliberar por greves, utilizar o repasse, fazer manifestações diversas "como toca o partido", do que para , em algum mínimo, tentar construir uma política eficaz para a mudança da Universidade, para que ela se torne efetivamente "Pública", pq de "público" a Unicamp ainda me parece um tanto distante.
    Aqui, debatemos com as chapas "dos partidos" questões de "forma" de se construir o movimento estudantil, para q sejam efetivas, a cada ano que passa as medidas do movimento são mais frágeis e tratadas como triviais.
    Congregam poucas pessoas, minorias apenas participam, e a Reitoria se aproveita de toda a antipatia que se construiu até mesmo entre os alunos para massacrar quem sobrou.
    É uma situação complicada - parece que o discurso deles da mais aval e força para a direita, que temos sorte de que a direita não se organizou como aí no RS.

    Gostei do blog, estou acompanhando.

    Saudações,

    Thiago

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