Se a ONU em sua formação e funcionamento é altamente questionável, a OEA, acreditem, faz a sucessora da Liga das Nações parecer fichinha em termos de equívocos, para não dizer outra coisa.
O Blog Na Práxis fatiou a matéria pescada do Granma em 6 partes, as quais serão publicadas nos próximos dias.
A matéria foi escrita por Oscar Sánchez Serra:
A Vergonhosa História da OEA - PARTE 1
Não foi até o último quarto do século 19 que essa filosofia pôde pôr-se em prática, quando a indústria estadunidense cresceu como nenhuma outra, até se tornar uma potência com ascensão acelerada, com o qual pretendia não só dominar o continente, mas também criar as condições para se lançar à luta por uma nova partilha do mundo.
No final de 1889, o governo norte-americano convocou a Primeira Conferência Pan-Americana, que foi o ponto de partida do "pan-americanismo", visto como o domínio econômico e político da América sob uma suposta "unidade continental". Isso levava à atualização da Doutrina Monroe, no momento em que o capitalismo norte-americano chegava a sua fase imperialista. José Martí, testemunha excepcional do surgimento do monstro imperialista, perguntava-se a propósito daquela Conferência: Para que ir de aliados, no melhor da juventude, na batalha que os EUA se preparam para travar com o resto do mundo? E tinha razão, entre 1899 e 1945, durante oito conferências similares, três reuniões de consulta e várias conferências sobre temas especiais, foi-se estabelecendo o avanço da penetração econômica, política e militar dos EUA na América Latina.
AUGE DO PAN-AMERICANISMO MONROÍSTA
No final da Segunda Guerra Mundial, da qual os EUA saíram beneficiados, começa uma etapa de auge do Pan-americanismo e do Sistema Interamericano que vai desde a Conferência de Chapultepec, em 1945, passando pela criação da OEA, em 1948, até a invasão à República Dominicana, em 1965, consolidando-se a subordinação dos governos do continente à política externa dos EUA.
Por tal motivo, a Conferência Interamericana sobre Problemas da Guerra e da Paz, em Chapultepec, em março de 1945, teve um objetivo político definido: juntar os países da região para enfrentar o processo que viria com a criação da ONU.
Em consequência disso, na Conferência de São Francisco, em abril de 1945, na qual foi fundada a ONU, a diplomacia norte-americana, apoiada pelos países latino-americanos, defendeu a "autonomia" para o Sistema Interamericano e conseguiu que no artigo 51 da Carta da organização mundial se preservasse a solução das controvérsias mediante métodos e sistemas "americanos". A interpretação do Conselho Diretivo da União Pan-Americana foi que tal Carta nasceu compatível com o Sistema Interamericano e a Ata de Chapultepec.
Em agosto de 1947, a Conferência Pan-Americana do Rio de Janeiro aprovou uma resolução que deu origem à ferramenta que daria vida à cláusula de permissividade arrancada à ONU: o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que reafirmava o princípio de "solidariedade" continental utilizado por Washington, com vista a enfrentar qualquer situação que pusesse em perigo "sua paz" na América e adotar as medidas necessárias, inclusive, o uso da força. Com o TIAR, foi imposta a decisão ianque no continente, constituindo uma ameaça permanente para a soberania dos países latino-americanos.
Entre 30 de março e 2 de maio de 1948, a Conferência Internacional Americana de Bogotá, deu vida à Organização dos Estados Americanos (OEA). Quando se realizava essa reunião, foi assassinado o líder liberal colombiano Jorge E. Gaitán, com muito arraigo popular, fato que motivou a grande revolta conhecida como o "Bogotazo", brutalmente reprimida e que serviu para manipular o curso e os resultados da Conferência, pois os EUA promoveram a ameaça que significava para a democracia o "auge" da União Soviética e do comunismo, que culpavam pelas mortes do Bogotazo.
Mas, tanto a Conferência do Rio quanto a de Bogotá agravaram os problemas econômicos na América Latina, cujos países, — entusiasmados com o Plano Marshall para a Europa — começavam a exigir um de assistência para a região. Contudo, o próprio secretário de Estado, George Marshall encarregou-se de defraudá-los.
Da discussão e adoção da Carta da OEA surgiu um extenso documento de 112 artigos, assinado pelos 21 países participantes do encontro em Bogotá. A Carta aprovou alguns dos princípios cardinais e justos do Direito Internacional, porém, a pedido de Washington, incluíram-lhe disposições que transferiram à OEA os postulados principais do TIAR, por tal motivo, desde seu nascimento, a OEA foi o instrumento jurídico ideal para a dominação estadunidense no continente.
Sua retórica diplomática relativa aos postulados sobre a independência e soberania das nações e os direitos do homem e dos povos, ficaram como letra morta.
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